A maioria dos jogadores e cartolas defende uma solução que permita a realização dos jogos restantes (pouco menos um terço do total), mesmo que com portões fechados, sem a presença de torcedores.
Minorias querem outros caminhos.
Ou o encerramento do campeonato nacional com a classificação atual, e quem está na frente é coroado campeão, ou a anulação do certame, sem um vencedor, pois seria injusto dar a taça a um clube que poderia ser ultrapassado na tabela.
A Bélgica decidiu pela primeira opção. Finalizou nesta quinta (2) a Liga Jupiler e deu ao atual líder, o Brugge, o título.
Na Itália, essa hipótese não é cogitada pelo presidente da Federação Italiana de Futebol, Gabriele Gravina, que assegura que a Juventus, que ponteia a tabela, apenas um ponto à frente da Lazio, é contrária.
Segundo ele, estuda-se a possibilidade de a Série A se estender até setembro, mesmo que a edição de 2020/2021 tenha de começar com atraso.
Postergar além do previsto os campeonatos pode, entretanto, causar problemas legais, pois há dezenas de jogadores cujos contratos se encerram no fim de junho.
Para que haja tempo hábil de a temporada ser finalizada no primeiro semestre, o belgo-brasileiro Andreas Pereira, do Manchester United, propõe que os atletas se sacrifiquem fisicamente para que nenhuma partida deixe de ser disputada.
“Quero terminar esta temporada, mesmo que isso signifique jogar todos os dias de uma semana. Será uma sensação muito ruim se tivermos que anular a temporada”, afirmou à ESPN o volante de 24 anos, convocado uma vez, em 2018, por Tite para a seleção brasileira.
Em relação à exaustão física, de alta probabilidade ao ir a campo seguidamente, Pereira declarou: “Acredito que podemos lidar com isso. Todos têm tido bastante descanso, e jogadores que estavam contundidos estão voltando. Temos um elenco grande e podemos jogar dois dias seguidos, ou dia sim, dia não. Não será um problema”.
Os jogadores do Manchester United, assim como os dos demais clubes, estão seguindo uma programação de treinos individuais, em suas respectivas casas, com acompanhamento dos preparadores físicos de cada agremiação.
Caso a ideia da maratona de jogos de Pereira seja encampada, o Campeonato Inglês precisará agendar dez dias seguidos de jogos para ser encerrado.
No caso do Man United, o clube, atual quinto colocado, quer se posicionar no top 4 para poder disputar a próxima Champions League (Liga dos Campeões da Europa).
Além dessa pretensão no Inglês, o time ainda está vivo na Liga Europa – o segundo interclubes em importância no continente – e na Copa da Inglaterra.
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]]>Dos 26 jogos disputados (são ao todo 38), a equipe que veste vermelho ganhou 25 e empatou um.
Só uma tragédia evitará que os comandados pelo treinador alemão Jürgen Klopp ergam a taça que o clube não conquista desde 1990. São 22 pontos de vantagem para o vice-líder, o Manchester City.
Se a felicidade de celebrar esse título é, tudo indica, uma questão de tempo para os milhares e milhares de torcedores do Liverpool mundo afora, a tristeza pelo desempenho do Liverpool tem sido algo penoso para pelo menos um torcedor.
O irlandês Daragh Curley, que vive em Donegal, no seu país natal, tem apenas 10 anos e é torcedor fervoroso do Manchester United.
Há quem possa julgar que Daragh devesse estar incomodado e macambúzio caso o Manchester City, e não o Liverpool, estivesse arrasando na temporada.
Porém a maior dor de quem torce pelo United é ver o Liverpool por cima, já que essa é a maior rivalidade da Inglaterra, conforme atestou-me Sir Bobby Charlton, um dos maiores ídolos da história dos Diabos Vermelhos, em breve contato que tivemos anos atrás em Manchester.
Inconformado com a invencibilidade e a constância do Liverpool, Daragh decidiu escrever uma carta, bem curta, a Klopp. Para solicitar um favor: que o Liverpool perdesse.
Nela, datada de 24 de janeiro, o garoto dizia: “Querido Jürgen Klopp. […] Torço para o Manchester United e escrevo para reclamar. O Liverpool está vencendo muitos jogos. […] E sendo um torcedor do United isso é muito triste. Assim, da próxima vez que o Liverpool jogar, por favor faça-o perder. Basta deixar o outro time fazer gols. Espero tê-lo convencido a não ganhar o campeonato nem a vencer mais um jogo que seja”.
De alguma forma, a carta foi lida, se não primeiramente por Klopp, por alguém dos Reds que fez o apelo de Daragh chegar ao treinador.
Que decidiu responder. Dias depois, o menino recebeu em sua casa a réplica, por escrito, assinada pelo alemão de 52 anos.
Inicialmente, pensou ser uma piada, uma brincadeira de alguém com ele. Acreditou depois de ver o papel timbrado e a assinatura de Klopp no fim do texto de cinco parágrafos.
Eis as palavras do técnico: “Querido Daragh, sei que você não me desejou boa sorte, mas é sempre bom ouvir de um jovem fã de futebol. […] Infelizmente não poderei atender sua solicitação. Mesmo você querendo que o Liverpool perca, é meu trabalho fazer o máximo para que o Liverool ganhe, pois há milhões de pessoas espalhadas pelo mundo que querem que isso aconteça. […] Para sua sorte, perdemos jogos no passado e perderemos no futuro, porque o futebol é assim. […] Cuide-se e boa sorte”.
Daragh, questionado pela rádio BBC se, depois de ler as ponderações de Klopp, mudaria seu modo de pensar, declarou, espirituoso: “Se eles perderem de 5 a 0 eu ficarei um pouco triste, mas se perderem de 4 a 0 eu ficarei bem”.
Dessa história maneira, fica uma certeza, descrita por Klopp na carta ao pequeno Daragh: o futebol é cíclico, e essa fase esplendorosa do Liverpool não durará eternamente.
