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Cristiano Ronaldo: descamisado, injustiçado e destemperado

Luís Curro

O Real Madrid está perto de conquistar a Supercopa da Espanha, tradicional duelo de começo de temporada que opõe o campeão espanhol (a equipe madrilenha) e o campeão da Copa do Rei (o Barcelona).

Mesmo fora de casa, no Camp Nou, o Real superou o Barça por 3 a 1 neste domingo (13) e tem boa vantagem para erguer a taça no Santiago Bernabéu. A partida de volta é nesta quarta (16).

Cristiano Ronaldo, o atual melhor jogador do mundo, foi o personagem do jogo. Não apenas por colocar o Real à frente quando o placar apontava 1 a 1, com um belíssimo gol em um contra-ataque – aliás é impressionante como a equipe merengue contra-ataca bem.

Mas também por, dois minutos depois, ter sido expulso pelo árbitro Ricardo de Burgos.

Nesse intervalo de dois minutos, ele recebeu dois cartões amarelos. Como se sabe, o segundo amarelo significa a consequente exibição do cartão vermelho.

Em dois minutos, a Supercopa da Espanha perdeu, para a decisão, uma de suas atrações. E a culpa não pode ser imputada somente ao craque português.

Esses dois minutos me fizeram refletir sobre o que não está certo no futebol.

Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, tira a camisa para comemorar seu gol contra o Barcelona, no Camp Nou, no jogo de ida da final da Supercopa da Espanha (13.ago.2017/AFP)

Cristiano Ronaldo recebeu o primeiro cartão amarelo por, na comemoração de seu gol, ter retirado a camisa.

A propósito, com esse gesto imitou Messi, o astro do Barcelona (que marcou de pênalti o gol de seu time nesse confronto), que em abril, ao fazer o gol da vitória da equipe catalã por 3 a 2, em Madri, no Campeonato Espanhol, exibiu a camisa 10 para os torcedores no Santiago Bernabéu. Desta vez, no Camp Nou, o CR7 deu o troco.

Já faz anos que os árbitros têm a orientação de punir com essa advertência (cartão amarelo) o jogador que opta por se descamisar ao festejar um gol.

De acordo com o ex-árbitro Sálvio Spinola, hoje comentarista de arbitragem, o juiz precisa, conforme a regra, “punir o excesso”. Nas palavras de Sálvio, ele “deve mostrar cartão amarelo quando o jogador subir no alambrado em volta do campo, quando tirar a camisa ou utilizar máscara para cobrir o rosto”.

Isso de “excesso” na comemoração eu considero uma grande tolice, e tomara que em algum momento as autoridades do futebol repensem as proibições.

O gol é o momento de maior êxtase no jogo, e não há razão plausível para cercear o direito dos atletas de extravasarem seus sentimentos.

Ir até o alambrado para comemorar com os torcedores e colocar uma máscara (como já fez o artilheiro Aubameyang, do Borussia Dortmund) não só não deveriam ser atos dignos de punição como mereceriam ganhar elogios, devido à interação com os fãs e à criatividade. Todo mundo que gosta de futebol adora essas atitudes, seja pela empolgação, seja pela diversão.

Tirar a camisa é um ato de ímpeto individual.

Estranhamente, ao se livrar temporariamente (e bruscamente) dela, o autor do gol parece vivenciar uma espécie de alforria, de desafogo, de alívio. Penso até que, se não se caracterizasse ato obsceno, o artilheiro do momento se desnudaria por completo, correndo peladão de tanto entusiasmo.

Só quem pode desgostar quando o jogador tira a camisa é o patrocinador do time, e com razão, já que, bem no momento em que as câmeras vão mostrar sua marca, fulano decide exibir seu tórax e seu abdômen.

Mas essa é uma questão que deveria dizer respeito só ao clube, que pode avisar ao atleta que, se não ficar vestido na celebração, será multado – afinal, o patrocinador paga para aparecer.

O craque português se desespera ao receber o cartão vermelho do juiz Ricardo de Burgos na partida em Barcelona que o Real Madrid ganhou por 3 a 1 (Manu Fernandez – 13.ago.2017/Associated Press)

O segundo cartão amarelo (que ocasionou o vermelho), Cristiano Ronaldo recebeu porque o árbitro considerou que ele tentou enganá-lo para conseguir um pênalti.

Lançado na área, mano a mano com o zagueiro Umtiti, o português caiu. Para o juiz, simulação, caso em que o responsável pelo teatro deve ser advertido com o cartão.

Assisti à jogada várias vezes. Cristiano Ronaldo não simulou. Houve um choque com o rival e ele se desequilibrou, caindo. Não foi o que viu De Burgos. Por sinal, ele estava bem distante do lance, o que me faz concluir que não era possível ter certeza de nada naquele momento.

Na dúvida, não se deve marcar o pênalti, no que ele acertou. Na dúvida, também não se deve punir o jogador, no que ele errou.

Leia também: Clube sueco ameaça suspender os ‘cai-cai’ do time

Sou defensor da sanção por atitudes antidesportivas, pois são desrespeitosas aos adversários e ao público.

Nesse caso, porém, o astro do Real Madrid foi injustiçado. E sua equipe, consequentemente, prejudicada – máquina de gols que é, Cristiano Ronaldo é sempre um desfalque de peso.

Não terminou aí, contudo. Inconformado com o recebimento do cartão vermelho, o camisa 7 deu um empurrão nas costas do árbitro.

Um empurrãozinho leve, mas mesmo assim não pode. Constitui agressão.

Experiente que é (tem 32 anos), Cristiano Ronaldo tinha de ter se controlado.

Seu destempero rendeu mais que a suspensão por um único jogo. Julgado nesta segunda (14) pela Justiça esportiva espanhola, ficará ao todo cinco partidas afastado.

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Em tempo: Cristiano Ronaldo só poderá jogar de novo pelo Real daqui a 35 dias, no dia 19 de setembro. Para um reconhecido fominha, é uma eternidade.

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