Todas são de fácil entendimento, à exceção de uma, a Regra 11, chamada de “Impedimento”.
A compreensão dessa infração, para o leigo, é difícil. E, mesmo para os entendidos, execução e acerto da mesma causam polêmica jogo após jogo.
Precisamos de algo assim, que gera tanta discussão (entre os participantes do jogo e entre os não participantes diretos, como comentaristas e torcedores) e que tem provocado cada vez mais paralisações nas partidas, para que o VAR (árbitro assistente de vídeo) faça a checagem e dê o veredicto?
Diz a regra que “um jogador estará em posição de impedimento quando qualquer parte de sua cabeça, corpo ou pés estiver na metade do campo adversário (excluindo a linha de meio de campo) e se qualquer parte de sua cabeça, corpo ou pés estiver mais próximo da linha de meta adversária do que a bola e o penúltimo adversário. As mãos e os braços dos jogadores, inclusive dos goleiros, não são considerados”.
Diz também que “um jogador não se encontrará em posição de impedimento quando estiver em linha com o penúltimo adversário ou os dois últimos adversários”.
Duvido que alguém sem familiaridade com o futebol diga de imediato “entendi” ao fazer a leitura desses fragmentos. Quem acompanha o esporte geralmente consegue apontar quando um atleta está ou não impedido (fora de jogo) –nem sempre com convicção.
Se acabasse aí, já há motivo para propor o fim da norma. Porém a Regra 11 se estende por mais vários parágrafos, que buscam explicar as situações em que o impedimento deve ou não ser marcado –em resumo, as exceções à regra.
A mais recente polêmica, que ganhou corpo por ter ocorrido em uma final, ocorreu no domingo (10), no estádio Giuseppe Meazza (San Siro), em Milão.
Espanha e França duelavam para decidir quem ficaria com o troféu da segunda edição da Nations League (Liga das Nações).
Aos 35 minutos do segundo tempo, com o placar mostrando 1 a 1, os franceses atacam. Theo Hernández lança a bola para Mbappé, que, adiantado, a recebe nas costas de Eric García, invade a área e chuta para vencer o goleiro Unai Simón.
Ao ver o replay, imediatamente decretei: impedimento. O VAR foi acionado, e o gol, para minha surpresa, confirmado pelo árbitro de campo, o inglês Anthony Taylor. O 2 a 1 deu à França o título inédito.
Encerrada a partida, veio a explicação para a validação do gol. Eric García, ao tentar cortar o passe de Theo Hernández, desviou levemente a bola, o que, na interpretação da arbitragem, deu início a uma nova jogada, tirando portanto Mbappé da posição irregular.
É uma justificativa válida, porém a regra é no mínimo mal escrita, tanto que “o início de uma nova jogada” nem é citado.
Eis o trecho ao qual a arbitragem recorre, na redação em inglês: “A player in an offside position receiving the ball from an opponent who deliberately plays the ball, including by deliberate handball, is not considered to have gained an advantage, unless it was a deliberate save by any oponent”.
A versão disponibilizada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) à qual tive acesso é esta: “Um jogador em posição de impedimento que receber a bola jogada deliberadamente por um adversário (exceto quando se tratar de uma defesa deliberada) não deve ser punido (não ganha vantagem)”.
Seguindo estritamente essa recomendação, a que está em português, o impedimento de Mbappé teria de ser marcado, já que ele de forma alguma recebeu a bola deliberadamente (intencionalmente) de Eric García.
O foco a ser destrinchado na redação em inglês é o “deliberately plays the ball”, que pode ser entendido como “propositalmente ir na bola” para participar da jogada. Isso Eric García fez. Ele tentou, sem sucesso, interceptar o passe. E, como resvalou na bola, deu condição de jogo a Mbappé.
O mais intrigante é que, se Eric García não tivesse feito nada (deixado a bola passar) ou não tivesse tocado na bola (mesmo tentando), Mbappé estaria em impedimento.
Caso o espanhol abdicasse de sua função de zagueiro (impedir o ataque adversário), seria beneficiado. Ao agir como zagueiro, acabou prejudicado.
Esse nonsense traz inconformismo, conforme expressou Sergio Busquets, o capitão da Espanha, à RTVE.
“Mbappé estava impedido, mas o juiz disse que Eric foi na bola e que isso deu início a uma nova jogada. Isso não faz sentido. Ele tentou interceptar a bola porque Mbappé estava ali e presumiu que [Mbappé] estava em posição legal, então fez o que qualquer defensor faria.”
Para Busquets e para muita gente não faz sentido, porém o ex-árbitro Iturralde González assegurou ao jornal AS que faz.
“Ele [Eric García] se joga no chão para afastar a bola e, se ele toca nela, o gol deve ser validado. Eric está no chão, faz contato [com a bola], e isso favoreceu Mbappé.”
This is why Mbappe’s goal was NOT offside. The media only shows you one side of the story.#mbappe #france #spain #NationsLeague @KMbappe pic.twitter.com/JwIeopi8xo
— losblancosx (@losblancosx_) October 11, 2021
Toda essa polêmica é necessária, assim como dezenas e dezenas de outras relacionadas ao impedimento?
Porque simplesmente não acabar com uma regra que traz tanta discussão e incerteza? Extinguindo-se a Regra 11, fim de papo. Acabam-se as controvérsias.
Os contrários a essa ideia dirão: se o impedimento acabar, vai ter atacante ficando direto “na banheira”, perto do gol rival, à espera de receber a bola, livre, para tentar fazer o gol, possivelmente apenas com o goleiro a ser vencido.
Isso pode acontecer. Para evitar, basta que um rival acompanhe o atacante, fique ao seu lado o tempo todo, como uma segunda sombra.
Será estranho, em um primeiro momento, observar dois jogadores parados perto de uma área enquanto o lance se desenrola em outro setor do campo? Talvez.
Mas, passado um tempo, todos se acostumarão, e caberá aos treinadores traçar estratégias para lidar com a nova situação.
O que é certo é que, abolindo-se o impedimento, o futebol se verá livre do infortúnio de discussões sem fim e, inúmeras vezes, sem conclusão.
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Em tempo: É radical repentinamente excluir o impedimento do futebol? Sim, sem dúvida. Por isso que as autoridades da bola poderiam fazer o experimento em campeonatos de categorias de base, a fim de verificar os resultados, e só depois levar a questão para deliberação do Ifab (International Football Association Board), o órgão que regulamenta as regras do futebol.
