Nesse esporte, elas lutam por melhores salários, por melhores condições profissionais (como infraestrutura adequada para treinamento), por mais visibilidade nos meios de comunicação. Por respeito e por reconhecimento.
As conquistas são poucas, vêm a passos lentos, e a diferença escancarada para o universo masculino gera insatisfação.
Uma das queixas recentes partiu de Emma Hayes, treinadora do time feminino do Chelsea, da Inglaterra, um dos clubes mais poderosos do mundo.
Emma tem 44 anos, nunca foi jogadora, porém sua ligação com o futebol é antiga. Desde 2001 comanda equipes –começou no Long Island Lady Riders e passou por Iona College e Chicago Red Stars (todos dos EUA) antes de assumir o Chelsea, em 2012.
Ela reclamou da falta de ferramentas tecnológicas nas partidas do Campeonato Inglês feminino, a saber, o VAR (árbitro assistente de vídeo), com múltiplas funções, e a tecnologia da linha de gol, que indica se a bola entrou ou não na meta.
Esses dois recursos estão disponíveis nos jogos da Premier League, a versão masculina (primeira divisão) do Inglês.
“Todos nos acostumamos com o VAR e a tecnologia na linha do gol, então acho que não tê-los no jogo feminino é como sermos relegadas a cidadãs de segunda classe”, declarou Emma à Sky Sports depois do jogo em que o Chelsea perdeu de 3 a 2 do Arsenal, no dia 5.
O gol de Beth Mead, que ampliou para 3 a 1 a vantagem do Arsenal no segundo tempo, foi irregular. A atacante estava em claro impedimento, não anotado pela bandeirinha. Sem o auxílio da videoarbitragem, o gol foi validado.
A second goal for @bmeado9 at the Emirates!
Watch the #BarclaysFAWSL on @SkySports pic.twitter.com/tjQXhSdTxd
— Barclays FA Women’s Super League (@BarclaysFAWSL) September 5, 2021
“Ela [Beth Mead] estava dois metros à frente”, constatou a técnica do Chelsea. “Devíamos exigir isso [o VAR]. Não devemos esperar padrões mais baixos para o futebol feminino.”
“Dizem que [a tecnologia nos jogos femininos] não é prioridade porque é muito cara. Mas eu considero que estamos vendendo barato nosso produto”, completou Emma.
O VAR é controverso e está longe de resolver todas as falhas da arbitragem de campo. O próprio árbitro assistente de vídeo comete erros, algumas vezes incompreensíveis.
Porém, no caso mencionado por Emma, se houvesse a tecnologia, que almeja evitar “erros claros e óbvios”, não há dúvida de que o gol do Arsenal seria anulado.
Independentemente desse lance, a treinadora do atual bicampeão inglês está coberta de razão.
Em uma sociedade que almeja a igualdade entre os gêneros, a falta do VAR nos campeonatos femininos é relutância inequívoca a esse objetivo.
Leia também: Ex-capitão da Holanda apimenta discussão sobre desigualdade salarial
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Em tempo: No Brasil, a comparação é esta: enquanto o Campeonato Brasileiro masculino da Série A conta com o VAR em todos os jogos (380), o da Série B em 190, o da Série C em 26 e o da Série D (quarta divisão) em 14, o Brasileiro feminino, que já está na decisão (Corinthians x Palmeiras), só pôde tê-lo a partir das semifinais, em um total de seis partidas.
]]>A demora na tomada das decisões do VAR (árbitro assistente de vídeo), várias vezes de dois, três, quatro minutos, torna o jogo moroso, e é chato demais ficar esperando por um veredicto que, vê-se com frequência maior que a desejada, nem sempre é acertado.
O objetivo proposto para a introdução do VAR –corrigir erros claros e óbvios da arbitragem de campo, em situações específicas– não tem sido cumprido.
Para-se o jogo para checar jogadas quando não é necessário. Qualquer coisinha é motivo para haver a verificação por vídeo.
Assim, não é questão de ser contra o emprego do VAR, mas a favor de que ele seja utilizado adequadamente e parcimoniosamente.
Dito isso, é preciso dizer que o VAR fez falta, e muita, em uma partida das eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, no sábado (27), em Sérvia x Portugal.
Em Belgrado, as duas seleções empatavam por 2 a 2, e o jogo estava nos acréscimos do segundo tempo.
Faltando 15 segundos para o fim, o lateral esquerdo Nuno Mendes lançou a bola pelo alto para a área rival, na direção de Cristiano Ronaldo.
Portugal are denied a clear winner in tonight’s match vs Serbia! pic.twitter.com/z8kdNdYdLB
— Onside Football UK (@OnsideUK) March 27, 2021
O cinco vezes melhor do mundo foi mais veloz que o zagueiro Pavlovic e, com precisão, deu um toque na bola antes da chegada do goleiro Dmitrovic, que saiu de forma atabalhoada.
A bola se encaminhava para o gol vazio, ia entrando, quando, com um carrinho, Tadic –por que o meia-atacante, camisa 10, capitão da Sérvia, estava ali, como um beque, àquela hora, não se sabe– afastou a bola.
Na sequência, Bernardo Silva ainda chutou, e de novo Tadic, na pequena área, interceptou o chute.
Reclamação geral dos portugueses, que consideraram que a redonda havia cruzado a linha do gol na tentativa de Cristiano Ronaldo.
O bandeirinha que acompanhava o ataque luso, o holandês Mario Diks, e que estava muito bem posicionado, junto à linha de fundo, não correu para o meio de campo, ou seja, considerou que a bola não tinha entrado.
Estava errado. Pelo menos em um ângulo exibido nos replays percebe-se, sem margem para dúvida, que ela tinha entrado completamente antes da intervenção de Mitrovic.
