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‘Neymar é metade do PSG e está imparável’, afirma Élber, maior artilheiro estrangeiro do Bayern

Luís Curro

Maior artilheiro não alemão na história do Bayern de Munique, com 140 gols, Giovane Élber é ainda hoje figura importante no clube que mais venceu, disparado, a Bundesliga: 27 vezes.

Aos 45 anos, o paranaense de Londrina atua como embaixador do Bayern, clube que defendeu de 1997 a 2003, divulgando a imagem do time mundo afora e com a intenção de realizar, em um futuro próximo, ações no Brasil que fortaleçam a imagem da equipe.

Com a proximidade do esperado confronto entre Bayern e Paris Saint-Germain, pela Liga dos Campeões da Europa, Élber concedeu entrevista por telefone para “O Mundo é Uma Bola”, no último dia 15.

Inevitável, foi questionado sobre Neymar, que se tornou no mês passado o jogador de futebol mais caro do mundo, depois de o PSG pagar € 222 milhões ao Barcelona para poder contar com o brasileiro.

“O Neymar está imparável. Não tem como pará-lo”, disse Élber a respeito do maior astro da partida desta quarta (27), a partir das 15h45. “Ele é metade do time, é o cara que está acabando com os jogos. É o cara do passe, que chega na área e finaliza. O Bayern tem que tomar muito cuidado.”

Élber também falou sobre o mercado inflacionado (“Qualquer jogador que jogue mais ou menos está custando € 30 milhões, e antes custava € 5 milhões”), o favoritismo do Bayern na Bundesliga (na qual é o atual pentacampeão), a dificuldade que têm os brasileiros para se fixar na Alemanha (“O cara vem só pensando na parte financeira e esquece outras coisas importantes para dar certo no país”), o atacante que considera o melhor da atualidade e as poucas oportunidades que teve na seleção brasileira, entre outros tópicos.

O ex-atacante do Bayern de Munique Giovane Élber, hoje embaixador do clube alemão (Divulgação/Bayern de Munique)

Na Bundesliga, o Bayern tem sido o rival a ser batido. Na sua opinião, há algum time com chance de superá-lo nesta temporada? 

Giovane Élber: O Bayern é o único time que pode bater ele mesmo. Se os jogadores não se entenderem dentro de campo e no vestiário, não conseguirá bons resultados no campeonato. Olhando para os adversários, você tem o Leipzig, que continua em um grande nível. E tem o Borussia Dortmund. O que faz o Bayern diferente desses clubes é que, contra times não bem classificados, procura não perder pontos, enquanto os outros, como Leipzig e o Borussia, acabam perdendo pontos bobos. É onde o Bayern consegue uma certa vantagem. Espero que um Schalke ou um Leverkusen voltam a disputar o Alemão nas cabeças, senão acaba ficando meio chato, pois sempre o Bayern ganha com muitos pontos de vantagem, e isso para o campeonato não é tão bom.

Em relação ao ataque do Bayern, Ribéry está com 34 anos e Robben, com 33, e ambos têm histórico de lesões. Não é hora de o clube dar mais espaço a jogadores mais jovens pelos lados do campo? Atualmente, há Coman como opção. O Bayern não deveria ter mantido o Douglas Costa?

Élber: O Bayern dá chance aos jovens. O Douglas Costa, quando chegou, esteve muito bem no primeiro ano. Era um jogador que iria substituir ou o Robben ou o Ribéry. Aconteceu de no segundo ano ele não desempenhar o papel que teve na primeira temporada. Não porque ele não teve chance, pois teve. Aí, por vontade dele, resolveu sair do clube, porque não queria ficar no banco (está hoje na italiana Juventus). O Coman é um jogador jovem que vem entrando aos poucos na equipe. E o Bayern também olha o mercado internacional. Jogadores que estiverem à disposição o Bayern pode estar comprando. Sobre Robben e Ribéry, há um risco, sem dúvida. São jogadores que já estão com uma certa idade e, se tiverem uma lesão, dificulta o sistema do Bayern como um todo. O Bayern sofre quando os dois não estão em campo.

O atacante Robert Lewandowski fez à revista “Der Spiegel” uma crítica à direção do Bayern em relação aos gastos em contratações, considerados por ele aquém do necessário para reforçar o time adequadamente, o que gerou reação ríspida do diretor-executivo, Karl-Heinz Rummenigge. Quem está com a razão?

Élber: O Bayern não deve fazer a loucura que o Paris Saint-Germain fez, de comprar um jogador (Neymar) por € 200 milhões. Por um outro jogador (Mbappé), vai ter de desembolsar no ano que vem mais € 200 milhões. O PSG mexeu muito com o mercado, e há a expectativa para saber aonde esse mercado vai parar. Qualquer jogador hoje que jogue mais ou menos já está custando € 25 milhões, € 30 milhões, e antes custava € 5 milhões, € 10 milhões. Logo não vai mais existir jogador de € 50 milhões, só acima. O Bayern tem seus olheiros, que estão observando onde há a possibilidade de comprar bons jogadores. Não necessariamente você vai ter sucesso ao comprar um jogador caro. O Lewandowski não esteve errado na colocação dele, mas é um tema delicado. O Rummenigge disse que ele tem que fazer o trabalho dentro do campo, e ele vem fazendo. Fora do campo, o clube tem pessoas que estão vendo as possibilidades de trazer bons jogadores.