]]>Nesse esporte, elas lutam por melhores salários, por melhores condições profissionais (como infraestrutura adequada para treinamento), por mais visibilidade nos meios de comunicação. Por respeito e por reconhecimento.
As conquistas são poucas, vêm a passos lentos, e a diferença escancarada para o universo masculino gera insatisfação.
Uma das queixas recentes partiu de Emma Hayes, treinadora do time feminino do Chelsea, da Inglaterra, um dos clubes mais poderosos do mundo.
Emma tem 44 anos, nunca foi jogadora, porém sua ligação com o futebol é antiga. Desde 2001 comanda equipes –começou no Long Island Lady Riders e passou por Iona College e Chicago Red Stars (todos dos EUA) antes de assumir o Chelsea, em 2012.
Ela reclamou da falta de ferramentas tecnológicas nas partidas do Campeonato Inglês feminino, a saber, o VAR (árbitro assistente de vídeo), com múltiplas funções, e a tecnologia da linha de gol, que indica se a bola entrou ou não na meta.
Esses dois recursos estão disponíveis nos jogos da Premier League, a versão masculina (primeira divisão) do Inglês.
“Todos nos acostumamos com o VAR e a tecnologia na linha do gol, então acho que não tê-los no jogo feminino é como sermos relegadas a cidadãs de segunda classe”, declarou Emma à Sky Sports depois do jogo em que o Chelsea perdeu de 3 a 2 do Arsenal, no dia 5.
O gol de Beth Mead, que ampliou para 3 a 1 a vantagem do Arsenal no segundo tempo, foi irregular. A atacante estava em claro impedimento, não anotado pela bandeirinha. Sem o auxílio da videoarbitragem, o gol foi validado.
A second goal for @bmeado9 at the Emirates!
Watch the #BarclaysFAWSL on @SkySports pic.twitter.com/tjQXhSdTxd
— Barclays FA Women’s Super League (@BarclaysFAWSL) September 5, 2021
“Ela [Beth Mead] estava dois metros à frente”, constatou a técnica do Chelsea. “Devíamos exigir isso [o VAR]. Não devemos esperar padrões mais baixos para o futebol feminino.”
“Dizem que [a tecnologia nos jogos femininos] não é prioridade porque é muito cara. Mas eu considero que estamos vendendo barato nosso produto”, completou Emma.
O VAR é controverso e está longe de resolver todas as falhas da arbitragem de campo. O próprio árbitro assistente de vídeo comete erros, algumas vezes incompreensíveis.
Porém, no caso mencionado por Emma, se houvesse a tecnologia, que almeja evitar “erros claros e óbvios”, não há dúvida de que o gol do Arsenal seria anulado.
Independentemente desse lance, a treinadora do atual bicampeão inglês está coberta de razão.
Em uma sociedade que almeja a igualdade entre os gêneros, a falta do VAR nos campeonatos femininos é relutância inequívoca a esse objetivo.
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Em tempo: No Brasil, a comparação é esta: enquanto o Campeonato Brasileiro masculino da Série A conta com o VAR em todos os jogos (380), o da Série B em 190, o da Série C em 26 e o da Série D (quarta divisão) em 14, o Brasileiro feminino, que já está na decisão (Corinthians x Palmeiras), só pôde tê-lo a partir das semifinais, em um total de seis partidas.
]]>A demora na tomada das decisões do VAR (árbitro assistente de vídeo), várias vezes de dois, três, quatro minutos, torna o jogo moroso, e é chato demais ficar esperando por um veredicto que, vê-se com frequência maior que a desejada, nem sempre é acertado.
O objetivo proposto para a introdução do VAR –corrigir erros claros e óbvios da arbitragem de campo, em situações específicas– não tem sido cumprido.
Para-se o jogo para checar jogadas quando não é necessário. Qualquer coisinha é motivo para haver a verificação por vídeo.
Assim, não é questão de ser contra o emprego do VAR, mas a favor de que ele seja utilizado adequadamente e parcimoniosamente.
Dito isso, é preciso dizer que o VAR fez falta, e muita, em uma partida das eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, no sábado (27), em Sérvia x Portugal.
Em Belgrado, as duas seleções empatavam por 2 a 2, e o jogo estava nos acréscimos do segundo tempo.
Faltando 15 segundos para o fim, o lateral esquerdo Nuno Mendes lançou a bola pelo alto para a área rival, na direção de Cristiano Ronaldo.
Portugal are denied a clear winner in tonight’s match vs Serbia! pic.twitter.com/z8kdNdYdLB
— Onside Football UK (@OnsideUK) March 27, 2021
O cinco vezes melhor do mundo foi mais veloz que o zagueiro Pavlovic e, com precisão, deu um toque na bola antes da chegada do goleiro Dmitrovic, que saiu de forma atabalhoada.
A bola se encaminhava para o gol vazio, ia entrando, quando, com um carrinho, Tadic –por que o meia-atacante, camisa 10, capitão da Sérvia, estava ali, como um beque, àquela hora, não se sabe– afastou a bola.
Na sequência, Bernardo Silva ainda chutou, e de novo Tadic, na pequena área, interceptou o chute.
Reclamação geral dos portugueses, que consideraram que a redonda havia cruzado a linha do gol na tentativa de Cristiano Ronaldo.
O bandeirinha que acompanhava o ataque luso, o holandês Mario Diks, e que estava muito bem posicionado, junto à linha de fundo, não correu para o meio de campo, ou seja, considerou que a bola não tinha entrado.
Estava errado. Pelo menos em um ângulo exibido nos replays percebe-se, sem margem para dúvida, que ela tinha entrado completamente antes da intervenção de Mitrovic.
A reclamação exacerbada rendeu a Cristiano Ronaldo o cartão amarelo. Revoltadíssimo, o camisa 7 recusou-se a ficar em campo. Fez sinais de que sua seleção estava sendo roubada, jogou a tarja de capitão no chão e foi para o vestiário.
O CR7 diria depois, em postagem em rede social, ao enfatizar que se sente orgulho de capitanear Portugal, escreveu que “há momentos muito difíceis com os quais lidar, especialmente quando sentimos que toda uma nação está sendo prejudicada”.
Ao ver o lance após o jogo, o árbitro Danny Makkelie, compatriota de Diks, dirigiu-se até o treinador da seleção lusitana, Fernando Santos, para pedir desculpas pelo erro.