A reclamação exacerbada rendeu a Cristiano Ronaldo o cartão amarelo. Revoltadíssimo, o camisa 7 recusou-se a ficar em campo. Fez sinais de que sua seleção estava sendo roubada, jogou a tarja de capitão no chão e foi para o vestiário.
O CR7 diria depois, em postagem em rede social, ao enfatizar que se sente orgulho de capitanear Portugal, escreveu que “há momentos muito difíceis com os quais lidar, especialmente quando sentimos que toda uma nação está sendo prejudicada”.
Ao ver o lance após o jogo, o árbitro Danny Makkelie, compatriota de Diks, dirigiu-se até o treinador da seleção lusitana, Fernando Santos, para pedir desculpas pelo erro.
Que, diga-se, não foi dele. Da posição em que estava, ele não tinha como ver se a bola entrara ou não. Se alguém errou, foi Diks.
Se alguém errou mais, foi quem não providenciou para que o VAR estivesse operante nos Bálcãs.
Aliás, nem Sérvia x Portugal teve o VAR, nem nenhum outro confronto das eliminatórias da Europa para o Mundial de 2022.
Que seja apontado então o culpado: a Uefa, entidade máxima do futebol no velho continente e organizadora do qualificatório europeu para a Copa.
Por que não se está usando o famigerado –que, contudo, nesse caso seria utilíssimo– VAR em uma competição importantíssima, cuja perda de pontos (Portugal deveria ter somado três em vez de um) pode acarretar a não ida ao mais relevante torneio de futebol do planeta?
Feito o contato com a Uefa, veio a resposta.
Pensei que seria relacionada a uma questão de desigualdade esportiva, como publicou o jornal espanhol Marca em texto de Gregor Chappelle:
“Devido ao fato de que nem todos os estádios estavam equipados para o uso do VAR (…), considerou-se injusto usar em alguns e não em outros, então as autoridades decidiram não utilizar para assegurar igualdade de condições”.
Mas não. Não houve justificativa nesse sentido, tampouco de ordem financeira, até porque entra muito dinheiro na entidade –o balanço financeiro de 2019, o mais recente, registrou receita de € 3,86 bilhões, ou R$ 26,2 bilhões, mais que o custo (R% 25,5 bilhões) de todas as obras para a Copa de 2014, no Brasil, segundo cálculo do Tribunal de Contas da União.
A Uefa terceirizou a responsabilidade. Eis o que ela afirmou por intermédio de seu departamento de comunicação:
“Em 2019, a Uefa propôs à Fifa a implementação do VAR nas eliminatórias da Copa [de 2022]. O impacto da pandemia [de coronavírus] nas capacidades logística e operacional fez a Uefa (…) desistir da proposta de implementar o VAR no qualificatório europeu”.
Que a Covid é faz mais de ano um gravíssimo problema mundial de saúde, sendo passível de se discutir se jogadores deveriam estar viajando de um país a outro para disputar partidas de futebol, sem dúvida.
Porém, se jogadores podem viajar, por que os responsáveis por atuar no VAR (árbitros e técnicos para operar o equipamento) também não podem?
E, se não faltava dinheiro, por que não se podia instalar os aparelhos necessários em cada estádio, seguindo os protocolos de segurança sanitária de cada país?
Por essas e outras é que o futebol, que tantas emoções positivas nos traz semanalmente, traz também, não raramente, a sensação de desgosto e frustração, por saber que se pode, com um pouco de organização e vontade, evitar ocorrências que prejudiquem de forma escandalosa uma equipe –seja ela qual for.
Mas é mais fácil botar a culpa na Covid.
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Em tempo: Sérvia x Portugal não tinha o árbitro de vídeo e não tinha outro recurso –o qual tem o meu apoio incondicional– que confirmaria o gol de Cristiano Ronaldo: a tecnologia da linha de gol. Passou da linha? O árbitro recebe a informação em seu relógio. Questionada, a Uefa não explicou a razão de ela não estar presente.
]]>Diante do Tigres, do México (o algoz do Palmeiras), a equipe alemã se mostrou muito superior, como era esperado de um time recheado de estrelas, porém o resultado final foi um magro 1 a 0.
E com um gol, de Pavard, irregular. Antes de a bola sobrar para o lateral francês (autor de um dos mais belos tentos da Copa do Mundo de 2018), em dividida pelo alto do goleiro argentino Guzmán com o atacante Lewandowski, a bola tocou no braço do artilheiro polonês.
A atual regra do futebol afirma que, independentemente de ter havido intenção, quando a redonda bate na mão ou no braço de um atleta do time que ataca, em jogada que resulte em gol, esse deve ser anulado.
Não foi. O árbitro uruguaio Esteban Ostojich não viu, nem nenhum de seus assistentes no campo, os bandeirinhas Nicolás Taran e Richard Trinidad, também uruguaios.
E, em princípio, “tudo bem não ver”. (Entre aspas porque o ideal é ver.)
Sendo essa uma partida importantíssima, a mais importante entre todas as disputadas por clubes na temporada, já que definia o campeão do mundo, havia, “dando cobertura”, a visão de quem tudo vê, pois amparado que está por uma dezena de ângulos de todos os lances: o VAR (árbitro assistente de vídeo).
No caso da decisão no estádio Cidade da Educação, em Doha (Qatar), o VAR era Julio Bascuñán, do Chile. Que certamente viu e reviu o lance. Mas não houve a orientação a Ostojich para que o gol fosse invalidado.
E, desse modo, com um gol ilegal, o Bayern amealhou seu quarto título mundial.