O time é ótimo (veloz, organizado, eficiente, entrosado) e tem jogadores excelentes (Alisson, Alexander-Arnold, Robertson, Salah, Firmino, Mané), porém não é imbatível.
A Champions League é prova disso. Há apenas quatro dias. o Liverpool visitou o Atlético de Madrid e perdeu por 1 a 0, sem dar sequer uma finalização certa no gol defendido por Oblak.
Isso mostra que basta um dia ruim, de pouca inspiração, para que o Liverpool seja suplantado. Pode até ocorrer nesta segunda (24), diante do azarão West Ham, por que não?
Se acontecer, dirão que terá sido Daragh, “o garoto da carta”, a pessoa que mais desejava no mundo que o Liverpool perdesse na Premier League, o “responsável” pelo fim da longa invencibilidade.
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Em tempo: São até agora, conforme exposto no início do texto, 25 triunfos e um empate do Liverpool no Campeonato Inglês 2019/2020. A única vez que o time não venceu? Justamente contra a equipe pela qual Daragh Curley torce, o Manchester United. A partida de 20 de outubro, no Old Trafford, terminou 1 a 1. Rashford abriu o placar para o Man United, e Lallana evitou a derrota do visitante.
]]>E, para pontuar e vencer, precisam torcer por jogadores de clubes adversários. Parece fantasioso, mas é assim que essa realidade funciona.
Muitos entusiastas do futebol divertem-se com o fantasy football, um jogo no qual o participante torna-se um técnico/manager, usando um limite financeiro (geralmente cem unidades) para montar um time imaginário com jogadores reais.
Feito isso, pode-se criar uma liga privada e reunir amigos e/ou colegas e/ou familiares e/ou quem quer que seja, desde que também tenham montado uma equipe fantasia, para disputar, pela duração da temporada, um campeonato no qual o desempenho de cada jogador é avaliado. Gols e assistências, por exemplo, somam pontos.
Eis o exemplo do fantasy football da Premier League. Monta-se uma equipe com 15 jogadores, sendo 11 titulares e quatro reservas. Pode-se escolher, dentro do orçamento (as tais cem unidades) jogadores de cada um dos 20 times, com o limite de três por equipe.
A cada semana, apenas os 11 escalados pontuarão. Se um deles não jogar, quem está no banco, na ordem determinada pelo técnico/manager, contabilizará pontos. Há também a escolha de um capitão, cuja pontuação conta em dobro.
Ao término de cada rodada, cada time fantasia terá uma pontuação. O time está ruim, não rendeu? É possível dispensar quem não está bem e contratar um substituto, desde que caiba no orçamento.
Somados os pontos das 38 rodadas, tem-se o resultado final – ganha, obviamente, quem tiver pontuado mais. O legal na disputa é, sendo o líder, buscar manter esse posto; não sendo, fazer de tudo para alcançar quem está na ponta.
Parece complicado. Mas, acostumando-se às regras e ao funcionamento, é muito divertido, e também viciante. (Desde que comecei a jogar, em 2008, não parei.)
E, pelo que publicou o jornal Daily Mail, não são só os aficionados por futebol, como este que aqui escreve, quem tem gosto pelo fantasy football, mas também os próprios jogadores.
O time em questão é o Manchester United, contudo não duvido que haja atletas de outras equipes que curtam essa diversão – e a pratiquem.
Só que é bem esquisito o jogador vinculado a um clube torcer para boas atuações de adversários, em especial quando são de um clube com o qual o dele tem enorme rivalidade. E torna-se bizarro se esses adversários estiverem em campo contra a equipe que ele defende.
(Eu vou a campo contra você, e você está no meu time fantasia; aí fico feliz se você joga bem porque me dará pontos no jogo virtual? Não dá.)
No caso do Man United, participam de uma liga privada os zagueiros Chris Smalling, Harry Maguire (o beque mais caro do mundo) e Phil Jones, os laterais Ashley Young e Luke Shaw, os goleiros Lee Grant e Joel Pereira (emprestado ao Hearts, da Escócia), o meia-atacante Daniel James e um membro não identificado que, segundo o jornal, é o volante belga-brasileiro Andreas Pereira, que, acredita-se, seja o organizador.
A liga, aliás, foi batizada de MUFC Tiki-Taka Fantasy, homenagem escancarada ao futebol de extremada posse de bola implementado no Barcelona pelo técnico Pep Guardiola, hoje à frente do Manchester City.
Smalling, passadas duas rodadas, lidera a liga, 12 pontos à frente de Jones, tendo como grandes pontuadores Sterling, De Bruyne e Zinchenko – todos do arquirrival Man City!
O líder da MUFC Tiki-Taka tem em seu time fantasia titular mais jogadores do City do que do United (De Gea e Martial).
Smalling poderia se selecionar e se escalar? Sim. Mas não há porquê, já que atualmente está na reserva do técnico Ole Solskjaer, e quem não joga não pontua no fantasy football.
Mesmo os titulares do Man United que integram a MUFC Tiki-Taka, Maguire e Shaw, não se elegeram para jogar em seus respectivos times fantasia, preferindo apostar em companheiros como Martial e Rashford (no time de Maguire) e Martial e Wan-Bissaka (no de Shaw).
Apenas um dos participantes depositou as fichas em si mesmo: Daniel James, o caçula (21 anos) da MUFC Tiki-Taka. Que inclusive se deu pontos ao fazer um gol na primeira partida do campeonato, contra o Chelsea.
Já Ashley Young deposita, por ora, fé nenhuma nele nem em ninguém ao seu redor. É o único dos participantes a não ter em seu elenco fantasia um jogador do Man United.
]]>Essa frase foi postada por Neymar em rede social, na semana passada, depois da eliminação do clube que defende, o Paris Saint-Germain, da Liga dos Campeões da Europa.
A revolta do atacante brasileiro, sem entrar em discussão sobre palavreado nada elegante (“vá pra fdp”) e conclusão precipitada (“quatro caras que não entendem de futebol”), deve-se à marcação de um pênalti para o Manchester United perto do fim da partida em Paris.
