A minha seleção de 2016: Neymar fica fora
Eleger os melhores do ano não é tarefa trivial. É, todavia, um ótimo exercício de memória que inclui elevada capacidade analítica.
Incluir Cristiano Ronaldo na seleção de 2016 é obrigatório. O português não teve seu ano mais artilheiro, porém celebrizou-se pelo Real Madrid em momentos-chave e teve papel relevante também na Eurocopa da França.
Agora… Messi merece estar nela, em um ano no qual ele mesmo se apontou como responsável por a Argentina não conseguir triunfar internacionalmente e até se aposentou, temporariamente, da seleção? Se a “Pulga” entra no time, dá para escalar também Suárez, Griezmann, Neymar e Bale, além do CR7? E Higuaín, que jogou demais pelo Napoli (e manteve o faro goleador na Juventus)? E Vardy, o artilheiro do Leicester, o surpreendente campeão inglês? Não há vaga para todos.
No meio-campo, também há uma boa quantidade de nomes que jogaram muita bola em 2016: Pogba, Kroos, De Bruyne, Modric, Rakitic, Vidal, Mahrez, Özil, Payet…
Na defesa, não há jogadores que tenham sido unanimidade, nem no gol nem na linha, e as conquistas e/ou a regularidade influenciam nas escolhas.
É necessário definir, não dá para ir para 2017 sem cravar o time de 2016. Então, vamos aos eleitos!
Goleiro
O alemão Neuer e o italiano Buffon são melhores que ele? São. Mas Rui Patrício , guarda-metas do Sporting de Lisboa, merece ser o camisa 1 do time por um único jogo, a decisão da Eurocopa. Com várias defesas, muitas delas de alto grau de dificuldade, ele foi vital para Portugal conquistar seu primeiro campeonato relevante e ajudar Cristiano Ronaldo a superar o francês Griezmann como o melhor do ano. Nesse caso, o “entrar para a história” prevalece.
Defesa
Na lateral direita, o mundo carece de jogadores que encantem. Lahm, do Bayern de Munique, é craque, mas seu ano não foi aquela maravilha, ainda mais porque esteve fora de uma das principais vitrines, a seleção alemã (aposentou-se da equipe após a Copa de 2014). Daniel Alves (Barcelona, depois Juventus) permanece uma referência mesmo já sendo, como Lahn, trintão (ambos têm 33). Suas falhas defensivas, contudo, incomodam. Fico com Bellerín, do Arsenal, o melhor da nova geração. Tem fôlego invejável (corre os 90 minutos mais acréscimos), boa técnica, visão de jogo privilegiada e cruza e finaliza muito bem, além de ser bom marcador. Já joga mais que Carvajal (Real Madrid) e Juanfran (Atlético de Madri) e merece ser titular da Espanha.
Na zaga central, depois de relutar um bocado, seleciono Pepe, do Real Madrid e da seleção de Portugal. Ele é um dos mais puros representantes do futebol brucutu e é inferior a Piqué, Varane, Thiago Silva, Boateng, Godín e muitos outros – mas em 2016 trouxe mais resultados que a concorrência. Foi titular tanto na conquista da Champions League (Varane estava lesionado) como na da Eurocopa (deixando no banco dois destes: Bruno Alves, Ricardo Carvalho e José Fonte). Nas duas finais, jogou um futebol bem acima de sua média, especialmente na vitória por 1 a 0 sobre a França, quando esbanjou raça e nem o tradicional cartão amarelo recebeu.
Na quarta zaga, Sergio Ramos é o cara. Não só pela segurança e pela liderança mas também pelos gols – alguns deles decisivos, nos acréscimos das partidas. Com o espanhol na área, crescem demais as chances de o Real Madrid fazer um gol de cabeça. Apenas neste ano, ele balançou as redes oito vezes, uma marca considerável para um beque.
Na lateral esquerda, Marcelo, do Real Madrid, já é faz alguns anos o mais destacado jogador da posição (seguido pelo austríaco Alaba, do Bayern de Munique, e pelo espanhol Jordi Alba, do Barcelona). É, com sobras, o melhor apoiador, o que compensa não ser tão eficaz na marcação. Em 2016, brilhou com o time merengue nas conquistas da Champions League e do Mundial de Clubes. Na seleção, depois de ter tido desentendimento com Dunga, é peça fundamental para o técnico Tite.
Meio-campo
Em se tratando de volante moderno, Pogba tem o perfil ideal. É fisicamente privilegiado (alto, 1, 91 m, e forte), ágil e destemido. Para fazer jus à fama e ao preço (tornou-se o mais caro jogador do planeta ao ser negociado pela Juventus com o Manchester United por € 105 milhões), precisará de muitos títulos e ser, jogo após jogo, exuberante. Pela Juventus, faturou em 2016 o Italiano e a Copa da Itália. Faltou ganhar pela França a Eurocopa. Mesmo assim, Pogba merece entrar no time pelo conjunto da obra: foram 14 gols e 19 assistências no ano.