Que, diga-se, não foi dele. Da posição em que estava, ele não tinha como ver se a bola entrara ou não. Se alguém errou, foi Diks.
Se alguém errou mais, foi quem não providenciou para que o VAR estivesse operante nos Bálcãs.
Aliás, nem Sérvia x Portugal teve o VAR, nem nenhum outro confronto das eliminatórias da Europa para o Mundial de 2022.
Que seja apontado então o culpado: a Uefa, entidade máxima do futebol no velho continente e organizadora do qualificatório europeu para a Copa.
Por que não se está usando o famigerado –que, contudo, nesse caso seria utilíssimo– VAR em uma competição importantíssima, cuja perda de pontos (Portugal deveria ter somado três em vez de um) pode acarretar a não ida ao mais relevante torneio de futebol do planeta?
Feito o contato com a Uefa, veio a resposta.
Pensei que seria relacionada a uma questão de desigualdade esportiva, como publicou o jornal espanhol Marca em texto de Gregor Chappelle:
“Devido ao fato de que nem todos os estádios estavam equipados para o uso do VAR (…), considerou-se injusto usar em alguns e não em outros, então as autoridades decidiram não utilizar para assegurar igualdade de condições”.
Mas não. Não houve justificativa nesse sentido, tampouco de ordem financeira, até porque entra muito dinheiro na entidade –o balanço financeiro de 2019, o mais recente, registrou receita de € 3,86 bilhões, ou R$ 26,2 bilhões, mais que o custo (R% 25,5 bilhões) de todas as obras para a Copa de 2014, no Brasil, segundo cálculo do Tribunal de Contas da União.
A Uefa terceirizou a responsabilidade. Eis o que ela afirmou por intermédio de seu departamento de comunicação:
“Em 2019, a Uefa propôs à Fifa a implementação do VAR nas eliminatórias da Copa [de 2022]. O impacto da pandemia [de coronavírus] nas capacidades logística e operacional fez a Uefa (…) desistir da proposta de implementar o VAR no qualificatório europeu”.
Que a Covid é faz mais de ano um gravíssimo problema mundial de saúde, sendo passível de se discutir se jogadores deveriam estar viajando de um país a outro para disputar partidas de futebol, sem dúvida.
Porém, se jogadores podem viajar, por que os responsáveis por atuar no VAR (árbitros e técnicos para operar o equipamento) também não podem?
E, se não faltava dinheiro, por que não se podia instalar os aparelhos necessários em cada estádio, seguindo os protocolos de segurança sanitária de cada país?
Por essas e outras é que o futebol, que tantas emoções positivas nos traz semanalmente, traz também, não raramente, a sensação de desgosto e frustração, por saber que se pode, com um pouco de organização e vontade, evitar ocorrências que prejudiquem de forma escandalosa uma equipe –seja ela qual for.
Mas é mais fácil botar a culpa na Covid.
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Em tempo: Sérvia x Portugal não tinha o árbitro de vídeo e não tinha outro recurso –o qual tem o meu apoio incondicional– que confirmaria o gol de Cristiano Ronaldo: a tecnologia da linha de gol. Passou da linha? O árbitro recebe a informação em seu relógio. Questionada, a Uefa não explicou a razão de ela não estar presente.
]]>Diante do Tigres, do México (o algoz do Palmeiras), a equipe alemã se mostrou muito superior, como era esperado de um time recheado de estrelas, porém o resultado final foi um magro 1 a 0.
E com um gol, de Pavard, irregular. Antes de a bola sobrar para o lateral francês (autor de um dos mais belos tentos da Copa do Mundo de 2018), em dividida pelo alto do goleiro argentino Guzmán com o atacante Lewandowski, a bola tocou no braço do artilheiro polonês.
A atual regra do futebol afirma que, independentemente de ter havido intenção, quando a redonda bate na mão ou no braço de um atleta do time que ataca, em jogada que resulte em gol, esse deve ser anulado.
Não foi. O árbitro uruguaio Esteban Ostojich não viu, nem nenhum de seus assistentes no campo, os bandeirinhas Nicolás Taran e Richard Trinidad, também uruguaios.
E, em princípio, “tudo bem não ver”. (Entre aspas porque o ideal é ver.)
Sendo essa uma partida importantíssima, a mais importante entre todas as disputadas por clubes na temporada, já que definia o campeão do mundo, havia, “dando cobertura”, a visão de quem tudo vê, pois amparado que está por uma dezena de ângulos de todos os lances: o VAR (árbitro assistente de vídeo).
No caso da decisão no estádio Cidade da Educação, em Doha (Qatar), o VAR era Julio Bascuñán, do Chile. Que certamente viu e reviu o lance. Mas não houve a orientação a Ostojich para que o gol fosse invalidado.
E, desse modo, com um gol ilegal, o Bayern amealhou seu quarto título mundial.
Bayern München hand goal vs tigres#MundialDeClubes #BayernMunich pic.twitter.com/TGxqLdUBDp
— Enrique E (@applemx) February 11, 2021
O que aconteceu? Bascuñán, mesmo tendo checado a jogada em várias câmeras, não enxergou que a bola encostou no braço de Lewandowski antes de chegar a Pavard?
Isso é possível, pois mesmo todo o aparato tecnológico pode ser insuficiente para que um ser humano, por mais preparado que seja –e um árbitro em uma final de Mundial sem dúvida é–, enxergue tudo sempre.
Deveria ter visto? Sim, estava lá para isso. Não viu? É o que suponho. Saberemos? Se ele ou a Fifa falarem sobre isso, sim.
Vão falar? Talvez. Mas não será agora.
Tentei obter da Fifa, a entidade máxima do futebol e organizadora do Mundial de Clubes, informações sobre esse gol.
Fiz as seguintes perguntas: Por que, depois de ver o lance em várias câmeras e ângulos, o VAR não recomendou a anulação do gol de Pavard? O que o VAR disse sobre essa jogada? Ele não viu a bola bater no braço de Lewandowski? A Fifa considera que houve erro do VAR nesse lance? Se sim, que providências podem ser tomadas?
Houve resposta. Aliás, nisso a Fifa deve ser elogiada. Não lembro de alguma vez a federação me ter deixado sem resposta. Mesmo que a resposta tenha sido improdutiva ou insatisfatória, como desta vez.