Bayern München hand goal vs tigres#MundialDeClubes #BayernMunich pic.twitter.com/TGxqLdUBDp
— Enrique E (@applemx) February 11, 2021
O que aconteceu? Bascuñán, mesmo tendo checado a jogada em várias câmeras, não enxergou que a bola encostou no braço de Lewandowski antes de chegar a Pavard?
Isso é possível, pois mesmo todo o aparato tecnológico pode ser insuficiente para que um ser humano, por mais preparado que seja –e um árbitro em uma final de Mundial sem dúvida é–, enxergue tudo sempre.
Deveria ter visto? Sim, estava lá para isso. Não viu? É o que suponho. Saberemos? Se ele ou a Fifa falarem sobre isso, sim.
Vão falar? Talvez. Mas não será agora.
Tentei obter da Fifa, a entidade máxima do futebol e organizadora do Mundial de Clubes, informações sobre esse gol.
Fiz as seguintes perguntas: Por que, depois de ver o lance em várias câmeras e ângulos, o VAR não recomendou a anulação do gol de Pavard? O que o VAR disse sobre essa jogada? Ele não viu a bola bater no braço de Lewandowski? A Fifa considera que houve erro do VAR nesse lance? Se sim, que providências podem ser tomadas?
Houve resposta. Aliás, nisso a Fifa deve ser elogiada. Não lembro de alguma vez a federação me ter deixado sem resposta. Mesmo que a resposta tenha sido improdutiva ou insatisfatória, como desta vez.
Por meio de um porta-voz, assim ela se manifestou: “A Fifa usualmente não faz comentários referentes às decisões dos árbitros em uma partida. Entretanto devemos lembrar que a Regra 5 [do futebol] diz que ‘o juiz deve ser auxiliado pelo VAR somente quando houver erro claro e óbvio ou um incidente sério não visto’”.
O gol do Bayern foi inicialmente invalidado, com a marcação do impedimento.
O VAR (Bascuñán) reviu esse apontamento, e a verificação concluiu que não havia essa irregularidade, fazendo com que o juiz de campo (Ostojich) voltasse atrás.
O problema é que a bola bateu no braço esquerdo do camisa 9 da equipe bávara. Não se tratava de um “erro claro e óbvio”, mas claramente e obviamente foi um “incidente sério não visto” pelo árbitro principal. E o VAR fez mal a cobertura. Falhou.
Por que falhou? Repito: ainda não há essa resposta.
A Fifa não ajudou, então tentei obter a versão de Bascuñán.
Solicitei por email, tanto à Federação de Futebol do Chile como à Confederação Sul-Americana de Futebol, o contato do árbitro, para que ele pudesse esclarecer. Não chegou resposta nem de uma nem de outra entidade.
Claramente há uma blindagem à arbitragem. Os árbitros não falam sobre suas decisões nos jogos.
Não há norma que impeça que se pronunciem, mas não se quer, por algum motivo, da parte deles e/ou da parte de seus superiores, que eles tenham voz.
Depois de cada jogo, os treinadores falam, jogadores falam (cada vez menos, mas falam). Jamais alguém da equipe de arbitragem fala.
Para aproximar essa questão do leitor, no nosso campeonato, o Brasileiro, que se encerrou nesta quinta (25), em toda rodada comentaristas de rádio, TV e internet tentam explicar marcações (ou não marcações) polêmicas.
São tentativas válidas, mas que acabam se restringindo a achismos, a possibilidades. Não há certezas, e sim confabulações.
Para exemplificar, duas marcações recentes, que ocorreram na segunda metade deste mês.
1) Em São Paulo 1 x 1 Palmeiras, na sexta (19) no Morumbi, Leandro Vuaden deixou de dar um pênalti no palmeirense Luiz Adriano.
Ele pode ter achado que não foi pênalti? Pode. Seria um argumento válido.
Seria. Perde sua força porque em Palmeiras 0 x 2 São Paulo, no primeiro turno, o mesmo Vuaden deu um pênalti para o São Paulo em um lance, se não idêntico, parecidíssimo.
A POLÊMICA DO JOGO! Por entrada dura em Filipe Luís, Rodinei foi expulso de campo após intervenção do VAR. Concorda com a decisão da arbitragem? #Brasileirão2020 pic.twitter.com/fxd19tEs2J
— TNT Sports Brasil (@TNTSportsBR) February 21, 2021
2) Em Flamengo 2 x 1 Internacional, no domingo (21) no Maracanã, Raphael Claus expulsou o lateral Rodinei, do time gaúcho, depois de ter sido chamado pelo VAR, Rodrigo Guarizo do Amaral, para observar jogada dele com o lateral flamenguista Filipe Luís.
Claus não deu nem falta no lance em que Rodinei claramente pisou no tornozelo do adversário. Possivelmente, não viu. Alertado pelo VAR, constatou a falta no equipamento de vídeo que fica na lateral do campo e constatou também que o agressor deveria ser expulso.
Só que em 2019, em um Flamengo x Botafogo, o mesmo Claus, em lance igualmente de pisão, de Cuéllar em Marcinho, até mais violento que o de Rodinei em Filipe Luís (com o agravante de ter pegado por trás), mostrou somente cartão amarelo ao flamenguista.
O VAR, Thiago Peixoto, que poderia intervir e solicitar revisão a Claus, aparentemente não o fez.
POLÊMICA! Cuellar chegou forte em Marcinho e recebeu cartão amarelo. O time do botafogo pediu a revisão do lance no VAR. Merecia a expulsão? Diz aí! #BrasileirãoNoEI pic.twitter.com/HDAmw40gKW
— TNT Sports Brasil (@TNTSportsBR) July 28, 2019
Sem ouvir Claus, sem ouvir Vuaden, sem ouvir Peixoto, ninguém nunca vai compreender o critério utilizado pelos juízes.