O lateral Dalot chutou e a bola desviou no braço do zagueiro Kimpembe, que saltou em movimento que o deixou de costas para a jogada.
(Ao chutar, o atleta do Man United estava a aproximadamente 4 metros de distância do adversário; informação relevante, perceberá o leitor, mais à frente.)
Primeiramente, o juiz esloveno Damir Skomina marcou escanteio. Foi, entretanto, alertado pela equipe do VAR (árbitro assistente de vídeo), os tais “quatro caras” citados por Neymar, que a bola havia desviado no braço do jogador do PSG.
Skomina, ao rever o lance à beira do campo, voltou atrás em sua marcação e assinalou o pênalti.
Rashford bateu, o Man United fez 3 a 1 e eliminou o PSG nas oitavas de final do mais importante interclubes europeu, sonho de consumo do clube francês.
Na opinião de Neymar, que não atuou por estar em recuperação de lesão no pé, o VAR errou (e influenciou o juiz de campo a errar), pois Kimpembe não teve a intenção de tocar com a mão ou o braço na bola.
Eu concordo. Faltando dois ou três minutos para o fim do jogo, com o time se classificando, ninguém é suficientemente insano para propositalmente fazer um pênalti.
Fiquei ruminando o lance e fiz contato com a Uefa, organizadora da Champions League, e com a Ifab, responsável pelas regras do futebol, para tentar entendê-lo.
Afinal, o árbitro acertou ou não ao dar a penalidade máxima?, eu queria saber.
Antes de questionar Uefa e Ifab, fui conferir o que diz a regra sobre bola na mão/mão na bola.
“Tocar a bola com as mãos implica o ato deliberado de um jogador tocar a bola com as mãos ou com os braços. Devem ser considerados os seguintes critérios:
Interpretando o que está escrito, com ênfase na palavra “deliberado”, dou razão a Neymar e a todos que consideram que não foi pênalti.
Em email assinado por Boudien Broekhuis, gerente de Comunicações, a Ifab escapuliu. Declarou que “não pode e não vai comentar nenhuma decisão individual tomada pelos árbitros”.
O departamento de Mídia da Uefa, contudo, deu uma resposta que continha uma explicação: “Depois da revisão, o árbitro [Skomina] confirmou que a distância percorrida pela bola [entre o chute de Dalot e o desvio em Kimpembe] não foi pequena nem a bola foi inesperada. O braço do zagueiro não estava próximo ao corpo, o que tornou o corpo do zagueiro maior, impedindo a bola de ir na direção do gol. O juiz, então, marcou o pênalti”.
O escrito correspondia à realidade. Por saltar com os braços não colados ao corpo, Kimpembe ampliou a área que ocupava e correu o risco de que a bola tocasse neles (ou em suas mãos), o que acabou ocorrendo.
O problema? Não está na regra que o atleta que se arrisque a tocar com o braço ou a mão na bola, por descuido ou imprudência, deva ser punido (e, consequentemente, sua equipe) com a marcação de uma falta.
Um segundo problema? Não é a primeira vez que isso aconteceu. Há algum tempo vejo situações em que a arbitragem marca infração nesse tipo de ocorrência, mesmo sem estar na regra.
Um terceiro problema? Muitas e muitas vezes os árbitros, seja o de campo ou o VAR, que pode interferir em certas ocasiões (e a dúvida sobre ser ou não pênalti é uma delas), nada marcam – acertadamente, segundo a regra.
Ou seja, não há um padrão, e a mesma jogada, exatamente a mesma, pode resultar em uma infração ou em nada (“segue o jogo”). Conclusão? Polêmica após polêmica, na certa.
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Felizmente, para meu alívio e certamente de todo o mundo envolvido no futebol, a Ifab decidiu se mexer e incluir na regra detalhamentos sobre a “mão na bola/bola na mão”.
O órgão soltou nesta quarta (13) um documento que, além de reforçar que botar a mão de bola de propósito é falta, traz estes dizeres sobre o tema:
“As seguintes situações de ‘mão na bola/bola na mão’, mesmo que acidentais, incorrem em falta:
Não se deve marcar uma falta, a não ser que seja uma das situações acima mencionadas, caso:
Deliberações tardias, que já poderiam/deveriam ter sido tomadas há muito tempo, pois, caso sejam seguidas à risca pela arbitragem (e devidamente entendidas por jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores), dirimem dúvidas a respeito de marcar ou não falta em lances de mão na bola/bola na mão.
Elas, todavia, entrarão em vigor só a partir de 1º de junho. Até lá, reclamações como a de Neymar, prevejo, ainda hão de vir aos montes.
Em tempo 1: No futebol e na vida, muito se muda no decorrer dos anos. Nas décadas de 1980 e 1990, a arbitragem, diferentemente do que se vê hoje, costumava cumprir a regra estritamente. Marcação de falta quando a bola batesse na mão, só se fosse mão na bola escandalosa, com o jogador dando um tapa, um soco ou uma cortada na redonda.
Em tempo 2: A Ifab, além da questão da “bola na mão/mão na bola”, decidiu alterar outras regras do futebol. O que haverá de mais relevante? A introdução de cartões amarelos e vermelhos para o treinador (em casos de reclamações/xingamentos à beira do gramado); o jogador, ao ser substituído, ter de deixar o campo pela linha (de fundo ou lateral) mais próxima a ele; em tiro de meta, a bola estará em jogo assim que for tocada, não sendo mais necessário esperar que ela saia da área.
]]>Na Europa, a Uefa (entidade que rege o esporte no continente), que divulga anualmente um panorama financeiro do futebol local, incluindo a receita dos clubes, publicou seu relatório mais recente, referente ao ano fiscal de 2017.
O levantamento inclui valores de direitos de TV (que representam o grosso do dinheiro), patrocínios, ações comerciais, venda de ingressos, merchandising, licenciamentos, repasses da própria Uefa. Transferências de jogadores não entram na conta.