Por meio de um porta-voz, assim ela se manifestou: “A Fifa usualmente não faz comentários referentes às decisões dos árbitros em uma partida. Entretanto devemos lembrar que a Regra 5 [do futebol] diz que ‘o juiz deve ser auxiliado pelo VAR somente quando houver erro claro e óbvio ou um incidente sério não visto’”.
O gol do Bayern foi inicialmente invalidado, com a marcação do impedimento.
O VAR (Bascuñán) reviu esse apontamento, e a verificação concluiu que não havia essa irregularidade, fazendo com que o juiz de campo (Ostojich) voltasse atrás.
O problema é que a bola bateu no braço esquerdo do camisa 9 da equipe bávara. Não se tratava de um “erro claro e óbvio”, mas claramente e obviamente foi um “incidente sério não visto” pelo árbitro principal. E o VAR fez mal a cobertura. Falhou.
Por que falhou? Repito: ainda não há essa resposta.
A Fifa não ajudou, então tentei obter a versão de Bascuñán.
Solicitei por email, tanto à Federação de Futebol do Chile como à Confederação Sul-Americana de Futebol, o contato do árbitro, para que ele pudesse esclarecer. Não chegou resposta nem de uma nem de outra entidade.
Claramente há uma blindagem à arbitragem. Os árbitros não falam sobre suas decisões nos jogos.
Não há norma que impeça que se pronunciem, mas não se quer, por algum motivo, da parte deles e/ou da parte de seus superiores, que eles tenham voz.
Depois de cada jogo, os treinadores falam, jogadores falam (cada vez menos, mas falam). Jamais alguém da equipe de arbitragem fala.
Para aproximar essa questão do leitor, no nosso campeonato, o Brasileiro, que se encerrou nesta quinta (25), em toda rodada comentaristas de rádio, TV e internet tentam explicar marcações (ou não marcações) polêmicas.
São tentativas válidas, mas que acabam se restringindo a achismos, a possibilidades. Não há certezas, e sim confabulações.
Para exemplificar, duas marcações recentes, que ocorreram na segunda metade deste mês.
1) Em São Paulo 1 x 1 Palmeiras, na sexta (19) no Morumbi, Leandro Vuaden deixou de dar um pênalti no palmeirense Luiz Adriano.
Ele pode ter achado que não foi pênalti? Pode. Seria um argumento válido.
Seria. Perde sua força porque em Palmeiras 0 x 2 São Paulo, no primeiro turno, o mesmo Vuaden deu um pênalti para o São Paulo em um lance, se não idêntico, parecidíssimo.
A POLÊMICA DO JOGO! Por entrada dura em Filipe Luís, Rodinei foi expulso de campo após intervenção do VAR. Concorda com a decisão da arbitragem? #Brasileirão2020 pic.twitter.com/fxd19tEs2J
— TNT Sports Brasil (@TNTSportsBR) February 21, 2021
2) Em Flamengo 2 x 1 Internacional, no domingo (21) no Maracanã, Raphael Claus expulsou o lateral Rodinei, do time gaúcho, depois de ter sido chamado pelo VAR, Rodrigo Guarizo do Amaral, para observar jogada dele com o lateral flamenguista Filipe Luís.
Claus não deu nem falta no lance em que Rodinei claramente pisou no tornozelo do adversário. Possivelmente, não viu. Alertado pelo VAR, constatou a falta no equipamento de vídeo que fica na lateral do campo e constatou também que o agressor deveria ser expulso.
Só que em 2019, em um Flamengo x Botafogo, o mesmo Claus, em lance igualmente de pisão, de Cuéllar em Marcinho, até mais violento que o de Rodinei em Filipe Luís (com o agravante de ter pegado por trás), mostrou somente cartão amarelo ao flamenguista.
O VAR, Thiago Peixoto, que poderia intervir e solicitar revisão a Claus, aparentemente não o fez.
POLÊMICA! Cuellar chegou forte em Marcinho e recebeu cartão amarelo. O time do botafogo pediu a revisão do lance no VAR. Merecia a expulsão? Diz aí! #BrasileirãoNoEI pic.twitter.com/HDAmw40gKW
— TNT Sports Brasil (@TNTSportsBR) July 28, 2019
Sem ouvir Claus, sem ouvir Vuaden, sem ouvir Peixoto, ninguém nunca vai compreender o critério utilizado pelos juízes.
Só eles podem explicar, e seria ótimo que explicassem, para que jornalistas e torcedores tenham esclarecimento, saibam qual é a lógica (se é que existe uma).
Porém, infelizmente, isso não aconteceu e não acontecerá.
Questionei a Confederação Brasileira de Futebol acerca do motivo de os árbitros não darem entrevistas depois dos jogos, com a finalidade de comentarem suas atuações.
A CBF afirma seguir uma orientação do Ifab, órgão que regulamenta as regras do futebol, segundo a qual os árbitros não devem dar declarações na véspera dos jogos nem ao término dos mesmos.
A entidade ressalta que não há nenhum documento que comprove essa recomendação do Ifab, mas que ela é passada nos encontros anuais do órgão com as confederações nacionais.
Não tenho por que duvidar dessa versão, até porque não tenho uma que a conteste, só que é heterodoxo não existir nada por escrito a respeito de um tema tão em evidência e é estranho que os responsáveis por tratar das regras do esporte sejam aqueles a “amordaçar” os árbitros (por que fariam isso?).
Um motivo mais plausível para a blindagem seria simplesmente este: uma questão de preservação.
Árbitros erram, sim, e nem a tecnologia de vídeo os tornará infalíveis. Isso é fato, e ocorre com muita frequência.
Não falando, eles ficam menos sujeitos a confrontações que podem, se bem embasadas, escancarar suas deficiências e, principalmente, a tremenda falta de critério, não só coletiva como, muito pior, individual. Muitas carreiras certamente iriam pelo ralo.
Se for pensado assim, a blindagem da turma do apito faz todo o sentido. Pois, para tentar explicar o inexplicável, é melhor nem tentar.
O silêncio, nesse caso, age como contenção de danos, como autoconservação do profissional.
Se for pensado assado, a blindagem torna a arbitragem menos transparente, dando a nítida impressão de que é ruim, mal orientada ou até mal-intencionada, impressão que em nada ajuda os já tão criticados e mal falados juízes de futebol.
O silêncio, nesse caso, é confissão de culpa, atestado de incompetência e delator de suposta má-fé.
]]>Ele é o chefe do Departamento Global de Desenvolvimento do Futebol na máxima entidade do esporte.
