Os caras de Dunga – Na Copa América, defesa não terá os melhores
A Confederação Brasileira de Futebol divulgou na sexta (29) a pré-lista de convocados para a Copa América dos EUA, em junho.
São 40 nomes na relação, e os 23 que irão à competição serão definidos nesta quinta (5).
Neymar está fora, já que não obteve liberação do Barcelona para atuar na Copa América e na Olimpíada do Rio de Janeiro. Jogará apenas a segunda competição, em agosto.
Também estão fora três titulares do Brasil na Copa de Mundo de 2014: o lateral esquerdo Marcelo e os zagueiros Thiago Silva e David Luiz.
Thiago Silva e Marcelo são, na minha opinião, os melhores brasileiros em suas respectivas posições e não deveriam ser preteridos. O caso de David Luiz é discutível.

Eu fiz no domingo (1º) uma solicitação à CBF, enviada por e-mail para a entidade, pedindo que Dunga desse explicação a “O Mundo é uma Bola” para a ausência deles (assim como para a inclusão de alguns jogadores, como Oscar, outro titular na Copa de 2014, que faz péssima temporada pelo Chelsea). Se a resposta chegasse, seria publicada neste espaço. Não chegou.
Eu já escrevi antes que um dos sérios problemas na divulgação de listas de escolhidos é a falta de justificativas para a exclusão e a inclusão de jogadores na seleção.
Dunga não parece fazer questão de deixar tudo às claras, e falta à imprensa ser mais incisiva nessa cobrança. Mesmo que seja para obter uma resposta atravessada, do tipo “não é da conta de vocês”, a depender do humor do técnico. É melhor do que não haver resposta.
Porém quem sabe o treinador não atenda ao clamor aqui exposto e dê as explicações em breve? Estou certo de que os leitores-torcedores têm vontade de saber os motivos de Dunga para excluir o jogador X ou Z (e para chamar ou manter W ou Y).
É importante frisar que, qualquer que sejam esses motivos, devem ser respeitados. Dunga é o técnico e segue suas intuições e seus conceitos. Eu só defendo que ele externe o que pensa. Elogios e/ou críticas virão, faz parte do metiê.
Um colega de profissão, Cosme Rímoli, escreveu que Dunga perdeu a confiança no trio Thiago Silva-David Luiz-Marcelo. Se for isso, basta o treinador dizer: “Não estão mais nos meus planos. Prefiro outros, nos quais confio mais”. E explicar as razões de ter perdido a confiança nos três.
Não seria difícil.
Thiago Silva ganhou fama de chorão por ter derramado um mar de lágrimas durante a disputa de pênaltis contra o Chile nas oitavas de final da Copa no Brasil, lançando dúvidas permanentes sobre sua estabilidade emocional, ainda mais porque era o capitão da seleção.
Depois, antes da Copa América de 2015, deu sinais de insatisfação por ter perdido para Neymar a tarja de capitão, o que desagradou a Dunga. E, durante a Copa América, cometeu pênalti infantil ao desviar com a mão a bola na área, o que resultou em pênalti para o Paraguai no jogo em que o Brasil foi eliminado.
Então por que defendo a convocação de Thiago Silva?
Porque o considero muito mais zagueiro que Miranda (Inter de Milão), que será o capitão de Dunga na Copa América. Thiago fez mais uma grande temporada pelo Paris Saint-Germain, campeão francês e da Copa da Liga da França – pode conquistar ainda a Copa da França.
O cabeludo Marcelo se meteu em um imbróglio com Dunga, em caso que envolveu também o médico Rodrigo Lasmar, na convocação para os jogos da eliminatórias contra Uruguai em Paraguai, em março. O jogador do Real Madrid ficou fora, supostamente por não estar bem fisicamente.
Só que as versões do jogador, do médico da seleção e de Dunga não bateram. Posteriormente, o técnico culpou Marcelo, dando a entender que faltam a ele “atitude, responsabilidade e comprometimento”. Resultado: Marcelo está fora da Copa América.