Quais diferenças você vê no futebol, em comparação com a época em que você atuava? E o Bayern? Modificou muito a forma de jogar?

Élber: Quando eu jogava, era um time barato para o padrão Bayern de Munique. Era um time barato, unido e que conquistava títulos. Ganhou a Liga dos Campeões de 2001. Em 1999, perdemos a final para o Manchester United nos minutos finais. Seriam duas Ligas dos Campeões que teríamos ganho com um time bem barato, com jogadores feitos dentro de casa e estrangeiros que não eram badalados. O Bayern sempre foi um clube com o pé no chão. Esta é a filosofia do Bayern: investir pouco e formar um excelente grupo. É como a seleção alemã. Você não vê um craque nela. É o conjunto que a faz ganhar títulos. Conquistaram a Copa do Mundo no Brasil. Falando do modo de jogo, antes era do jeito antigo: bola alta na frente e todo mundo correndo e tentando fazer o gol de qualquer forma. Com a vinda do Pep Guardiola (em 2013), mudou muito a forma de jogar, tanto do Bayern como da seleção alemã. Hoje o Bayern joga como o Barcelona, com posse de bola e sem tentar chegar sempre rápido ao gol adversário.

Élber cabeceia a bola em partida contra o Barcelona na Champions League 1998/1999; no Camp Nou, na fase de grupos, o Bayern ganhou de 2 a 1 (Peter Kneffel – 4.nov.1998/AFP)

Você é um dos raros atacantes brasileiros a atuar e fazer sucesso no futebol alemão. Há pouco interesse do Bayern e dos demais clubes alemães em contar com brasileiros em seus elencos?

Élber: O futebol alemão ama os jogadores brasileiros. Teve o Paulo Sérgio, teve o Jorginho (ambos campeões na Copa do Mundo de 1994), o Zé Roberto (hoje no Palmeiras), eu. De um tempo para cá, os jogadores brasileiros perderam espaço. Os que começaram a vir jogar na Alemanha chegam e logo querem ir embora. Não se adaptam ao clube. Então o clube alemão que vai comprar um brasileiro fica com os dois pés atrás, com medo de que esse jogador possa vir e em pouco tempo, quando chega o inverno, já pedir para ir embora, porque não gostou do país, não se ambientou… O jogador brasileiro dá mais certo na Espanha por causa do clima, ou em Portugal, ou na Itália. Na Alemanha já faz tempo que a gente não vem se destacando. Mas não é só na Alemanha. Antigamente, entre os melhores do mundo, havia um Kaká, um Ronaldo, dois brasileiros disputando entre os dez. Hoje tem o Neymar e mais ninguém. Um Coutinho (do Liverpool), que está chegando mas ainda está longe de estar entre os dez melhores.

O que mais complica para o brasileiro na Alemanha? 

Élber: O brasileiro que vem direto do Brasil para cá sente bastante a forma de treinamento, a cultura, a forma de o alemão ser. Porque o alemão não é aberto como é o povo latino. Você tem que aprender aos poucos para entrar na cultura deles, para depois começar a gostar do país e da cidade em que você vive. Aí o jogador não quer aprender o idioma, acha que vem aqui ensinar as pessoas a jogar futebol, e está bem errado pensar assim. Tem que chegar e dar o máximo, procurar se entrosar, aprender o idioma. Aprendendo o idioma já é meio caminho andado, pois jogar futebol o brasileiro sabe. O cara vem só pensando na parte financeira e esquece outras coisas importantes para dar certo no país.

Você se lembra de outros jogadores que, como o Douglas Costa, tiveram problemas no Bayern ou em outros clubes?

Élber: Eu me lembro do Alex Alves (ex-Vitória, Palmeiras, Portuguesa e Cruzeiro, que morreu em 2012, aos 37 anos), que passou pelo Hertha Berlin. Nós conversávamos bastante. Falei com ele as coisas que ele precisaria aprender para se entrosar mais no clube. E ele falou: “Beleza, vou fazer isso mesmo. Vou aprender o idioma, pois já estou há três anos aqui e não falo nada de alemão”. Duas semanas depois ele pediu a conta e voltou para o Brasil. Disse que a mulher não gostava de morar lá, que Berlim era muito fria, que ela queria estar em um lugar mais quente. Então tem isso, a família. A família tem que ajudar o jogador, e às vezes a família não se adapta tão bem.

Leia também: Bayern multará estrangeiro que não falar alemão

Na Champions League, o Bayern estreou com vitória por 3 a 0 sobre o Anderlecht. Robben, porém, não ficou satisfeito e disse que faltaram “agressividade e confiança”, especialmente em uma situação de vantagem numérica devido à expulsão de um atleta do time belga.  Concorda com ele? 

