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Dybala o herdeiro de Messi, talvez; Neymar o de Cristiano Ronaldo, não

Luís Curro
Os argentinos Dybala (Juventus) e Messi (Barcelona), o brasileiro Neymar (Barcelona) e o português Cristiano Ronaldo (Real Madrid) (Fotos Alberto Linfria/Reuters, Lluis Gene/AFP, Lluis Gene/AFP e Miguel Riopa/AFP)
Em sentido horário, a partir do alto à esquerda, Dybala (Juventus), Messi (Barcelona), Cristiano Ronaldo (Real Madrid) e Neymar (Barcelona) (Fotos Alberto Linfria/Reuters, Lluis Gene/AFP, Lluis Gene/AFP e Miguel Riopa/AFP)

“Dybala e Neymar podem se tornar os herdeiros de Messi e Cristiano Ronaldo.”

Essa previsão, dada em entrevista ao jornal italiano “Tuttosport“, é de Carlo Ancelotti, de 57 anos, atual treinador do Bayern de Munique.

Ele é um dos mais afamados técnicos de futebol do planeta, tendo no currículo três conquistas de Liga dos Campeões da Europa (duas com o Milan, uma com o Real Madrid) e a admiração, por exemplo, de Tite, o comandante da seleção brasileira, que o prefere a Pep Guardiola, o técnico do Manchester City, ou a José Mourinho, o treinador do Manchester United.

Há o entendimento de que Ancelotti citou Neymar e Dybala como herdeiros de Cristiano Ronaldo e Messi no sentido de serem os melhores do mundo no futuro próximo, porém é possível ir além, atrás de uma interpretação mais aprofundada.

Bayern Munich's Italian headcoach Carlo Ancelotti gestures during a friendly soccer match between the German first division Bundesliga club FC Bayern Munich and the Premier League football team Manchester City in Munich, southern Germany, on July 20, 2016. / AFP PHOTO / CHRISTOF STACHE
O italiano Carlo Ancelotti dirige o Bayern em amistoso em Munique com o Manchester City (Christof Stache – 20.jul.2016/AFP)

No futebol, é corriqueira a busca por sucessores para os melhores jogadores.

Basta surgir um talento imberbe, um aspirante a craque, para o mundo da bola se encantar: “Está surgindo um novo Pelé?”; “Será esse o futuro Maradona?”; “Jogando assim, poderá se tornar um novo Beckenbauer?”; e por aí vai.

Neymar mesmo já passou por isso. A “Time”, conceituada revista semanal norte-americana, dedicou uma capa, no começo de 2013, ao atacante brasileiro, então ainda no Santos. O título: “The Next Pelé” (O Próximo Pelé). Não era uma pergunta, era uma afirmação.

Neymar não será Pelé, nem ele nem ninguém. Neymar é e será Neymar.

Aos 24 anos, já consolidou um estilo próprio, de dribles ousados e muita velocidade.

Ainda aprimora a visão de jogo (a cada dia melhor, as assistências mostram isso) e a finalização (nesse quesito, especialmente, jamais chegará aos pés de Pelé) e tenta se livrar da fama de firulento e de “cai-cai” (não se livra porque às vezes ainda faz firulas e exagera na cena ao sofrer uma falta).

Por ambos serem brasileiros, é natural a comparação. E por Pelé ter sido tão bom, o mais fora de série entre os foras de série, há o desejo de que surja um outro – ou vários outros. Utopia.

Neymar na capa da "Time", em março de 2013: "O Próximo Pelé" (Reprodução)
Neymar na capa da americana “Time”, em março de 2013: “O Próximo Pelé” (Reprodução)

Sobre fazer comparações, cabe um parênteses.

Em todas as áreas, não só no esporte, a comparação acontece, dia a dia: na política (candidato X, canditado Y), na economia (investimento A, investimento B), na gastronomia (restaurante J, restaurante K), no turismo (cidade F, cidade G), na música (cantor W, cantor Y) etc.

Às vezes se conclui que não há “melhor”; “diferente” é a palavra escutada.

Há potencial em Dybala para ser o sucessor de Messi na seleção argentina, como o atacante capaz de desmontar uma defesa adversária e ser decisivo para as vitórias. O herdeiro da camisa 10 do cinco vezes melhor do mundo e que um dia foi também do espetacular Maradona.

Paulo Dybala festeja um dos dois gols que fez na vitória por 2 a 1, em Turim, sobre a Udinese no Campeonato Italiano (Marco Bertorello - 15.out.2016/AFP)
Paulo Dybala comemora um dos dois gols que fez na vitória por 2 a 1, em Turim, da Juventus sobre a Udinese no Campeonato Italiano (Marco Bertorello – 15.out.2016/AFP)

Agora, no caso de Neymar e Cristiano Ronaldo, uma comparação é inadequada com o intuito de se encontrar um “substituto” para o CR7.

Só a nacionalidade diferente já seria um fator impedidor. Outro são as equipes que defendem: Neymar joga no Barcelona, e Cristiano Ronaldo, no arquirrival Real Madrid. Se fossem do mesmo país ou clube, uma hipotética sucessão poderia ser especulada.

Porém são as características de cada um que tornam a equivalência imprópria.

Cristiano Ronaldo, de 31 anos, é alto (1,86 m) e forte (80 kg de muitos músculos), exímio cabeceador, dono de uma explosão muscular diferenciada. Fominha, é uma máquina de fazer gols e preza pelo pragmatismo. No aspecto da personalidade, é arrogante e egocêntrico.

Neymar, de 24 anos, não se mostrou até hoje fominha (as assistências são prova disso) ou egocêntrico (não se vê como o personagem central do seu time). Na silhueta (1,74 m e 68 kg), está mais para Messi ou Dybala do que para o CR7. No jeito de jogar futebol, que além dos dribles curtos inclui tabelinhas, idem. Além disso, oferece um ingrediente especial: fantasia.

O que mais assemelha Neymar a Cristiano Ronaldo é a faixa de campo em que gostam de atuar, a esquerda do ataque. É muito pouco.

No futebol atual, não há alguém mais jovem que se pareça com o CR7.

Nem dentro, nem fora do campo.

Em tempo: Dybala, em recuperação de lesão, não participou de Brasil 3 x 0 Argentina na semana passada, em Belo Horizonte. Seria diferente com ele em campo? Possivelmente, não.

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