Pela primeira vez, os ganhos somados de todos os clubes das primeiras divisões europeias (são 710, de 55 países, no total) ultrapassou a casa dos € 20 bilhões. As agremiações arrecadaram, juntas, € 20,11 bilhões (R$ 85,9 bilhões).
€ 20,11 bilhões! Muita grana, não? Sem comparação, porém, é somente um número, como tantos outros.
Cotejos com anos anteriores ajudam a estabelecer um dimensionamento. Voltando no tempo, para o fim do século 20, por exemplo.
Em 1997, a arrecadação dos clubes foi de € 3,6 bilhões. Assim, a de 2017 aproxima-se do sêxtuplo da verificada 20 anos antes.
O estudo imediatamente anterior, do ano fiscal de 2016, apontou receita de € 18,47 bilhões para as equipes das divisões de elite. Em 12 meses, ela subiu 9%, similar à alta de 2015 (€ 16,87 bilhões) para o ano seguinte.
Não sou do ramo de economia, mas considero 9% uma elevação significativa, especialmente se o comparativo for feito com o crescimento da economia global em 2017, de 3%, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Vamos à vida real. Você, leitor, teve alta salarial de quanto naquele ano? Acima ou abaixo de 9%?
É palpite, mas aposto a que a maioria dos trabalhadores não teve aumento “de verdade” algum, talvez só a reposição da inflação.
Desse montante de € 20,11 bilhões, mais de um quarto (27%) ficou com os clubes da Inglaterra. Não é surpresa, pois é amplamente sabido que a Premier League é, com folga, a liga mais rica do planeta.
Na sequência vêm as primeiras divisões de Espanha e Alemanha (14% cada uma), Itália (11%), França (8%), Rússia e Turquia (4% cada uma), Holanda (3%), Portugal (2%) e Bélgica (também 2%) . Os demais países, juntos, somam os restantes 12%, em uma conta arredondada.
No relatório da Uefa, o clube que mais faturou em 2017 foi o Manchester United, que em campo não tem dado as alegrias de outrora a seus torcedores.
A receita dos Diabos Vermelhos foi de € 676 milhões (R$ 2,89 bilhões pelo câmbio atual), queda de quase 2% em relação aos € 689 milhões de 2016.
O Real Madrid ficou muito perto da equipe inglesa, com ganho de € 675 milhões (alta de 9%). Completam o top 5 o Barcelona (€ 649 milhões, +5%), o Bayern de Munique (€ 588 milhões, -1%) e o Manchester City (€ 558 milhões, +5%). No top 10 ainda estão o francês PSG, os ingleses Arsenal, Liverpool e Chelsea, e a italiana Juventus.
Na lista dos 30 primeiros, chamam a atenção os aumentos de receita, em percentual, do inglês Leicester (€ 274 milhões, +58%) e do alemão Leipzig (€ 191 milhões, +60%).
Possivelmente os resultados em campo, que lhes deram visibilidade, sejam a razão para tão expressivos retornos financeiros. O Leicester foi o campeão inglês em 2016 e realizou boa campanha na Champions League em 2016/2017, e o Leipzig foi o vice-campeão alemão em 2017.
No top 30, só há um clube que não seja de Inglaterra (13 equipes), Alemanha (6), Itália (5), Espanha (3) e França (2); é o Zenit, da Rússia, na 28ª posição, com receita de € 168 milhões.
O levantamento da Uefa tem 118 páginas com dezenas e dezenas de informações, números, gráficos, e paro aqui para não enfadar (mais) o leitor.
Que certamente pergunta: e a comparação com o Brasil?
Pesquisa da empresa Sports Value, que em um recorte não inclui na conta o ganho com a venda de jogadores, diz que em 2017 o Palmeiras arrecadou R$ 466,4 milhões, seguido por Flamengo (R$ 465,6 milhões), Cruzeiro (R$ 309,2 milhões), Corinthians (R$ 293,4 milhões) e São Paulo (R$ 291,5 milhões).
Feita a conversão, percebe-se o abismo: a receita do Palmeiras foi de € 109,3 milhões – ou apenas 16% da receita do Manchester United.
Para chegar perto dos € 676 milhões, só somando os nove clubes nacionais com maiores arrecadações em 2017 (total de € 668 milhões) – além dos já citados, Botafogo, Atlético-MG, Grêmio e Internacional.
Em tempo: No ano fiscal de 2007, o clube que mais gastou em salários foi o Real Madrid: € 406 milhões (R$ 1,73 bilhão), ou 60% da receita. Vêm a seguir o Barcelona (€ 378 milhões), o Manchester City (€ 334 milhões), o Manchester United (€ 306 milhões) e o Bayern de Munique (€ 276 milhões). Levantamento publicado em setembro de 2017 pela ESPN Brasil mostrou que o Palmeiras era o time brasileiro com maior folha salarial: R$ 132 milhões (€ 31 milhões) no ano.
]]>O português José Mourinho, de 55 anos, que viveu relação conflituosa com diretoria (reclamava da falta de reforços de altíssimo nível) e jogadores (é adepto da filosofia “eu ganhei, nós empatamos, eles perderam”) desde que chegou ao superbadalado Manchester United, na metade de 2016, foi demitido nesta terça (18).
Dono de um currículo invejável, com conquistas de Ligas dos Campeões da Europa (uma pelo Porto, em 2004, outra pela Inter de Milão, em 2010) e títulos nacionais em quatro países (Portugal, com o Porto; Inglaterra, com o Chelsea; Itália, com a Inter; e Espanha, com o Real Madrid), ele não resistiu à derrota por 3 a 1 para o Liverpool, no domingo (16), que deixou os Diabos Vermelhos na sexta colocação no Campeonato Inglês, a 19 pontos do topo da tabela.
“O Especial” vai embora do maior campeão do Inglês (20 títulos) após quase dois anos e meio com três taças: a da Liga Europa de 2017, a da Copa da Liga Inglesa de 2017 e da Supercopa da Inglaterra de 2016.