Então por que defendo a convocação de Marcelo?
Porque o considero mais lateral que Filipe Luís (Atlético de Madri), Alex Sandro (Juventus) e, principalmente, Douglas Santos (Atlético-MG), os nomes pré-listados por Dunga. Filipe Luís, o atual titular, não é má opção, só que, na comparação com Marcelo, perde. É muito inferior no apoio ao ataque e bem pouco superior na marcação – como agravante contra ele, nesta temporada mostrou que pode dar uma de David Luiz, quando acertou Messi violentamente, em jogada impensada, e foi expulso.
Outro cabeludo, David Luiz esteve nas últimas listas de Dunga, e na condição de titular.
De seis partidas pelas eliminatórias, jogou apenas a metade. Ficou fora de uma por lesão e de duas por suspensão. Quando esteve em campo, mostrou a vontade que lhe é peculiar, porém de fato lhe falta noção em alguns momentos. Gosta de fazer lançamentos quando não é necessário, seu comportamento tático é questionável (se lhe dá na telha, lança-se desenfreadamente ao ataque), é afobado e/ou destrambelhado na marcação, cometendo faltas e tomando cartões amarelos que poderiam ser facilmente evitados.
Com base no reportado, não posso ser um defensor explícito da convocação de David Luiz. Eu o reprovei, inclusive, na turma de 2015 da seleção.
Contam a seu favor a raça (que não vejo em Miranda, Marquinhos, do PSG, ou Gil, do Shandong Luneng, e que é algo muito valorizado por Dunga, super-raçudo quando jogador), o vigor (é incansável, corre o jogo todo, tem sede de vitória), a técnica (sabe sair jogando com qualidade, tem capacidade para armar as jogadas desde a defesa, desde que não se precipite), a bola parada (é uma arma no cabeceio e nas cobranças de falta) e a experiência (atua pela seleção principal desde 2010).

Acompanhei alguns jogos de Miranda pela Inter de Milão no Campeonato Italiano 2015-2016, e em vários ele não foi bem, colecionando erros de posicionamento, reveses no mano a mano com atacantes rivais e duas expulsões. Gil, mesmo no fraco futebol da China, não tem sido uma fortaleza (sua equipe, apenas a 12ª colocada no Chinês, tem a segunda defesa mais vazada do campeonato, 13 gols em 7 partidas) e falhou grotescamente ao menos uma vez, um escorregão que acabou em gol do time adversário.
Ou seja, os prováveis titulares de Dunga na Copa América não estão jogando aquela maravilha, não. Longe disso.
Ex-corintiano como Gil, Marquinhos é promissor, mas só agora tem conquistado mais minutos no PSG (é reserva de Thiago Silva e de David Luiz).
Em relação aos demais beques pré-listados por Dunga, David Luiz joga mais futebol do que Gabriel Paulista (Arsenal), Jemerson (ex-Atlético-MG, atualmente no Monaco, da França) e Rodrigo Caio (São Paulo). Os dois últimos, assim como Marquinhos, têm idade olímpica (até 23 anos).
A verdade é que confiar em zagueiro brasileiro, e não é de hoje, está difícil. (Nos últimos 30 anos, duplas de zaga de altíssima confiabilidade do Brasil em Copas do Mundo eu cito com segurança apenas duas, a campeã mundial em 1994, Aldair e Márcio Santos, e a eliminada nas quartas de final em 1986 pela França, nos pênaltis, Júlio César e Edinho.)
Uma melhora nas atuações individuais dos zagueiros será vital para a seleção fazer campanha digna na Copa América (menos que uma semifinal será trágico). E Dunga precisa disso. Crescem os rumores de que, se o Brasil for mal nos EUA, ele não sobrevive no cargo até a Olimpíada.
Em tempo 1: No final de novembro do ano passado, Dunga declarou que Thiago Silva tinha chance de voltar à seleção. A partir deste momento, passo a desacreditar nisso. Se em uma pré-lista com seis zagueiros ele não aparece, aparecerá quando? Pelo mesmo raciocínio, tudo indica que David Luiz também está fora em caráter definitivo.
Em tempo 2: Os principais destaques dos últimos sete dias entre os mais recentes convocados de Dunga para jogos das eliminatórias da Copa de 2018 foram Hulk (do Zenit, um gol e uma assistência na goleada por 4 a 1 no Kuban’ Krasnodar, pelo Campeonato Russo, e dois gols, ambos de pênalti, em outra goleada por 4 a 1, na decisão da Copa da Rússia, contra o CSKA Moscou); Alisson (do Internacional, que não levou gol na partida de ida da final do Gaúcho, contra o Juventude); Jonas (do Benfica, autor do primeiro gol na vitória por 2 a 1 sobre o Braga na semifinal da Copa da Liga de Portugal); e Willian (do Chelsea, uma assistência no empate por 2 a 2 com o Tottenham no Campeonato Inglês). Lucas Lima, do Santos, saiu lesionado (tornozelo) do primeiro jogo da final do Campeonato Paulista, 1 a 1 diante do Osasco Audax, e deve ficar cerca de dez dias longe dos gramados.