Na função, tem o papel de tentar tornar o jogo mais atrativo, para fãs, TV, patrocinadores –afinal, infelizmente para os nostálgicos (no sentido de saudoso, não de melancólico) como eu, o futebol mais do que nunca é também negócio.
O francês Wenger, de 70 anos, tem ideias para mudar o futebol.
Se depender dele, o jogo implantará uma nova forma de bater os arremessos laterais. Saem as mãos, entram os pés, em uma imitação do futebol de salão (futsal).
Atualmente, segundo ele, o time que cobra o lateral tem muita desvantagem, perdendo a posse da bola 80% das vezes em que ela é reposta em jogo.
Nunca me atentei a esse aspecto, mas minha impressão é a de que Wenger está errado e na maioria das vezes a equipe que bate o arremesso manual mantém a bola em seu domínio.
Outra modificação proposta por ele refere-se aos escanteios.
O ex-treinador deseja que a partida não mais seja interrompida se, na batida, a bola sair pela linha de fundo.
Algumas vezes, quando o cobrador coloca um efeito na bola, ela sai, voltando depois, em curva, para o campo. Nesse caso, o árbitro interrompe o lance e dá tiro de meta.
Wenger quer que o jogo prossiga, a fim de ampliar a chance de gol do time atacante nos escanteios.
A intenção é válida, porém, se existem as quatro linhas no futebol, a bola para estar em jogo deve estar dentro delas. Bola fora de jogo é bola fora de jogo, ponto.
Cabe ao batedor do córner praticar para que a redonda chegue à cabeça ou aos pés de um companheiro na área adversária sem que ela saia do campo. Não é necessário dar auxílio extra a fulano ou beltrano para que seja competente. Treino é a palavra.
O terceiro plano do francês é relacionado às faltas.
Ele deseja que o jogador possa bater a falta para si mesmo, sem necessidade de tocar para um companheiro.
Seria uma maneira de ampliar a dinâmica da partida, evitando que o infrator atravanque-a.
O atleta que sofre a falta teria a opção de se levantar rapidamente, dar um toque na bola para ele mesmo e seguir adiante.
Essa talvez seja uma alternativa interessante, que poderia ser testada para que os resultados sejam observados. Teoricamente, o defensor faltoso atrasará menos o avanço do oponente, o que é positivo para o futebol.
Wenger tem as ideias, sendo elas boas ou não, mas não possui poder para implantá-las.
Suas proposições, caso sejam de agrado do presidente da Fifa, Gianni Infantino, serão levadas adiante, para o Ifab (International Football Association Board), que é o órgão responsável por regulamentar as regras do futebol.
Como o Ifab tem flexibilizado seu histórico conservadorismo –a entrada em vigor do VAR (árbitro assistente de vídeo) é a maior prova–, é possível que pelo menos uma das inovações seja aprovada a curto prazo.
E o futebol vai se transformando, se transformando, se transformando… Dizem ser evolução. E até nos acostumamos com as mudanças, rapidamente ou nem tanto, gostando delas ou não.
Mas o futebol é tão popular, tão visto em todo o planeta, que é um tanto quanto absurdo que somente oito membros (um da Inglaterra, um da Escócia, um da Irlanda do Norte, um do País e Gales e quatro da Fifa) decidam o que deve ser mudado no esporte.
Sendo assim, espera-se que haja bom senso, até porque ainda estamos nos habituando ao VAR, que está bem longe de ser unanimidade, já que provoca polêmica atrás de polêmica, e distantíssimo de cumprir o seu objetivo original, o de corrigir apenas “erros claros e óbvios”.
Que Wenger e o Ifab se conscientizem de que não há urgência para se criar ou mudar nenhuma regra. Como diz um velho ditado, “devagar com o andor, que o santo é de barro” (na explicação de Ana Scatena, “não se apresse, pois a precipitação pode causar problemas”).
]]>Desta vez, fui convidado a escrever para a revista sãopaulo – Cenários, e lá resumi o que de mais relevante ocorreu em 2019, citando o Liverpool campeão europeu; o Flamengo campeão sul-americano; os técnicos do ano Jorge Jesus e Jürgen Klopp, o artilheiro Gabigol, o goleiro Alisson, a seleção de Tite campeã da Copa América, e Messi, eleito o melhor do mundo pela sexta vez (recorde).
Depois disso, Liverpool e Flamengo duelaram na decisão do Mundial de Clubes da Fifa, no Qatar, e, em um jogo muito bom e disputado, o time inglês superou por 1 a 0 o carioca.
Antes, além do já exposto, houve entre outros highlights o assunto policial envolvendo Neymar, acusado por uma modelo brasileira de tê-la estuprado em Paris. O caso foi arquivado.
O mesmo Neymar, com a atuação em 2019 limitada devido a lesões, forçou sua saída do Paris Saint-Germain, mas o clube francês não permitiu. O brasileiro passou a ser odiado por parte da torcida do PSG, mas a revolta se reduziu paulatinamente devido ao bom desempenho do camisa 10.
Cristiano Ronaldo, a máquina de fazer gols, chegou aos 700 na carreira. Ainda em ótima forma, artilheiro na Juventus, a dúvida que fica é: conseguirá atingir o milésimo? Sua idade hoje: 34 anos, dez meses e 26 dias.
Tottenham e Ajax foram surpresas positivas na Liga dos Campeões da Europa, e o excelente holandês Van Dijk, do Liverpool, conseguiu algo raríssimo para um zagueiro: ser eleito o melhor jogador da Europa – seria justíssimo se faturasse também os troféus de melhor do mundo.
No Mundial feminino, as norte-americanas, lideradas pela feminista Megan Rapinoe, superaram na decisão as holandesas e ganharam o título pela quarta vez. O Brasil caiu nas oitavas e, logo depois, a CBF contratou a renomada treinadora sueca Pia Sundhage. Sucesso para ela e para as meninas.
Na seleção masculina, Tite que se cuide. Maus resultados em amistosos pós-Copa América tornaram seu trabalho questionado. O Brasil precisa largar bem nas eliminatórias, ou há risco alto de ele ficar pelo caminho.
E o famigerado VAR? O árbitro assistente de vídeo prossegue firme e forte nos principais campeonatos do mundo, entre muitos acertos, muita polêmica e não raro uma demora interminável para que o lance em questão seja confirmado ou modificado.
Até parei de escrever com constância, tamanho o desgosto, sobre a ferramenta que fez o futebol virar futecbol.
