Jovens, talentosos e aquém do estrelato
O jornal francês “L’Équipe” publicou há cinco meses uma lista intitulada “Os 50 melhores jogadores com menos de 21 anos do mundo”.
É uma lista ordenada, partindo do número 1 ao número 50. Um ranking.
Antes de ir ao ponto deste texto, friso que sou avesso a listas extensas. As que apresentam cinco jogadores (ou técnicos, ou times etc.) são as melhores. Até dez, OK. Mais que isso, considero exagerado. Parece que está “todo mundo” lá. Útil somente para olheiros.
Focarei no top 10.
Sendo setembro de 2017 o mês da divulgação desse ranking, com a temporada europeia ainda no início, era de esperar que os jovens citados desfilassem um futebol portentoso nos meses vindouros.
Afinal, “eles se afirmaram como os melhores de sua geração”, diz o texto do diário esportivo.
Porém isso não aconteceu. Não há um único jogador entre os dez mais bem ranqueados da lista do “L’Équipe” que esteja brilhando intensamente e continuamente, sendo que os campeonatos já estão em seu terço final.
As razões são diversas. Citarei a seguir cada um desses jovens talentos (sim, talentosos e cheios de potencial todos são, tendo sido alguns, inclusive, já chamados de estrela sem atingir esse patamar) e apontarei o motivo, ou motivos, de não estarem estraçalhando.
Parto do primeiro ao décimo. São três franceses, dois alemães, dois ingleses, um italiano, um espanhol e um brasileiro. Quatro jogam na Inglaterra, dois na Alemanha, dois na Espanha, um na França e um na Itália.
Todos devem estar em suas respectivas seleções, alguns no time titular, na Copa do Mundo da Rússia – exceção feita a Donnarumma, pois a Itália não se classificou para o Mundial.
Marco Asensio, atacante, 22 anos (Real Madrid/Espanha) – Cria do Mallorca, nunca se firmou como titular no Real Madrid, onde chegou em 2014. Em um ataque com o português Cristiano Ronaldo, o francês Benzema e o galês Bale (ou o compatriota Isco), isso realmente é difícil. Considerando que ele joga pelo lado esquerdo, é mais difícil ainda – por ali reina o CR7, cinco vezes o melhor jogador do planeta. É reserva na seleção espanhola.
Dele Alli , meia-atacante, 21 anos (Tottenham/Inglaterra) – Na minha opinião, foi o melhor jogador jovem da temporada 2016/2017. Seus 18 gols contribuíram decisivamente para o Tottenham ser vice-campeão inglês. Entre os artilheiros do campeonato, ficou atrás só de nomes de peso (Harry Kane, Lukaku, Alexis Sánchez, Agüero e Diego Costa). Nesta temporada da Premier League, porém, anotou até agora somente cinco gols. É titular da seleção inglesa.
Kylian Mbappé, atacante, 19 anos (PSG/França) – O prodígio francês se tornará no meio do ano, quando será concretizada a transferência para o PSG (equipe que ele já defende por empréstimo), o segundo jogador mais caro da história (€ 145 milhões), atrás apenas de Neymar (€ 222 milhões), seu colega de time. Não dá para escrever que ele tem jogado mal. São 15 gols na soma de Francês, Liga dos Campeões da Europa, Copa da França e Copa da Liga Francesa, em um total de 31 jogos, média de 0,48. Mas era esperado que jogasse melhor. Por um time bem menos estrelado, o Monaco, em 2016/2017, anotou 26 vezes em 44 partidas (nas mesmas competições), média de 0,59. Tem ora sido titular, ora sido reserva, da seleção francesa.
Ousmane Dembélé, atacante, 20 anos (Barcelona/Espanha) – O Barcelona pagou € 105 milhões para tirá-lo do Borussia Dortmund, em movimento feito depois de não conseguir contratar Philippe Coutinho, do Liverpool – transação que se concretizaria meses depois. Dembélé valia tudo isso? A meu ver, não. Só que até agora é impossível saber se ele me fará morder a língua. Teve uma lesão na coxa em setembro que o afastou até o começo de janeiro. Desde sua volta, não jogou uma partida inteira, e ainda não fez seu primeiro gol pelo Barça. É reserva na seleção francesa.