Só eles podem explicar, e seria ótimo que explicassem, para que jornalistas e torcedores tenham esclarecimento, saibam qual é a lógica (se é que existe uma).
Porém, infelizmente, isso não aconteceu e não acontecerá.
Questionei a Confederação Brasileira de Futebol acerca do motivo de os árbitros não darem entrevistas depois dos jogos, com a finalidade de comentarem suas atuações.
A CBF afirma seguir uma orientação do Ifab, órgão que regulamenta as regras do futebol, segundo a qual os árbitros não devem dar declarações na véspera dos jogos nem ao término dos mesmos.
A entidade ressalta que não há nenhum documento que comprove essa recomendação do Ifab, mas que ela é passada nos encontros anuais do órgão com as confederações nacionais.
Não tenho por que duvidar dessa versão, até porque não tenho uma que a conteste, só que é heterodoxo não existir nada por escrito a respeito de um tema tão em evidência e é estranho que os responsáveis por tratar das regras do esporte sejam aqueles a “amordaçar” os árbitros (por que fariam isso?).
Um motivo mais plausível para a blindagem seria simplesmente este: uma questão de preservação.
Árbitros erram, sim, e nem a tecnologia de vídeo os tornará infalíveis. Isso é fato, e ocorre com muita frequência.
Não falando, eles ficam menos sujeitos a confrontações que podem, se bem embasadas, escancarar suas deficiências e, principalmente, a tremenda falta de critério, não só coletiva como, muito pior, individual. Muitas carreiras certamente iriam pelo ralo.
Se for pensado assim, a blindagem da turma do apito faz todo o sentido. Pois, para tentar explicar o inexplicável, é melhor nem tentar.
O silêncio, nesse caso, age como contenção de danos, como autoconservação do profissional.
Se for pensado assado, a blindagem torna a arbitragem menos transparente, dando a nítida impressão de que é ruim, mal orientada ou até mal-intencionada, impressão que em nada ajuda os já tão criticados e mal falados juízes de futebol.
O silêncio, nesse caso, é confissão de culpa, atestado de incompetência e delator de suposta má-fé.
]]>O carrinho é a jogada em que o jogador se atira para a frente ou para o lado, pela superfície do campo ou quadra, deslizando o corpo com o intuito de acertar a bola com os pés, geralmente quando esta é conduzida pelo adversário.
Constitui quase sempre um lance defensivo –mas há ocasiões em que até gol é feito de carrinho (a favor ou contra).
Só que muitas vezes o autor do carrinho não atinge a bola, ou não somente a bola, golpeando também o oponente, o que constitui infração.
Se é dentro da área, essa falta é pênalti, o que dá ao adversário chance enorme de fazer um gol.
Assim disse Guedes, depois de ser criticado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro no contexto do programa Renda Brasil: “Falei: ‘Pô, presidente. Carrinho, entrada perigosa, ainda bem que foi fora da área, senão era pênalti’.”.
O carrinho é uma jogada, conforme expôs o ministro, perigosa, que não deveria mais existir no futebol. Mal aplicada, torna-se violenta e pode provocar lesão séria no colega de profissão.
Recordo-me do que disse Piazza, ídolo do Cruzeiro, campeão mundial com a seleção brasileira na Copa de 1970, em entrevista a mim concedida em 2010, ao se referir a uma lesão em partida no Maracanã, em 1968:
“Tive uma contusão grave que foi uma torção nos ligamentos do joelho esquerdo e uma fratura do perônio [fíbula] numa jogada do famoso e detestável carrinho que foi utilizado pelo jogador Virgili, da seleção uruguaia, na tentativa de recuperar uma bola”.
Mais recentemente, em novembro de 2019, o português André Gomes, do Everton, teve uma fratura de tornozelo no Campeonato Inglês depois de um carrinho por trás do sul-coreano Son, do Tottenham.
Até mesmo Zico, um dos melhores jogadores da história do futebol nacional, foi vítima de um carrinho violento, executado por Márcio Nunes, do Bangu, em jogo do Estadual do Rio, em 1985. O Galinho teve os ligamentos do joelho rompidos.
O carrinho é tão detestável (perfeito esse adjetivo usado por Piazza) que, por ironia, acabou punindo de forma definitiva uma das mais fortes equipes do mundo na Liga dos Campeões da Europa.
No início deste mês, Juventus e Lyon faziam em Turim o jogo de volta das oitavas de final da Champions. Na ida, 1 a 0 para o time francês.
Aos 10 minutos, Betancur, da Juventus, deu um carrinho na área em Aouar, em um ataque do Lyon.
Como afirmou Guedes, carrinho na área constitui pênalti –desde que quem o executa atinja o adversário.
O árbitro alemão Felix Zwayer marcou a penalidade máxima. O problema é que, dessa vez, nitidamente Betancur acertou a bola.
Com a presença do VAR (árbitro assistente de vídeo), que consegue ver a jogada na TV, em vários ângulos, e avisar o juiz de campo em caso de um erro “claro e óbvio”, era de se esperar que a marcação fosse revertida.
Mas não. O árbitro de vídeo (Christian Dingert, também alemão) não alertou Zwayer sobre a decisão equivocada.
Achei tão incrível essa falha da arbitragem que fiz contato com a Uefa (entidade que rege o futebol europeu) para tentar um entendimento dessa não marcação.
Queria saber se um erro tão clamoroso não mancha de forma incisiva a imagem do VAR. No meu íntimo, pensei: “Afinal, para que essa porcaria serve?”.