Esperava-se, porém, mais de alguém com histórico tão laureado, que se mostrou muito capaz de distribuir queixas e mau humor e incapaz de fazer funcionar uma equipe recheada de selecionáveis como De Gea (Espanha), Lindelof (Suécia), Matic (Sérvia), Alexis Sánchez (Chile), Ashley Young, Lingard e Rashford (Inglaterra), Lukaku (Bélgica) e Pogba (França).
Aliás, com Pogba, campeão mundial neste ano na Copa da Rússia, a relação estava extremamente estremecida. O meio-campista, por quem o Man United pagou € 105 milhões à Juventus há dois anos e que chegou a ser capitão do time, passou a esquentar o banco neste mês. Um desperdício de talento.
Com a quebra do contrato que iria até 2020, Mourinho receberá de multa rescisória € 25 milhões (R$ 111,4 milhões), conforme estimado pela mídia inglesa. O valor individual de mercado de metade dos jogadores do elenco do Man United (13 de 26) não chega a essa cifra, segundo o site Transfermarkt.
O zagueiro-lateral argentino Rojo e o volante belga Fellaini (famoso pela cabeleira que deixou de ostentar faz poucas semanas), por exemplo, são avaliados em € 15 milhões cada um.
Especula-se desde o momento do rompimento entre clube e treinador quem assumirá a prancheta, podendo pleitear um dos mais altos salários para a profissão. O de Mourinho era de aproximadamente € 1,35 milhão (quase R$ 6 milhões).
Jornais britânicos acionaram seus repórteres para apurar nos bastidores os nomes de interesse do Man United e divulgaram alguns. Cito-os a seguir, até para conferir posteriormente se houve acerto na apuração.
Zinédine Zidane (França, 46 anos)
Gênio como jogador, Zizou mostrou-se genial como técnico. Em dois anos e cinco meses de Real Madrid, ganhou nada mais, nada menos que três Ligas dos Campeões (2016, 2017 e 2018), dois Mundiais de Clubes (2016 e 2017) e um Campeonato Espanhol (2017), entre outros títulos. Deixou surpreendentemente, por opção própria, a equipe merengue no fim de maio e em setembro declarou que voltaria “logo” à ativa. Um logo que se prolongou. Se Zidane estava à espera de uma vaga em um gigante da Europa, eis oportunidade ímpar.
Ole Gunnar Solskjaer (Noruega, 45 anos)
Ex-atacante do Manchester United nos anos 1990 e 2000, era um dos ídolos da torcida – vestiu a camisa do time 235 partidas e marcou quase uma centena de gols. Atualmente dirige o Molde, vice-campeão norueguês. É cotado para assumir interinamente, ficando pelo menos até a metade de 2019.
Mauricio Pochettino (Argentina, 46 anos)
O ex-beque ganhou respeito na Inglaterra ao, desde que assumiu o “de médio para bom” Tottenham em 2014, transformá-lo ano a ano em forte candidato ao título da Premier League – o time foi vice-campeão inglês na temporada 2016-2017 e terminou em terceiro lugar em 2017-2018. Seria o nome preferido pela diretoria do Man United, mas Pochettino renovou contrato em maio até 2023, ou seja, será bastante caro tirá-lo de Londres.
Laurent Blanc (França, 53 anos)
Campeão mundial na Copa do Mundo em seu país, em 1998, o ex-zagueiro Blanc está sem clube desde 2016, quando deixou o Paris Saint-Germain depois de ganhar o Campeonato Francês três vezes seguidas (2014, 2015 e 2016). Assim como Solskjaer, vestiu a camisa do Man United (de 2001 a 2003, sendo campeão inglês no último ano).
Antonio Conte (Itália, 49 anos)
Campeão da Premier League com o Chelsea em 2017, deixou o time londrino em junho deste ano. O italiano teve momentos de tensão com Mourinho – eles não se bicavam e trocaram farpas continuamente. Se o Man United o contratar, dará uma tremenda reviravolta na personalidade de seu treinador. Diferentemente do taciturno e muitas vezes asqueroso Mourinho, Conte, mesmo não sendo um mar de simpatia, esbanja energia e emotividade, à la Jürgen Klopp, o técnico do Liverpool, do jeito que a torcida (de qualquer time) gosta.
Em tempo 1: Menciono outros treinadores de renome, com competência a ser debatida, e que estão disponíveis no mercado: Arsène Wenger (ex-Arsenal), Julen Lopetegui (ex-seleção espanhola e Real Madrid), Tata Martino (ex-seleção argentina, campeão há 11 dias, com o Atlanta, da Major League Soccer) e Leonardo Jardim (ex-Monaco, deu visibilidade a Mbappé, hoje no Paris Saint-Germain, Bernado Silva e Mendy, hoje no Manchester City, Fabinho, hoje no Liverpool, e Lemar, hoje no Atlético de Madri).
Em tempo 2: Pep Guardiola, o treinador que todo mundo quer ter, está muito bem no Manchester City, um dos principais rivais do Manchester United, e, consequentemente, indisponível. Ao saber da saída de José Mourinho, com quem tem grande rivalidade desde os tempos de Barcelona x Real Madrid, prestou apoio: “Estou com ele. Eles [clubes] nos contratam para tentar vencer e quando não se vence eu sei o que acontece. Toda a pressão fica nos seus ombros. Mas ele tem muita experiência e logo estará de volta [à ativa]”. Guardiola, é bom frisar, jamais foi demitido – saiu tanto do Barcelona como do Bayern de Munique porque quis.
]]>Em um momento está tudo bem, você está só ou acompanhado, lendo um livro ou vendo TV, passeando, almoçando, batendo um papo… No momento seguinte, a dor súbita, aguda, insuportável.
Vem o desfalecimento, vem a perda dos sentidos; com sorte, vem o socorro.
Podia ter acontecido com qualquer um, porém no sábado passado, dia 5, aconteceu não com um qualquer.