“Isso não é mais futebol!”, cantam, em tom de revolta, os torcedores ingleses durante as partidas da Premier League, a primeira divisão do país. Crítico ao sistema, Pep Guardiola concorda. “Toda semana é uma tremenda bagunça”, declarou o treinador do Manchester City, o atual bicampeão nacional.
Com o VAR, é assim: não comemore, a fim de evitar frustração. Espere.
Gol só é gol agora depois de muitos segundos, 20, 30, 40, às vezes mais de um minuto. Tem que aguardar o VAR revisar o lance em várias câmeras, conferir se por um milímetro(!) não teve impedimento na jogada.
Triste. Acabaram sumariamente com a emoção do momento que é o ápice do futebol.
Enfim, esses são alguns dos destaques do ano que se encerra nesta terça (31).
Como sempre faço, deixo sugestões de leitura (ou releitura), uma por mês, para o leitor mais fanático e que gosta de conhecer ou relembrar casos e/ou histórias interessantes.
De Arrascaeta ou Tevez: qual o recordista em uma negociação no Brasil? – Flamengo contratou o uruguaio por R$ 63,7 milhões no começo do ano.
Time australiano espera por jogador preso na Tailândia – O que deveria ter sido uma lua de mel de sonho transformou-se em um terrível pesadelo para Hakeem al-Araibi.
Até este mês Maradona tinha cinco filhos; agora podem ser dez – O Pibe de Oro e a capacidade de multiplicar a já extensa prole por dois.
Santos cai e estica jejum de treinadores estrangeiros no Paulista – Equipe de Sampaoli para na semifinal, e continua a ser em 1975 a última vez que um técnico gringo se sagrou campeão em SP.
O fair play é bonito, mas não deve ser banalizado – Gesto que deveria ser gentileza ocasional caminhou para o trivial, como mostrou partida decisiva na divisão de acesso na Inglaterra.
Clóvis Rossi, o (meu) Pelé dos jornalistas – Em homenagem a um dos maiores profissionais da imprensa brasileira, fanático por futebol, morto em junho.
Jogador argentino volta ao futebol depois de ser motorista de Uber – Trejo chegou a defender o Independiente antes de cair no ostracismo e ter de ganhar a vida com o app.
Árbitro faz sinal de VAR para dar pênalti na Bolívia, país que não usa o VAR – Mais um capítulo pitoresco na curta e já marcante história da videoarbitragem.
Zagueiro comete três pênaltis, é expulso, e time perde de virada em Portugal – Eis um dia para ser esquecido pelo beque uruguaio Sebastián Coates.
Brasil lidera um ranking de seleções, e não é o da Fifa – Ranking criado pelo físico húngaro Arpad Emrick Elo existe desde o século 19.
A tarde em que Pelé fez seu mais belo gol e criou o soco no ar – Foi há 60 anos, em um domingo chuvoso na Rua Javari, o estádio do Juventus da Mooca.
Boxing Day marcou o primeiro jogo de futebol entre clubes da história – No dia 26 de dezembro, jogar e ver futebol é tradição na Inglaterra desde o século 19.
Em tempo: Um ótimo 2020! Que terá Olimpíada (em Tóquio), Copa América (na Argentina e na Colômbia), início das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo do Qatar, Eurocopa inchada (24 seleções) e descentralizada (12 cidades de 12 países diferentes), final da Libertadores no Maracanã! (E, lógico, mais polêmicas com o VAR…)
]]>De acordo com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o preço pago a cada partida para que o sistema de videoarbitragem seja operacionalizado é de R$ 51 mil, em média.
Essa cifra representa mais que o dobro da verificada na Espanha, país em que o VAR está presente em todas as partidas da primeira e da segunda divisão. Lá, o custo por jogo é de R$ 23,9 mil.
Se a comparação for com a Holanda, a diferença também é enorme, 80% a mais. Na Eridivisie, a divisão de elite holandesa, o sistema custa R$ 28,3 mil por partida.
Em ambos os casos, houve a conversão de euros para reais.
Nas últimas semanas, fiz contato com as principais ligas europeias para questionar quanto custa ter o VAR em ação, incluindo todas as despesas que ele exige, como pessoal, equipamentos, deslocamentos etc.; enfim, a logística da estrutura.
Representantes de Espanha (“calculando por partida, o custo é de cerca de € 5.200”, afirmou Eduardo Sobreviela, coordenador de comunicação da Federação Espanhola) e Holanda (“para 324 jogos, em torno de € 2 milhões”, disse Bram Groot, assessor de imprensa da Federação Holandesa) foram os únicos a revelar os valores.
Na França, a indagação, feita pelo menos cinco vezes por escrito desde 22 de agosto, foi solenemente ignorada.
Federação Italiana, alegando sigilo das informações, e Premier League, a liga responsável pelo Campeonato Inglês (“não divulgamos esses dados”), declararam que não disponibilizariam os custos do VAR.
A Liga de Portugal afirmou, por meio de seu departamento jurídico, que questões relativas à arbitragem ficam “na alçada da Federação Portuguesa”, que “presta todos os serviços de nomeação, observação e avaliação dos elementos das equipas de arbitragem que atuam nas competições profissionais, incluindo os relativos ao VAR”.
Contatada, a federação lusa não se manifestou.
Na Alemanha, a federação empurrou a questão para a Liga de Futebol (DFL), que disse não revelar o custo do VAR, porém, em tom contraditório e evidenciando falta de sintonia com a federação, empurrou de volta o tema para ela.
“Talvez possam dizer a você o custo por jogo do árbitro assistente de vídeo e de seu auxiliar (assistente do árbitro de vídeo). Acredito que a federação forneça esse número caso solicitado”, escreveu Christopher Holschier, chefe de comunicação corporativa da DFL.
Novamente a solicitação foi feita, mas nada de resposta.
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Em relação à CBF, é elogiável que seja transparente ao expor o custo do sistema, diferentemente do verificado com Alemanha, Inglaterra, França, Portugal e Itália.
Pedi, ademais, à confederação que se posicionasse acerca da disparidade do valor pago aqui, em relação ao desembolsado por espanhóis e holandeses, e recebi a seguinte resposta.
“A CBF entende [o VAR] como um investimento no aperfeiçoamento do futebol, na qualidade do produto apresentado ao torcedor que acompanha no estádio, em casa ou qualquer outro local pelos dispositivos móveis.”