Depois de quase duas semanas de espera, a resposta da Uefa foi: “Não temos comentários sobre esse assunto”.
Apenas para não escrever “sem comentários” acerca de uma resposta tão inútil, escrevo que a conclusão é ser o VAR um tema que causa muito incômodo às autoridades da bola –para obter uma informação da CBF (Confederação Brasileira do Futebol), sobre o custo do VAR no Campeonato Brasileiro, levei três semanas.
Voltando ao carrinho que resultou em pênalti (mal marcado) na Champions League, o Lyon converteu, e esse gol se mostrou vital para a classificação.
O time italiano, liderado por Cristiano Ronaldo, ainda virou para 2 a 1, mas o gol fora de casa serviu como critério de desempate.
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]]>De acordo com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o preço pago a cada partida para que o sistema de videoarbitragem seja operacionalizado é de R$ 51 mil, em média.
Essa cifra representa mais que o dobro da verificada na Espanha, país em que o VAR está presente em todas as partidas da primeira e da segunda divisão. Lá, o custo por jogo é de R$ 23,9 mil.
Se a comparação for com a Holanda, a diferença também é enorme, 80% a mais. Na Eridivisie, a divisão de elite holandesa, o sistema custa R$ 28,3 mil por partida.
Em ambos os casos, houve a conversão de euros para reais.
Nas últimas semanas, fiz contato com as principais ligas europeias para questionar quanto custa ter o VAR em ação, incluindo todas as despesas que ele exige, como pessoal, equipamentos, deslocamentos etc.; enfim, a logística da estrutura.
Representantes de Espanha (“calculando por partida, o custo é de cerca de € 5.200”, afirmou Eduardo Sobreviela, coordenador de comunicação da Federação Espanhola) e Holanda (“para 324 jogos, em torno de € 2 milhões”, disse Bram Groot, assessor de imprensa da Federação Holandesa) foram os únicos a revelar os valores.
Na França, a indagação, feita pelo menos cinco vezes por escrito desde 22 de agosto, foi solenemente ignorada.
Federação Italiana, alegando sigilo das informações, e Premier League, a liga responsável pelo Campeonato Inglês (“não divulgamos esses dados”), declararam que não disponibilizariam os custos do VAR.
A Liga de Portugal afirmou, por meio de seu departamento jurídico, que questões relativas à arbitragem ficam “na alçada da Federação Portuguesa”, que “presta todos os serviços de nomeação, observação e avaliação dos elementos das equipas de arbitragem que atuam nas competições profissionais, incluindo os relativos ao VAR”.
Contatada, a federação lusa não se manifestou.
Na Alemanha, a federação empurrou a questão para a Liga de Futebol (DFL), que disse não revelar o custo do VAR, porém, em tom contraditório e evidenciando falta de sintonia com a federação, empurrou de volta o tema para ela.
“Talvez possam dizer a você o custo por jogo do árbitro assistente de vídeo e de seu auxiliar (assistente do árbitro de vídeo). Acredito que a federação forneça esse número caso solicitado”, escreveu Christopher Holschier, chefe de comunicação corporativa da DFL.
Novamente a solicitação foi feita, mas nada de resposta.
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Em relação à CBF, é elogiável que seja transparente ao expor o custo do sistema, diferentemente do verificado com Alemanha, Inglaterra, França, Portugal e Itália.
Pedi, ademais, à confederação que se posicionasse acerca da disparidade do valor pago aqui, em relação ao desembolsado por espanhóis e holandeses, e recebi a seguinte resposta.
“A CBF entende [o VAR] como um investimento no aperfeiçoamento do futebol, na qualidade do produto apresentado ao torcedor que acompanha no estádio, em casa ou qualquer outro local pelos dispositivos móveis.”
“É importante destacar que qualquer projeto sobre futebol brasileiro envolve um território com dimensões continentais, o que faz do nosso o maior VAR do mundo.”
“Há conversas sobre a evolução do sistema, com central única de revisão das imagens, o que exigiria um investimento inicial muito maior e, em médio prazo, reduziria os custos.”
“Neste momento, a preocupação com a qualidade do espetáculo vem se mostrando correta. Estamos melhorando a cada rodada e a aprovação do árbitro de vídeo comprova o acerto desse pensamento.”
Traduzirei para o leitor o que se depreende dessa prolixidade da CBF:
Então, se a CBF tem a solução para, conforme exposto, reduzir os custos a médio prazo, que a viabilize o quanto antes – sem a desculpa de não haver verba para tal, pois de pobre a entidade não tem nada.
Em tempo: Houve também tentativas de obter a posição da Hawk-Eye, que cuida da parte técnica do VAR tanto no Brasil como na Espanha e na Holanda, acerca dos motivos da diferença financeira. A empresa não se pronunciou.
]]>E, dessa vez, sem nem mesmo estar presente.
Aconteceu no Campeonato Boliviano, na partida de sábado (3) na cidade de El Alto, entre o mandante Always Ready (time de nome inusitado, que significa, na tradução do inglês, Sempre Pronto) e o Bolivar, atual campeão e disparado o maior vencedor (29 títulos).
O segundo tempo se aproximava do final quando o Always Ready, que perdia por 1 a 0, lançou a bola na grande área na tentativa de empatar.
Houve uma disputa aérea, e os atletas da equipe da casa reclamaram acintosamente de um toque na mão de Orellana, do Bolivar.
O juiz da partida, Raul Orosco, de 40 anos, que desde 2009 é credenciado pela Fifa, parou o jogo e dirigiu-se à lateral do campo, onde conversou com o quarto árbitro – que não estava em boa posição para emitir opinião acerca da jogada.