Élber: Tem que dar o mérito ao treinador do Anderlecht, que na hora em que o jogador foi expulso formou duas linhas de quatro jogadores quase na área dele, não dando espaço para o Bayern articular as jogadas. O Bayern não queria entrar pelas laterais, mas pelo meio, e como vinha de um resultado negativo no Campeonato Alemão e de discussão sobre tudo o que o Lewandowski falou, também a respeito do Thomas Müller, que não vem jogando… Então tinha uma pressão grande para que o Bayern fizesse um jogo de 4 a 0, 5 a 0 para mostrar a todos que era o grande Bayern de Munique. Mas do outro lado há um adversário que luta para sair com um ponto, sem jogar um futebol bonito. Acho que 3 a 0 foi um resultado bom para o Bayern.

É muito esperado o duelo PSG x Bayern, devido à mudança de status do time francês com a chegada de Neymar. Acredita que esse será um jogo que mostrará o nível em que o Bayern se encontra nesta temporada?

Élber: O Bayern é uma equipe inteligente, que tem uma experiência grande na Liga dos Campeões, e acredito que o Carlo Ancelotti (treinador do time) vai saber como tentar neutralizar o Neymar, o que é difícil. Pois o Neymar é metade do time, é o cara que está acabando com os jogos, é o cara do passe, é o cara que chega na área e está finalizando. O Bayern tem que tomar muito cuidado. Eu acho que ainda não é o jogo em que o Bayern vai mostrar tudo o que pode. Um empate em Paris estará muito bom. Vai ser duro segurar o Neymar lá.

Se você estivesse no lugar do Ancelotti, que orientação passaria para a equipe em relação à marcação sobre Neymar?

Élber: O Neymar está imparável. Não tem como pará-lo. Esperamos que haja ajuda de todos do setor defensivo na hora em que o Neymar estiver com a bola. Não pode fazer marcação individual porque o Neymar, como é bom driblador, vai conseguir tirar um cartão amarelo do cara que o estiver marcando, o cara pode até ser expulso. A marcação tem que ser por zona. Onde o Neymar estiver tem que ter um jogador tentando tirar o espaço dele. Todo o setor defensivo tem que estar bem alinhado para segurar não só o Neymar mas também o Cavani e o Mbappé.

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Élber brinca com o troféu da Copa da Alemanha, conquistado pelo Bayern em 2003 diante do Kaiserslautern no estádio Olímpico de Berlim; ele também conquistou quatro Bundesligas pelo clube (Thomas Kienzle – 31.mai.2003/Associated Press)

Qual o melhor atacante do mundo na atualidade e qual o melhor atacante que você já viu jogar?

Élber: Hoje, sem dúvida, o Cristiano Ronaldo é um cara que marca. Ele decide. Mesmo em fase ruim, ele está ali pronto para fazer um ou outro gol e dar a vitória ao time. Um cara que eu amei ver jogar, e cheguei a pegar avião da Alemanha para Barcelona para ver jogar, foi o Ronaldo Fenômeno. Era um cara que eu admirava muito, tive o prazer de jogar com ele na seleção brasileira, pena que não jogamos (juntos) Copa do Mundo. Foi o cara que sempre admirei e de quem procurei copiar algumas coisas dentro de campo.

Na seleção brasileira, você só atuou em 15 jogos. Por que acha que não teve tantas oportunidades?

Élber: Eu saí muito cedo no Brasil, e na época não era como é hoje. Demorava muito para chegarem as informações no Brasil, esse foi um problema que eu tive. Até o treinador da seleção de juniores na época, o Ernesto Paulo, falou pra mim: “Você está indo muito cedo para a Europa, porque ninguém te conhece no Brasil. Amanhã ou depois você pode ter problema com a seleção principal por não ser conhecido”. E isso acabou acontecendo em um jogo no Morumbi (contra o Equador, no ano 2000). O Vanderlei Luxemburgo (então técnico do Brasil) chegou para mim e falou: “Você deveria sair jogando. Mas você não é conhecido aqui, então eu vou colocar o Edílson, que é do Corinthians, porque a gente precisa da torcida do nosso lado”. Aquilo me deixou muito frustrado, pois não ia jogar o jogador que está melhor, mas o mais conhecido. Mas nem por isso eu falo que a minha carreira foi ruim. Jamais esperava sair do Londrina e jogar em um grande clube como o Bayern de Munique, fazer parte da seleção em alguns jogos… jamais esperava isso.

Se na próxima Copa do Mundo houver um duelo Alemanha x Brasil, você torcerá para quem?

Élber: Na Copa passada eu torci para a Alemanha no jogo no Mineirão (7 a 1 para os alemães), junto com meus filhos que nasceram aqui (na Alemanha). Torci para a Alemanha porque eu via que o Brasil não vinha em uma sequência boa na forma de jogar. Vinha mais na euforia, para ganhar os jogos, do que na tática e na técnica. Na próxima Copa, é esperar para ver como vão estar as duas seleções.

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