“É importante destacar que qualquer projeto sobre futebol brasileiro envolve um território com dimensões continentais, o que faz do nosso o maior VAR do mundo.”
“Há conversas sobre a evolução do sistema, com central única de revisão das imagens, o que exigiria um investimento inicial muito maior e, em médio prazo, reduziria os custos.”
“Neste momento, a preocupação com a qualidade do espetáculo vem se mostrando correta. Estamos melhorando a cada rodada e a aprovação do árbitro de vídeo comprova o acerto desse pensamento.”
Traduzirei para o leitor o que se depreende dessa prolixidade da CBF:
Então, se a CBF tem a solução para, conforme exposto, reduzir os custos a médio prazo, que a viabilize o quanto antes – sem a desculpa de não haver verba para tal, pois de pobre a entidade não tem nada.
Em tempo: Houve também tentativas de obter a posição da Hawk-Eye, que cuida da parte técnica do VAR tanto no Brasil como na Espanha e na Holanda, acerca dos motivos da diferença financeira. A empresa não se pronunciou.
]]>E, dessa vez, sem nem mesmo estar presente.
Aconteceu no Campeonato Boliviano, na partida de sábado (3) na cidade de El Alto, entre o mandante Always Ready (time de nome inusitado, que significa, na tradução do inglês, Sempre Pronto) e o Bolivar, atual campeão e disparado o maior vencedor (29 títulos).
O segundo tempo se aproximava do final quando o Always Ready, que perdia por 1 a 0, lançou a bola na grande área na tentativa de empatar.
Houve uma disputa aérea, e os atletas da equipe da casa reclamaram acintosamente de um toque na mão de Orellana, do Bolivar.
O juiz da partida, Raul Orosco, de 40 anos, que desde 2009 é credenciado pela Fifa, parou o jogo e dirigiu-se à lateral do campo, onde conversou com o quarto árbitro – que não estava em boa posição para emitir opinião acerca da jogada.
Ao retornar, antes de apontar para a marca do pênalti, Orosco fez um gesto com os braços e com as mãos similar ao que os árbitros fazem depois de consulta ao VAR.
12th min of added time in Club Always Ready’s game vs. Bolívar in Bolivian top flight y’day. After talking to 4th official, ref makes VAR sign, points to his ear and gives penalty to Always Ready.
One problem – there is no VAR in the Bolivian league.pic.twitter.com/u13z2fpsac
— Joshua Law (@JoshuaMLaw) 4 de agosto de 2019
Só que o Campeonato Boliviano não usa o VAR, muito possivelmente por falta de verba para implantar o aparato tecnológico necessário para seu funcionamento. Ou seja, não há na lateral do campo o monitor para verificação das dúvidas.
Foi a deixa para que a revolta se instaurasse entre jogadores e comissão técnica do Bolivar. Com razão.
Se não há VAR, mas Orosco agiu como se sua decisão tivesse sido tomada depois de consulta ao replay do lance, fica a nítida impressão de que alguém com acesso às imagens contatou a equipe de arbitragem para avisar que a bola tocou no braço do atleta do Bolivar.
Não vejo outro jeito de o árbitro ter mudado seu veredicto.
Nas regras do futebol não há nada que verse sobre interferência externa nas decisões do árbitro, mas, caso venha a ocorrer, é indecoroso.
Enviei mensagem à Federação Boliviana de Futebol pedindo esclarecimento sobre o caso e questionando por qual razão Orosco modificou sua marcação. Não houve resposta.
Nesta segunda (5), em entrevista à rádio ATB, de La Paz, o árbitro declarou ter sido mal interpretado.
“Em nenhum momento fiz um sinal de VAR. Usei a linguagem corporal para que todos soubessem que, se evidentemente houve um toque na mão, deveria ser penalizado. O regulamento faculta o uso da linguagem corporal.”
Acredite quem, e se, quiser.
Em tempo: E o pênalti polêmico, cobrado mais de dez minutos depois de ter sido marcado? Foi convertido? Não. O uruguaio William Ferreira acertou a trave, e o Always Ready perdeu a partida.
]]>Um dia antes de Liverpool 2 x 0 Tottenham, Espérance, da Tunísia, e Wydad Casablanca, de Marrocos, entraram em campo em Radès, cidade tunisiana, para definir o campeão da África.
O jogo de ida, no dia 24 de maio, em Rabat, tinha terminado 1 a 1.
No duelo decisivo, o Espérance, que defendia o título e jogava empurrado por sua torcida, marcou logo aos 4 minutos do primeiro tempo com o argelino Belaïli.
Não conseguiu, entretanto, ampliar, e o Wydad, que ganhara a Champions em 2017, empatou aos 14 minutos do segundo tempo com El Karti, de cabeça.
Só que o gol foi anulado, com marcação de impedimento pela arbitragem.
Lance duvidoso? Sim. Deveria ser um problema? Não.
Por quê? Porque existe o VAR (árbitro assistente de vídeo), que deve, com o uso de recursos tecnológicos, mostrar-se infalível em lances não interpretativos, como é o caso do impedimento.
Os jogadores do Wydad esperaram então que o árbitro Bakari Gassama, de Gâmbia, fosse avisado pelo VAR a respeito da posição de El Karti.
Porém isso não aconteceu, e iniciou-se uma confusão, com Gassama conversando com os atletas do Wydad, tentando explicar o inexplicável: o VAR não estava operante.
Algum defeito impediu o equipamento de funcionar. Ou seja: deveria ter o VAR, mas não teve o VAR.
Em uma final de Liga dos Campeões, mesmo sendo na África, continente menos favorecido economicamente, é inaceitável que isso aconteça.
Tomando conhecimento da situação, o Wydad decidiu não jogar mais.
Não adiantou nem a ida ao campo do presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), o madagascarense Ahmad Ahmad, para tentar fazer jogadores e comissão técnica mudarem de ideia.
Passada mais de uma hora de paralisação, Gassama deu a partida por encerrada, e a CAF proclamou o Espérance campeão.
A decisão do clube marroquino de desistir da partida, por indignação, foi correta?
Não. Recusando-se a jogar, a derrota era certa, por desistência, conforme estabelecia o regulamento da Champions africana.
Mesmo com a impossibilidade de revisão do lance do impedimento pelo VAR, o Wydad deveria continuar jogando, pois poderia ter chance de fazer outro(s) gols(s). Sem jogar, a chance inexistiu.