Ao retornar, antes de apontar para a marca do pênalti, Orosco fez um gesto com os braços e com as mãos similar ao que os árbitros fazem depois de consulta ao VAR.
12th min of added time in Club Always Ready’s game vs. Bolívar in Bolivian top flight y’day. After talking to 4th official, ref makes VAR sign, points to his ear and gives penalty to Always Ready.
One problem – there is no VAR in the Bolivian league.pic.twitter.com/u13z2fpsac
— Joshua Law (@JoshuaMLaw) 4 de agosto de 2019
Só que o Campeonato Boliviano não usa o VAR, muito possivelmente por falta de verba para implantar o aparato tecnológico necessário para seu funcionamento. Ou seja, não há na lateral do campo o monitor para verificação das dúvidas.
Foi a deixa para que a revolta se instaurasse entre jogadores e comissão técnica do Bolivar. Com razão.
Se não há VAR, mas Orosco agiu como se sua decisão tivesse sido tomada depois de consulta ao replay do lance, fica a nítida impressão de que alguém com acesso às imagens contatou a equipe de arbitragem para avisar que a bola tocou no braço do atleta do Bolivar.
Não vejo outro jeito de o árbitro ter mudado seu veredicto.
Nas regras do futebol não há nada que verse sobre interferência externa nas decisões do árbitro, mas, caso venha a ocorrer, é indecoroso.
Enviei mensagem à Federação Boliviana de Futebol pedindo esclarecimento sobre o caso e questionando por qual razão Orosco modificou sua marcação. Não houve resposta.
Nesta segunda (5), em entrevista à rádio ATB, de La Paz, o árbitro declarou ter sido mal interpretado.
“Em nenhum momento fiz um sinal de VAR. Usei a linguagem corporal para que todos soubessem que, se evidentemente houve um toque na mão, deveria ser penalizado. O regulamento faculta o uso da linguagem corporal.”
Acredite quem, e se, quiser.
Em tempo: E o pênalti polêmico, cobrado mais de dez minutos depois de ter sido marcado? Foi convertido? Não. O uruguaio William Ferreira acertou a trave, e o Always Ready perdeu a partida.
]]>Um dia antes de Liverpool 2 x 0 Tottenham, Espérance, da Tunísia, e Wydad Casablanca, de Marrocos, entraram em campo em Radès, cidade tunisiana, para definir o campeão da África.
O jogo de ida, no dia 24 de maio, em Rabat, tinha terminado 1 a 1.
No duelo decisivo, o Espérance, que defendia o título e jogava empurrado por sua torcida, marcou logo aos 4 minutos do primeiro tempo com o argelino Belaïli.
Não conseguiu, entretanto, ampliar, e o Wydad, que ganhara a Champions em 2017, empatou aos 14 minutos do segundo tempo com El Karti, de cabeça.
Só que o gol foi anulado, com marcação de impedimento pela arbitragem.
Lance duvidoso? Sim. Deveria ser um problema? Não.
Por quê? Porque existe o VAR (árbitro assistente de vídeo), que deve, com o uso de recursos tecnológicos, mostrar-se infalível em lances não interpretativos, como é o caso do impedimento.
Os jogadores do Wydad esperaram então que o árbitro Bakari Gassama, de Gâmbia, fosse avisado pelo VAR a respeito da posição de El Karti.
Porém isso não aconteceu, e iniciou-se uma confusão, com Gassama conversando com os atletas do Wydad, tentando explicar o inexplicável: o VAR não estava operante.
Algum defeito impediu o equipamento de funcionar. Ou seja: deveria ter o VAR, mas não teve o VAR.
Em uma final de Liga dos Campeões, mesmo sendo na África, continente menos favorecido economicamente, é inaceitável que isso aconteça.
Tomando conhecimento da situação, o Wydad decidiu não jogar mais.
Não adiantou nem a ida ao campo do presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), o madagascarense Ahmad Ahmad, para tentar fazer jogadores e comissão técnica mudarem de ideia.
Passada mais de uma hora de paralisação, Gassama deu a partida por encerrada, e a CAF proclamou o Espérance campeão.
A decisão do clube marroquino de desistir da partida, por indignação, foi correta?
Não. Recusando-se a jogar, a derrota era certa, por desistência, conforme estabelecia o regulamento da Champions africana.
Mesmo com a impossibilidade de revisão do lance do impedimento pelo VAR, o Wydad deveria continuar jogando, pois poderia ter chance de fazer outro(s) gols(s). Sem jogar, a chance inexistiu.
Leia também: Videoarbitragem pifa na decisão do Campeonato Australiano
Em tempo 1: Replay do lance mostra que El Karti estava claramente em posição legal no lance do gol anulado pela arbitragem. Se o VAR estivesse ativo, certamente haveria a validação do gol do Wydad.
Em tempo 2: Esse foi o quarto título do Espérance na Liga dos Campeões da África, cuja primeira final foi realizada em 1965. O clube mais vezes campeão é o Al Ahly, do Egito (oito). Outro egípcio, o Zamalek, ganhou cinco vezes, assim como o Mazembe, do Congo.
]]>Na terça (8), o estádio de Wembley recebeu o jogo de ida das semifinais da Copa da Liga Inglesa entre Tottenham e Chelsea, um duelo londrino.
Aos 23 minutos do primeiro tempo, o artilheiro Harry Kane recebeu um lançamento que partiu da defesa do Tottenham.
Os defensores do Chelsea olharam para o bandeirinha, viram que ele apontou impedimento e desaceleraram na jogada.
Kane, no entanto, prosseguiu e, dentro da área do Chelsea foi derrubado pelo goleiro Kepa, que não tinha visto auxiliar erguer a bandeira.