Sir Alex Ferguson, escocês, 76 anos, uma das lendas vivas do futebol, estava à beira da morte na Inglaterra.
Um derrame cerebral o ameaçava. Socorrido, levado ao hospital, iniciou luta silenciosa pela sobrevivência. Passou por delicada cirurgia na cabeça, à qual seguiram-se horas e horas de tensão, de incerteza, e de muitas preces.
O planeta bola, especialmente técnicos e jogadores – Cristiano Ronaldo nesse rol –, parou e propagou pelas redes sociais mensagens de apoio a Fergie (como era chamado pelos mais próximos), quase todas na linha “seja forte”.
Houve grande comoção, afinal, parecia grande a possibilidade de um dos melhores treinadores da história repentinamente deixar o mundo dos vivos.
(Se houver uma enquete com jornalistas especializados para eleger o melhor, é bem possível que ganhe, superando Rinus Michels, que implementou o “futebol total” no início dos anos 1970, e José Mourinho e Pep Guardiola, tops neste século, entre outros.)
Ferguson permaneceu por 26 anos e meio no comando do Manchester United, um dos maiores clubes do mundo. Assumiu no fim de 1986, saiu no meio de 2013.
Mais tempo seguido que Arsène Wenger no Arsenal – o francês, no final do mês passado, anunciou que deixaria, após 22 anos, o cargo que ocupa desde 1996.
Levantamento da ESPN mostra que só três homens ficaram mais tempo treinando ininterruptamente um clube, todos, como Ferguson, no Reino Unido: Ronnie McFall, no Portadown, da Irlanda do Norte (30 anos, 1986 a 2016), Bill Struth, no Rangers, da Escócia (34 anos, de 1920 a 1954), e Willie Maley, no Celtic, também da Escócia (43 anos, de 1897 a 1940).
Nenhum deles, no entanto, conseguiu atingir o extremo sucesso de Ferguson. Foram 38 títulos, média de quase 1,5 por ano, sendo 32 deles no supercompetitivo futebol inglês.
Antes de Ferguson, o Man United, fundado em 1878, tinha sete títulos do Campeonato Inglês. Depois dele, e sempre com ele, ganhou 13.
Sob a batuta do treinador, os Red Devils criaram uma hegemonia e deixaram para trás Liverpool, Arsenal, Everton e Aston Villa. O Man United é o maior campeão nacional, com 20 conquistas – o Liverpool tem 18, o Arsenal, 13, o Everton, 9, e o Aston Villa, 7.
Disciplinador, exigente e determinado, Ferguson tinha uma capacidade tão grande de fazer o time funcionar, independentemente dos atletas que comandava (tirava o melhor tantos de figurões, como Cantona, Beckham, Giggs e Cristiano Ronaldo, como de um bando de medíocres), que depois que ele se aposentou o Man United decaiu consideravelmente.
Não ganhou mais o Inglês (o jejum já dura cinco anos, uma “eternidade”) e ficou fora duas temporadas (2015/2016 e 2016/2017) da Champions League por não conseguir se classificar.
O hoje ex-treinador, que apesar de durão também tinha o lado “paizão” (distribuía afagos aos jogadores que se mostravam comprometidos), faturou ainda com o Man United duas Ligas dos Campeões da Europa (1999 e 2008), uma Copa Intercontinental (contra o Palmeiras, em 1999), um Mundial de Clubes da Fifa (2008), uma Supercopa da Europa, uma Recopa europeia, dez Supercopas da Inglaterra, cinco Copas da Inglaterra e quatro Copas da Liga Inglesa.
Com tantas glórias, fica a questão que lembra o velho slogan do biscoito Tostines (vende mais porque está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho porque vende mais?): Ferguson ganhou tanto porque ficou tanto tempo no Man United ou ficou tanto tempo no Man United porque ganhou tanto?
A conclusão lógica é: os dois.
Soube-se no decorrer da semana que Sir Alex sobreviveu ao terrível susto, encontrando-se agora em reabilitação.
E soube-se também que ele, ao acordar da cirurgia, recorreu ao humor britânico, uma de suas características, tendo perguntado antes de mais nada: “Quanto foi o jogo do Doncaster?”.
Queria saber o resultado da partida do time da terceira divisão comandado por um de seus filhos, que ocorreria no dia em que ele teve a hemorragia cerebral.
Deu, sem premeditar, a mais inconteste prova de amor ao futebol e, por tabela, à família – é casado há 52 anos com Cathy, com quem teve Darren (o técnico do Doncaster), Mark e Jason.
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Em tempo: Por que é Alex Ferguson é sir? Ele recebeu em 1999, da rainha Elizabeth 2ª, o título honorífico por seus serviços prestados ao futebol, tendo se tornado o primeiro britânico a conquistar, em uma única temporada, a Tríplice Coroa continental (Champions League, Campeonato Inglês e Copa da Inglaterra). Primeiro e, até hoje, único.
]]>Comandou os holandeses Ajax e AZ, o espanhol Barcelona, o alemão Bayern e o inglês Manchester United.
Ganhou uma Liga dos Campeões da Europa, uma Copa Intercontinental (ambos com o Ajax, em 1995), uma Copa da Uefa (atual Liga Europa), quatro Campeonatos Holandeses, dois Espanhóis, um Alemão, uma Copa da Inglaterra, entre outros títulos.
Dirigiu por duas vezes a seleção holandesa. A última passagem se encerrou com o terceiro lugar na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, vitória por 3 a 0 sobre a seleção canarinho.
Um currículo respeitável, que deveria ser considerado acima de tudo quando se fala dele.
Para os brasileiros que acompanham futebol há algum tempo, entretanto, Van Gaal é lembrado por outro motivo.
É o treinador que não gostava de Rivaldo, um dos grandes craques do Brasil nos anos 1990 e 2000, eleito o melhor jogador do mundo em 1999 e campeão mundial pela seleção na Copa de 2002 (Coreia/Japão).