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Em tempo 1: Replay do lance mostra que El Karti estava claramente em posição legal no lance do gol anulado pela arbitragem. Se o VAR estivesse ativo, certamente haveria a validação do gol do Wydad.
Em tempo 2: Esse foi o quarto título do Espérance na Liga dos Campeões da África, cuja primeira final foi realizada em 1965. O clube mais vezes campeão é o Al Ahly, do Egito (oito). Outro egípcio, o Zamalek, ganhou cinco vezes, assim como o Mazembe, do Congo.
]]>Essa frase foi postada por Neymar em rede social, na semana passada, depois da eliminação do clube que defende, o Paris Saint-Germain, da Liga dos Campeões da Europa.
A revolta do atacante brasileiro, sem entrar em discussão sobre palavreado nada elegante (“vá pra fdp”) e conclusão precipitada (“quatro caras que não entendem de futebol”), deve-se à marcação de um pênalti para o Manchester United perto do fim da partida em Paris.
O lateral Dalot chutou e a bola desviou no braço do zagueiro Kimpembe, que saltou em movimento que o deixou de costas para a jogada.
(Ao chutar, o atleta do Man United estava a aproximadamente 4 metros de distância do adversário; informação relevante, perceberá o leitor, mais à frente.)
Primeiramente, o juiz esloveno Damir Skomina marcou escanteio. Foi, entretanto, alertado pela equipe do VAR (árbitro assistente de vídeo), os tais “quatro caras” citados por Neymar, que a bola havia desviado no braço do jogador do PSG.
Skomina, ao rever o lance à beira do campo, voltou atrás em sua marcação e assinalou o pênalti.
Rashford bateu, o Man United fez 3 a 1 e eliminou o PSG nas oitavas de final do mais importante interclubes europeu, sonho de consumo do clube francês.
Na opinião de Neymar, que não atuou por estar em recuperação de lesão no pé, o VAR errou (e influenciou o juiz de campo a errar), pois Kimpembe não teve a intenção de tocar com a mão ou o braço na bola.
Eu concordo. Faltando dois ou três minutos para o fim do jogo, com o time se classificando, ninguém é suficientemente insano para propositalmente fazer um pênalti.
Fiquei ruminando o lance e fiz contato com a Uefa, organizadora da Champions League, e com a Ifab, responsável pelas regras do futebol, para tentar entendê-lo.
Afinal, o árbitro acertou ou não ao dar a penalidade máxima?, eu queria saber.
Antes de questionar Uefa e Ifab, fui conferir o que diz a regra sobre bola na mão/mão na bola.
“Tocar a bola com as mãos implica o ato deliberado de um jogador tocar a bola com as mãos ou com os braços. Devem ser considerados os seguintes critérios:
Interpretando o que está escrito, com ênfase na palavra “deliberado”, dou razão a Neymar e a todos que consideram que não foi pênalti.
Em email assinado por Boudien Broekhuis, gerente de Comunicações, a Ifab escapuliu. Declarou que “não pode e não vai comentar nenhuma decisão individual tomada pelos árbitros”.
O departamento de Mídia da Uefa, contudo, deu uma resposta que continha uma explicação: “Depois da revisão, o árbitro [Skomina] confirmou que a distância percorrida pela bola [entre o chute de Dalot e o desvio em Kimpembe] não foi pequena nem a bola foi inesperada. O braço do zagueiro não estava próximo ao corpo, o que tornou o corpo do zagueiro maior, impedindo a bola de ir na direção do gol. O juiz, então, marcou o pênalti”.
O escrito correspondia à realidade. Por saltar com os braços não colados ao corpo, Kimpembe ampliou a área que ocupava e correu o risco de que a bola tocasse neles (ou em suas mãos), o que acabou ocorrendo.
O problema? Não está na regra que o atleta que se arrisque a tocar com o braço ou a mão na bola, por descuido ou imprudência, deva ser punido (e, consequentemente, sua equipe) com a marcação de uma falta.
Um segundo problema? Não é a primeira vez que isso aconteceu. Há algum tempo vejo situações em que a arbitragem marca infração nesse tipo de ocorrência, mesmo sem estar na regra.
Um terceiro problema? Muitas e muitas vezes os árbitros, seja o de campo ou o VAR, que pode interferir em certas ocasiões (e a dúvida sobre ser ou não pênalti é uma delas), nada marcam – acertadamente, segundo a regra.
Ou seja, não há um padrão, e a mesma jogada, exatamente a mesma, pode resultar em uma infração ou em nada (“segue o jogo”). Conclusão? Polêmica após polêmica, na certa.
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Felizmente, para meu alívio e certamente de todo o mundo envolvido no futebol, a Ifab decidiu se mexer e incluir na regra detalhamentos sobre a “mão na bola/bola na mão”.
O órgão soltou nesta quarta (13) um documento que, além de reforçar que botar a mão de bola de propósito é falta, traz estes dizeres sobre o tema:
“As seguintes situações de ‘mão na bola/bola na mão’, mesmo que acidentais, incorrem em falta:
Não se deve marcar uma falta, a não ser que seja uma das situações acima mencionadas, caso:
Deliberações tardias, que já poderiam/deveriam ter sido tomadas há muito tempo, pois, caso sejam seguidas à risca pela arbitragem (e devidamente entendidas por jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores), dirimem dúvidas a respeito de marcar ou não falta em lances de mão na bola/bola na mão.
Elas, todavia, entrarão em vigor só a partir de 1º de junho. Até lá, reclamações como a de Neymar, prevejo, ainda hão de vir aos montes.
Em tempo 1: No futebol e na vida, muito se muda no decorrer dos anos. Nas décadas de 1980 e 1990, a arbitragem, diferentemente do que se vê hoje, costumava cumprir a regra estritamente. Marcação de falta quando a bola batesse na mão, só se fosse mão na bola escandalosa, com o jogador dando um tapa, um soco ou uma cortada na redonda.
Em tempo 2: A Ifab, além da questão da “bola na mão/mão na bola”, decidiu alterar outras regras do futebol. O que haverá de mais relevante? A introdução de cartões amarelos e vermelhos para o treinador (em casos de reclamações/xingamentos à beira do gramado); o jogador, ao ser substituído, ter de deixar o campo pela linha (de fundo ou lateral) mais próxima a ele; em tiro de meta, a bola estará em jogo assim que for tocada, não sendo mais necessário esperar que ela saia da área.
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