O árbitro Michael Oliver marcou o pênalti. Na sequência, dando-se conta de que o assistente Simon Bennett considerara Kane impedido, e diante das reclamações dos atletas dos Blues, recorreu ao VAR.
É importante abrir um parêntese aqui.
O VAR, que pode ser ativo (alertar o árbitro de campo) ou passivo (ser requisitado pelo árbitro de campo), pode ou deve atuar em quatro situações:
Entre esses tópicos, há os que são interpretativos (o árbitro de campo pode ou não concordar com o árbitro de vídeo), casos do pênalti e da expulsão, e há os que são objetivos, como o impedimento.
Com o uso da tecnologia, em 100% das vezes haverá (ou deveria haver) acerto nos lances de impedimento. Por quê? Porque o sistema é (ou deveria ser) feito para verificar com exatidão a posição do jogador no momento em que parte para receber a bola, suprimindo qualquer dúvida.
Fecho o parêntese.
No caso em questão, não é necessário o juiz ir à margem do campo conferir o replay, tanto que Michael Oliver não foi. Ao consultar a imagem congelada, o VAR dá o veredicto, que foi este, passado um interminável minuto e meio do início do lance (na verdade, um pouco mais, quase 1min40s): o lateral direito Azpilicueta, camisa 28 do Chelsea, deixava Kane, o camisa 10 do Tottenham, em condição de jogo.
O próprio Kane converteu o pênalti, e esse gol foi o único do jogo.
Encerrada a partida, o treinador do Chelsea, o italiano Maurizio Sarri, contestou em público a eficiência do VAR.
A seu favor, mais do que a marcação de campo (os olhos humanos, do bandeirinha, viram impedimento), exibiu um vídeo.
O Chelsea tem uma equipe de analistas que grava as partidas e ferramentas capazes de checar lances de possíveis irregularidades.
A imagem congelada do Chelsea aponta Kane em posição avançada, claramente à frente do último homem de defesa (Azpilicueta).
“Nossa câmera estava na linha com Kane, foi impedimento. Impedimento com a cabeça e o joelho. Impedimento”, declarou Sarri, assertivamente.
O vídeo do VAR, por seu lado, aponta que o centroavante estava – no limite – em posição legal.
Abro um outro parêntese, desta vez mais curto.
Quando o jogador está impedido?
Quando, estando no campo de ataque, há apenas um adversário (que normalmente é o goleiro), ou nenhum adversário, entre ele e o gol na hora da execução do passe, dado geralmente com a bola em jogo (não há impedimento em escanteios, tiros de meta ou arremessos laterais, mas na cobrança de faltas, sim).
Assim, ao ser lançado, o atacante precisa estar pelo mesmo na mesma linha do penúltimo defensor. Isso vale para o corpo, a cabeça, as pernas e os pés. Se os braços e/ou as mãos estiverem adiantados, não deve ser marcado o impedimento.
Fecho o parêntese.
Dada a conclusão de Sarri – pela câmera do Chelsea Kane está mesmo impedido –, decidi aprofundar o assunto, levá-lo para análise da FA, a federação inglesa de futebol, e para a Hawk-Eye, a empresa responsável pelos equipamentos da videoarbitragem.
O Chelsea tinha razão? Esse era o meu questionamento.
Se houvesse uma improvável resposta positiva, seria a desmoralização do VAR. O seu fim.
Nem a FA nem a Hawk-Eye se manifestaram oficialmente, o que mostra, no meu entendimento, que é um incômodo para ambas lidar com esse caso.
Obtive com uma pessoa próxima à comissão de arbitragem da FA as seguintes informações:
Nebuloso isso.
Depreendo que, caso a imagem utilizada pelo VAR fosse de um outro ângulo, seria possível haver uma deliberação distinta.
O que leva a crer que a propalada infalibilidade do VAR em ocorrências de impedimento, uma das grandes bandeiras dos defensores do celebrado sistema, não é infalível.
Os leigos e os entendidos que tirem suas conclusões.
Eu paro por aqui, ou pode parecer que volto a pegar no pé da tecnologia – já cansei de fazê-lo, estou em processo de aceitação, sei que existem prós, porém quando vir algo que possa questioná-la soarei o alarme.
Em tempo 1: Há uma outra questão nesse episódio. O bandeirinha Simon Bennett agiu acertadamente? Pois há a recomendação aos auxiliares para que, em caso de dúvida, não levantem a bandeira, que deixem a jogada terminar, já que o VAR está lá para auxiliá-los em lances difíceis. Se Bennett recebeu essa orientação, posso concluir que ou ele se esqueceu dela – pouco verossímil – ou teve certeza de que Kane estava em posição irregular.
Em tempo 2: Nada me fará mudar em relação a considerar o VAR, mesmo acertando na maioria dos casos, uma tremenda chatice. Acostuma-se com ele, sem dúvida, mas que estraga a dinâmica do jogo, ah, estraga – e sempre estragará.
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]]>Desse modo encerrei post publicado em 11 de março de 2016 – dois anos e três meses atrás –no qual comentava a decisão das autoridades do futebol de realizar testes para ampliar o uso da tecnologia no futebol.
Era o silencioso nascimento do VAR (video assistant referee, árbitro assistente de vídeo), o grande personagem da Copa do Mundo da Rússia, que dá início neste sábado (30) à etapa de mata-matas.
Para mim não é nenhuma surpresa o protagonismo do VAR. Participei seis dias antes do início do Mundial do programa Fale, Blogueiro, da Folha, e fui assertivo: “Anote: o VAR vai roubar a cena”.
Roubou, e como. Não é necessário expor todas as jogadas que, mesmo com o VAR – a aclamada solução para os erros crassos, o “paladino da justiça” – operacional, houve claríssima injustiça.