O argelino Mahrez é um meia ofensivo, extremamente habilidoso, que atua pelos lados do campo, a maior parte do tempo pela direita, apesar de ser canhoto. É árduo decidir qual o MVP (melhor jogador) do Leicester, se ele ou o atacante Vardy, na histórica campanha que resultou no inédito título do Campeonato Inglês para o time que veste azul. Se Vardy foi o homem-gol, marcando 24 vezes (9 em 2016), Mahrez foi, além de artilheiro (17 gols, sendo 4 neste ano), o homem das assistências (11, sendo 4 neste ano). Se a segunda metade de sua Premier League 2015/2016 não foi tão brilhante quanto a primeira, ele compensou com as performances na Champions League, neste segundo semestre: em cinco jogos, marcou quatro gols e deu uma assistência – o Leicester está nos mata-matas, que começam em fevereiro.
Não vou deixar de encaixar Messi. Seu 2016 foi novamente de dezenas de gols (62, sendo 54 pelo Barcelona e 8 pela Argentina), e brilhou na Copa América dos EUA até a final, quando a Argentina sucumbiu nos pênaltis ante o Chile. Escalo Messi neste setor pois ele tem atuado em muitos jogos como um armador, pegando a bola mais atrás e avançando, com velocidade e dribles, ou fazendo ótimos passes e lançamentos para Neymar e Suárez. Tem sido, mais e mais, um atleta mais cerebral, sem perder a conhecida e necessária agudeza.
Ataque
Um dos meus escolhidos é o francês Griezmann, que em 2016 se mostrou ao mundo com gols decisivos na Liga dos Campeões (contra Barcelona e Bayern) e na Eurocopa (diante de Irlanda e Alemanha), além de um futebol extremamente simples e objetivo. Faltou para o estrelato, assim como para seu compatriota Pogba, ser o “man of the match” (homem do jogo) na final da Euro. Se isso acontecesse, teria chance de desbancar Cristiano Ronaldo e faturar sua primeira Bola de Ouro.
Outro escolhido é Suárez, o uruguaio que neste ano não se celebrizou por morder alguém (lembra o que ele fez com Chiellini na Copa de 2014?), mas pela interminável sede de gols. Apelidado “El Pistolero”, Luisito anotou 54 tentos (51 pelo Barcelona, 3 com a seleção), e poderiam ter sido mais caso não tivesse se ausentado da Copa América por lesão. Muito graças a ele o Barcelona faturou o Campeonato Espanhol.
Por fim, Cristiano Ronaldo. Somando clube e seleção, marcou 55 gols em 2016, sendo que pelo menos 5 foram decisivos. Três na final do Mundial de Clubes da Fifa, contra o Kashima Antlers, um na semifinal da Eurocopa, diante do País de Gales (em jogo no qual duelou com Bale), e o derradeiro pênalti contra o Atlético de Madri que valeu a taça da Liga dos Campeões (este último gol, porém, não entra na contagem dos 55 pois foi em disputa de pênaltis).
Neymar está fora da minha lista.
Apesar de ter sido essencial para o Brasil faturar o inédito ouro olímpico, um feito tremendo, ele esteve um nível abaixo dos outros membros do trio MSN (Messi-Suárez-Neymar), de Cristiano Ronaldo, de Bale (grande Eurocopa) e de Griezmann (grandes Eurocopa, Champions League e Espanhol). Conta contra o único supercraque brasileiro o fato de não ter disputado a Copa América Centenário – uma atuação de gala nessa competição poderia fazer a diferença.
Eis o time, em um pouco ortodoxo e bem ofensivo 4-1-2-3: Rui Patrício (Sporting, 28 anos); Bellerín (Arsenal, 21 anos); Pepe (Real Madrid, 33 anos), Sergio Ramos (Real Madrid, 30 anos) e Marcelo (Real Madrid, 28 anos); Pogba (Manchester United, 23 anos); Mahrez (Leicester, 25 anos) e Messi (Barcelona, 29 anos); Griezmann (Atlético de Madri, 25 anos), Suárez (Barcelona, 29 anos) e Cristiano Ronaldo (Real Madrid, 31 anos).
São três portugueses, dois espanhóis, dois franceses, um argentino, um uruguaio, um brasileiro e um argelino. Sete deles jogam na Espanha, três na Inglaterra e um em Portugal.
Quem eu acho que se manterá nesse 11 ao término de 2017? Messi, Pogba, Bellerín, Marcelo e Cristiano Ronaldo.
Em tempo: O leitor pode questionar: ninguém selecionado que joga nas Américas ou na África? Não. Ninguém do Atlético Nacional, de Medellín, campeão da Libertadores? Não. Gabriel Jesus é o único de fora da Europa que merece ser mencionado, devido ao ano sensacional pelo Palmeiras e também pela seleção brasileira. Porém é preciso mais. Quero vê-lo em ação no Manchester City (tomara que Guardiola lhe dê espaço), a fim de saber se sua ascensão não é passageira. Para estar em uma seleção do ano, é preciso ser claramente um dos melhores, e o jovem de 19 anos ainda não está nesse patamar.