Gianluigi Donnarumma, goleiro, 18 anos (Milan/Itália) – O anunciado sucessor do lendário Buffon (Juventus), titular do time rubro-negro desde a temporada 2015/2016, integra um Milan que, a exemplo das últimas quatro temporadas, acumula decepções. A equipe, referência de bom futebol e colecionadora de títulos em passado não tão distante, sofre no Italiano para tentar chegar à zona de classificação da Liga Europa, o segundo interclubes em importância no velho continente. Segundo o site Squawka, entre os goleiros que mais defesas fazem na Série A, Donnarumma é o 13º da lista, com 55 defesas em 25 partidas, nas quais levou 30 gols – ou seja, de cada três bolas que vão na direção do gol, uma entra. Com a aposentadoria de Buffon da Azzurra, deve ser titular da seleção.
Gabriel Jesus, atacante, 20 anos (Manchester City/Inglaterra) – O ex-palmeirense está desde o dia 31 de dezembro afastado por causa de lesão no joelho esquerdo. De volta aos treinos, deve aos poucos ser reinserido no time pelo técnico Pep Guardiola. Na sua ausência, Agüero tem atuado muito bem (em uma das partidas, o argentino marcou quatro gols), então o menino Jesus deve ter dificuldade para voltar a obter espaço entre os titulares – na temporada passada, seu ótimo desempenho logo após a chegada à equipe (em janeiro de 2017) relegou Agüero à reserva. É titular da seleção brasileira.
Leroy Sané, atacante, 22 anos (Manchester City/Inglaterra) – Uma entrada violenta que recebeu no tornozelo em jogo contra o Cardiff, no final de janeiro, o afastou dos campos por pouco mais de duas semanas, quebrando o bom ritmo que vinha empreendendo. É fato que sua temporada vem sendo melhor que a anterior, com número igual de gols (7) e mais assistências (12 contra 5), levando em conta Champions League e Premier League, mas mesmo assim não é titular absoluto, devido à rotatividade empregada por Guardiola. Se em março, abril e maio seu desempenho não despencar, tem chance de ser titular da Alemanha na Copa.
Kingsley Coman, atacante, 22 anos (Bayern de Munique/Alemanha) – Inconstância é uma palavra adequada para definir esse hábil e rápido avante que, como Asensio, Dembelé e Sané, atua pelas pontas, mais como criador de jogadas que como finalizador. No caso de Coman, sua ponta favorita é a esquerda (a exemplo de Asensio e Sané). Alternando partidas produtivas com outras em que quase nada faz, não consegue ser titular em uma sequência de jogos. Tanto que seu melhor momento ocorreu quando Guardiola treinava o Bayern, em 2015/2016. Depois, esteve à sombra do veterano compatriota Ribéry e/ou do brasileiro Douglas Costa (hoje na Juventus). É reserva na seleção francesa.
Marcus Rashford, atacante, 20 anos (Manchester United/Inglaterra) – Esperava-se que esta fosse a temporada em que Rashford explodisse, porém a concorrência interna o engoliu. Com a chegada do belga Lukaku ao Man United, a vaga de centroavante ficou ocupada – em 2016/2017, o dono da posição tinha sido o sueco Ibrahimovic. Restou ao jovem (titular em duas partidas da Inglaterra na Eurocopa de 2016) lutar com o francês Martial pela vaga de segundo atacante. Estava perdendo a disputa quando os Diabos Vermelhos trouxeram, há poucas semanas, o medalhão chileno Alexis Sánchez. Assim, Rashford disputa agora com Martial vaga no banco de reservas. Tem ora sido titular, ora sido reserva, da seleção inglesa.
Timo Werner, atacante, 21 anos (RB Leipizig/Alemanha) – Destaque da equipe alternativa que a Alemanha levou à Copa das Confederações da Rússia, no ano passado, sendo coartilheiro (3 gols) na campanha campeã, ele está bem nesta temporada (16 gols em 31 jogos oficiais, média de 0,52), mas abaixo da performance de 2015/2016 (21 gols em 32 jogos, média de 0,66), quando o Leipzig se sagrou vice-campeão da Bundesliga. Também não conseguiu ser decisivo na fase de grupos da Liga dos Campeões, e o time acabou eliminado. Tem ora sido titular, ora sido reserva, da seleção alemã.
Em tempo: Na lista dos 50 do “L’Équipe”, há só mais um brasileiro além de Gabriel Jesus: Malcom, do Bordeaux (França), atacante ex-Corinthians, na 21ª posição. E há um único jogador que não atua na Europa: Cristian Pavón, atacante do Boca Juniors, hoje com 22 anos, na 22ª colocação.