Cito apenas duas, nenhuma lesiva ao Brasil, para não parecer patriotada.
Alemanha x Suécia, 0 a 0. O sueco Berg, em um contra-ataque, entra na grande área, cara a cara com o goleiro, e Boateng o empurra escandalosamente.
Pênalti com P maiúsculo, que deveria resultar na expulsão do alemão, pois era o chamado “último homem” da defesa e impediu a finalização.
Cadê o VAR? Placar final: Alemanha 2 x 1 Suécia.
Sérvia x Suíça, 1 a 1. O sérvio Mitrovic, em um cruzamento na área suíça, é agarrado e derrubado não por um, mas por dois rivais.
Mais pênalti que isso, impossível. Só se o atacante fosse espancado.
Cadê o VAR? Placar final: Suíça 2 x 1 Sérvia.
Eis as palavras de um revoltado (com razão) Savo Milosevic, vice-presidente da federação sérvia, após a partida:
“Entendo que o juiz não viu [a falta], mas é para isso que existe o VAR. O que aqueles caras estão fazendo lá em cima? Precisamos de mais quatro homens lá, precisamos de cem pessoas operando o VAR para enxergar uma coisa que todos conseguem ver perfeitamente?”.
Para entendimento do leitor, os árbitros assistentes de vídeo são quatro a cada jogo (um chefe e três auxiliares), e o “lá em cima” mencionado por Milosevic é a sala da videoarbitragem, que durante a Copa do Mundo não fica em cada estádio, mas em uma central de vídeo em Moscou, a capital russa.
Ressalto: o VAR tem tido vários acertos, porém são os erros que ficam. O erros chamam mais a atenção que os acertos, especialmente se clamorosos. Desmoralizam.
O VAR tem a missão de interferir em lances capitais, alertando o juiz, dizendo-lhe explicitamente, por exemplo: “A conclusão, pelas imagens, é de falta. Olhe o replay, em determinado ângulo”.
Se o árbitro de campo, alertado, não quiser ir até o monitor, aí é imperioso que explique a razão. Se decidir ir e mesmo assim não enxergar o óbvio, aí que seja enviado para uma reciclagem.
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A justificativa dos defensores do VAR será eternamente a mesma: a subjetividade. O que é claro na visão de um, não é na visão de outro.
Está errado. Um empurrão não é subjetivo. Dois jogadores derrubarem outro não é interpretativo. É falta, e indecorosa. Basta ter olhos para ver no replay.
A verdade é que a tecnologia, levando a tiracolo a desculpa da subjetividade para amainar sua imperfeição, dominou o futebol, e mais rápido do que eu imaginava.
Aquele “muito em breve”, do início deste texto, é agora.
Muita gente não se deu conta, mas o esporte já mudou de nome, basta oficializar.
Estamos na era do futecbol. E com um agravante: nas mãos de idiotas da subjetividade.
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]]>A informação foi reportada a O Mundo É uma Bola por uma pessoa próxima à Fifa, na condição de que fosse mantido seu anonimato.
Para a equipe de VAR chefiada pelo italiano Paolo Valeri, que assistia à partida na central da videoarbitragem, em Moscou, o contato que o meia-atacante Zuber teve com o zagueiro Miranda na jogada em que o suíço empatou para a seleção europeia não foi suficiente para caracterizar uma falta.
A mesma interpretação valeu para o lance, também no segundo tempo, em que Gabriel Jesus caiu na área suíça depois de ser tocado por Akanji, pedindo pênalti.
Como Valeri não sugeriu que houve irregularidade em nenhuma das jogadas, mostrando concordância com o que César Ramos e seus auxiliares na Arena Rostov viram, o mexicano deu sequência à partida – a decisão sobre parar o jogo para reconsiderar o que foi ou não marcado é sempre do juiz de campo.
A não marcação da falta em Miranda gerou muita reclamação dos brasileiros.
Inconformado ao falar com Ramos, Neymar apontava para o alto (possivelmente para o telão, que deve ter repetido o lance), como se dissesse: “Veja, foi falta!”.
Depois do jogo, o camisa 10 e principal jogador da seleção declarou: “Se a arbitragem não presta atenção, é ruim para o futebol”.
Na transmissão da TV Globo, o narrador Galvão Bueno foi contundente: “É a desmoralização do árbitro de vídeo”.
Testado em alguns países nos últimos dois anos (Alemanha, Itália, EUA e Holanda estão entre os que dispõem da tecnologia), o sistema VAR é uma novidade na Copa do Mundo.
Depois da partida, o costumeiramente frio Miranda considerou ter sofrido falta e afirmou que, caso tivesse caído, talvez a arbitragem a assinalasse, mas não se mostrou irritado.
Para este blogueiro, houve empurrão claro de Zuber em Miranda (ou seja, o gol deveria ter sido anulado) e falta, mesmo que sutil, de Akanji em Gabriel Jesus (ou seja, deveria ter sido marcada a penalidade máxima).
Além de Paolo Valeri, faziam parte da equipe de videoarbitragem no jogo do Brasil seus compatriotas Elenito Di Liberatore e Gianluca Rocchi e o argentino Mauro Vigliano.
Até agora, nos 11 jogos da Copa de 2018, apenas em duas ocasiões o árbitro de campo recorreu ao monitor disponível ao lado do campo para verificar um lance após contato do videoárbitro.
Em ambas, a não marcação de um pênalti foi revista, em França x Austrália e em Peru x Dinamarca, partidas disputadas no sábado (16).
Os franceses converteram o pênalti (Griezmann), na vitória por 2 a 1, e os peruanos o desperdiçaram (Cueva), na derrota por 1 a 0.
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