É sabido que foi por causa da incompatibilidade com Van Gaal que Rivaldo deixou o Barcelona, onde era ídolo, em 2002.
O ex-atleta, que já chamou o holandês de arrogante e orgulhoso, relatou em uma entrevista ao jornal espanhol Mundo Deportivo que após uma vitória por 3 a 0 sobre o Real Madrid o treinador lhe afirmou que não gostou de ele ter feito um gol. Rivaldo questionou por quê. A resposta: porque você jogou fora da posição que eu mandei.
Fiz essa introdução para relatar um caso mais recente envolvendo Van Gaal e um futebolista brasileiro, o lateral-direito Rafael.
Promissor em sua posição, ele disputou a Olimpíada de Londres, em 2012, na qual o Brasil comandado por Mano Menezes faturou a prata.
Cria do Fluminense e atualmente no Lyon (França), Rafael – que tem um irmão gêmeo também jogador, Fábio – defendeu o Manchester United de 2008 a 2015.
Em entrevista à ESPN, declarou que gostava muito da equipe. E que só saiu por causa de Van Gaal.
Rafael, hoje com 27 anos, relatou dois episódios que tornaram sua estadia em Manchester inviável.
O primeiro, não muito tempo após a chegada do treinador ao Man United, na metade de 2014.
“Van Gaal me chamou ao seu escritório e disse: ‘Você pode sair [do clube]’. O encontro durou um minuto. Demorou um tempo para que eu saísse, mas eu estava desesperado para sair. O que me entristeceu, porque gostava de tudo relacionado ao Manchester United.”
O segundo, no começo de 2015, depois de uma rara partida em que foi titular (só sete em uma temporada completa) e da qual saiu machucado.
“Van Gaal costumava falar conosco [jogadores] depois das refeições. Eu tive uma contusão na cabeça e estava passando a mão nela. Depois de quatro segundos, ele me bateu na cabeça e disse: ‘Por que você não me respeita?’. Eu me levantei e falei: ‘Sempre te respeitei’. Sou um cara calmo, mas fiquei nervoso.”
Rafael contou que logo após o ocorrido seu colega de time Antonio Valencia, equatoriano e também lateral-direito, lhe disse que ele não iria mais ser escalado por Van Gaal.
E não foi mesmo.
Depois de amargar alguns meses só treinando, Rafael foi negociado pelo Man United com o Lyon por € 3 milhões, mesmo valor que o clube inglês tinha pagado ao Fluminense, sendo que seu valor de mercado à época era € 10 milhões.
Em agosto de 2015, três dias após a transferência, ele conta ter recebido uma mensagem de texto de Van Gaal. Escreveu o desafeto, segundo o brasileiro: “Você sabe como é o futebol”.
E aí terminou essa história.
Na França, Rafael encontrou alívio e voltou a ser titular. Em 2016, foi vice-campeão francês. Em 2017, o Lyon acabou em quarto lugar. Nesta temporada, o time é o atual terceiro colocado – o Paris Saint-Germain já se sagrou campeão.
O contrato de Rafael com o Lyon vai até 2019. Já Van Gaal (cujo nome completo é Aloysius Paulus Maria van Gaal) está desempregado.
Encerrada a temporada 2015/2016, o Manchester United o demitiu, substituindo-o pelo português José Mourinho.
Em tempo: Quando estive em Manchester, em 2010, na mesma viagem em que tive a oportunidade de me encontrar com o lendário Sir Bobby Charlton, entrevistei Ryan Giggs, então um dos jogadores mais respeitados e experientes dos Diabos Vermelhos. Ponta-esquerda, ele foi só elogios a Rafael, a quem enfrentava nos treinamentos, classificando-o de “rápido e durão”.
]]>A pior série de reveses na história de um início de campeonato de primeira divisão das cinco principais ligas europeias (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália), superando as 12 derrotas consecutivas do Manchester United no Campeonato Inglês de 1930-1931.
Parecia que nada seria capaz de fazer com que o pequeno Benevento, time do sul da Itália que faz sua estreia na Série A nesta temporada, saísse do zero na tabela.
O Benevento teve uma ascensão rápida e inesperada na Itália, subindo da Série C para a Série B em 2015-2016 (foi sua primeira vez na segunda divisão) e da Série B para a Série A em 2016-2017 (outro feito inédito), o que animava jogadores, comissão técnica, direção e torcida para esta temporada.
Ânimo que passou a se esvair com a falta de resultados. A equipe perdeu a primeira, a segunda, a terceira… a décima segunda, a décima terceira, a décima quarta.
Sampdoria, Bologna, Torino, Napoli, Roma, Crotone, Internazionale, Hellas Verona, Fiorentina, Cagliari, Lazio, Juventus, Sassuolo e Atalanta. Todos passaram, com maior ou menor dificuldade, pelo Benevento.
Neste domingo (3), no estádio Ciro Vigorito, em Benevento (com capacidade para perto de 13 mil pessoas), seria a vez do Milan, de técnico novo (Gennaro Gattuso substituiu Vincenzo Montella), ampliar o sofrimento do time mandante.
E o favorito cumpria o que se esperava: tinha feito dois gols (Bonaventura e Kalinic) e levado um (Puscas).
O Benevento, com um jogador a mais – Romagnoli tinha sido expulso aos 30 minutos da etapa final –, impunha grande pressão, porém o Milan se segurava.
Até que nos acréscimos do segundo tempo, aos 49 minutos (a partida iria até os 50), aconteceu o improvável. Gol do Benevento.
Improvável por ele dar ao time, quando ninguém mais esperava, seu primeiro ponto na elite italiana. Improvável por o autor do gol ter sido… seu goleiro.
Contratado pelo Benevento para esta temporada – antes defendia o Perugia –, Alberto Brignoli, de 26 anos, avançou para a área do Milan e, de cabeça, depois de cobrança de falta de Cataldi, colocou a bola nas redes, fora do alcance de Donnarumma, o goleiro do Milan.
Gol do goleiro Brignoli para o Benevento no último minuto contra o Milan. Primeiro ponto do Benevento na Serie A após 14 jogos. pic.twitter.com/nDYntLbAJU
— Curiosidades Europa (@CuriosidadesEUR) 3 de dezembro de 2017
Êxtase no pequeno estádio. Festa nas arquibancadas. Alegria contagiante dos atletas do Benevento. E perplexidade no rosto de Gattuso.
Brignoli, com seu gol de goleiro na hora agá, proporcionou um desses momentos que fazem do futebol um esporte apaixonante, com acontecimentos empolgantes e sensações indescritíveis, para quem comemora e para quem lamenta – pois será um dia de más recordações para a nação rubro-negra de Milão.
A questão que fica é: esse ponto foi fruto do acaso ou dá para o Benevento conquistar outros muitos pontos, pelo menos mais 33 (no campeonato passado, o Crotone se safou com 34 pontos), suficientes para livrá-lo do retorno à Série B?
A sequência recorde de derrotas praticamente condenou o time, precocemente, ao rebaixamento – com quase metade do campeonato disputado, são nove pontos de distância para a primeira equipe fora da zona da degola.
Isso com a 15ª rodada em andamento, ou seja, esse número aumentaria para pelo menos dez pontos, a depender dos resultados de Fiorentina x Sassuolo (11 pontos) e Hellas Verona (9 pontos) x Genoa (10 pontos).
Assim, será dificílimo, uma tarefa hercúlea, para o Benevento permanecer na elite. Terá de, como nesse dia especial de celebração, fazer o improvável.
Em tempo 1: Uma curiosidade. Brignoli, o goleiro-herói d Benevento, veste a camisa 22. No lance do seu histórico gol, ele ganhou de cabeça do jogador que vestia a camisa 22 do Milan: o zagueiro argentino Musacchio. Depois do jogo, Brignoli resumiu o lance à Sky Sport: “Fechei os olhos e pulei. Foi mais um mergulho de goleiro do que de atacante”.
Em tempo 2: Se você tem mais de 40 anos (talvez mais de 50) deve se lembrar do meia Dirceu, o Dirceuzinho (ex-Botafogo, Fluminense e Vasco), que jogou pelo Brasil nas Copa do Mundo de 1974 (Alemanha Ocidental), 1978 (Argetina) e 1982 (Espanha). Defendeu o Atlético de Madri, no final da década de 1970 e início da de 1980, e atuou por vários clubes italianos. Um deles, o Benevento, já em fim de carreira, na primeira metade da década de 1990. Dirceu morreu em um acidente de carro, no Rio de Janeiro, em 1995.
]]>Aposentado das pistas há pouco mais de uma semana, o jamaicano Usain Bolt, maior velocista da história, terá aos 30 anos de decidir o que fazer da vida.
Se não quiser fazer nada, pode, já que os prêmios em dinheiro que acumulou por suas conquistas são suficientes para viver mais que decentemente até a velhice.
Se quiser, porém, continuar a praticar esporte e realiza um de seus sonhos, que é ser jogador de futebol, também pode.
O clube português Beira-Mar, em postagem bem-humorada em rede social, abriu as portas para o recordista mundial dos 100 m e 200 m, dono de 11 medalhas de ouro em Mundiais e de oito em Olimpíadas.
“Sendo o Sport Clube Beira-Mar um clube onde os sonhos se concretizam, anunciamos que estamos disponíveis para cumprir o sonho de um dos melhores atletas de todos os tempos! Usain Bolt, vem cumprir o teu sonho. Vem jogar futebol para o Beira-Mar!”, diz o texto direcionado à lenda do atletismo.
O problema é que o Beira-Mar passa há dois anos por situação financeira delicada (declarou insolvência em julho de 2015 e passou a disputar não mais a segunda divisão nacional, mas uma liga regional, mantendo-se em atividade com o auxílio de terceiros) e não está em condições de pagar um salário a Bolt.
Assim, propôs alternativas. Eis alguns dos “benefícios” que o clube da cidade de Aveiro ofereceu ao carismático jamaicano, em bom português de Portugal:
– A honra de vestires a nossa camisola;
– Os melhores adeptos do mundo;
– 3 bifanas por semana no Augusto e 3 hambúrgueres no Ramona (com direito a molho, mas sem batatas fritas, que isto não está fácil para ninguém);
– 12 ovos moles por dia (se ninguém os comer logo de manhã no balneário);
– 1 passeio de moliceiro (é só 1, que a 10 euros a viagem não dá mesmo para mais!);
– As minis são as que quiseres no bar do estádio.
Agora, as traduções: camisola é camisa; adeptos são torcedores; bifana é sanduíche de carne de porco; ovo mole é um doce típico da região; moliceiro é um barco; mini é uma cerveja pequena.
Para completar a mensagem, o Beira-Mar exibiu a camisola a ser usada por Bolt, com o número 11, e escreveu: “Usain Bolt, você manterá o amarelo e nós o manteremos campeão”.
Bolt nunca escondeu o desejo de jogar futebol profissionalmente, e sua preferência, escancarada várias vezes, é pelo Manchester United, seu time de coração.
O máximo que a equipe inglesa ofereceu ao astro, entretanto, foi a oportunidade de atuar em um jogo beneficente, no próximo dia 2 de setembro, contra o Barcelona, com a participação de ex-jogadores dos dois clubes – Bolt não poderá jogar porque está em recuperação da lesão que teve em sua corrida de despedida.
Assim, lhe resta por ora tocar a campainha do Beira-Mar e usufruir de todas as “benesses” listadas pela modesta, porém espirituosa, equipe lusa.
Em tempo 1: Hoje em baixa, o Beira-Mar se orgulha de ter tido em suas fileiras Eusébio (1942-2014), considerado o mais grandioso jogador da história de Portugal… até o surgimento de Cristiano Ronaldo. Eusébio jogou pelo time em 1976 e 1977. O único título relevante do Beira-Mar é a Taça de Portugal (equivalente à Copa do Brasil), em 1999.
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