Itália, Inglaterra e Espanha põem à prova técnicos desconhecidos e inexpressivos
Giampiero Ventura, italiano de Genoa, 68 anos. Sam Allardyce, inglês de Dudley, 61 anos. Julen Lopetegui, espanhol de Asteasu, 50 anos.
São eles, respectivamente, os treinadores que assumiram Itália, Inglaterra e Espanha depois da participação desses países na Eurocopa da França, encerrada em julho e vencida por Portugal.
Afora serem pouco conhecidos internacionalmente e estarem no comando de seleções campeãs mundiais (a Itália venceu a Copa do Mundo quatro vezes e a Inglaterra e a Espanha, uma vez cada uma), o que os três têm em comum?
Resposta: zero título relevante, com uma equipe adulta, na carreira.
Nada impede cada um deles de fazer um grande trabalho e eventualmente triunfar na Copa da Rússia, em 2018. As eliminatórias europeias começam neste domingo (4).
Mas convenhamos… Não era melhor alguém com mais estrela, com mais currículo, enfim, com mais nome? E não precisaria nem ser um estrangeiro, nos casos de Itália e Espanha.
Na Itália, Massimiliano Allegri, 49 anos, treinador da Juventus, levou a equipe a várias conquistas recentes: os dois últimos Scudettos e as duas últimas Copas da Itália, por exemplo, além de ter sido vice-campeão europeu em 2015.
E o que dizer de Carlo Ancelotti, atual comandante do Bayern de Munique? Tem duas Champions Leagues e um Mundial de Clubes com o Milan, uma Champions e um Mundial com o Real Madrid, uma Premier League e uma Copa da Inglaterra com o Chelsea, um Francês com o Paris Saint-Germain, entre outras conquistas.
Na Espanha, há Luis Enrique, o técnico do Barcelona, atual bicampeão nacional e da Copa do Rei e campeão da Champions League e do Mundial de Clubes no ano passado.
E há Pep Guardiola, 14 títulos com o Barcelona entre 2008 e 2012 e 7 títulos com o Bayern entre 2013 e 2016. Decidiu ir para a Inglaterra em busca de novos desafios: assumiu no meio deste ano o Manchester City.
Todos os citados estão em clubes que lhes oferecem um rol de craques e os deixam sempre perto de glórias e troféus, porém quem não balança ao receber um convite para comandar a seleção de seu país? Quase sempre é o sonho de todo treinador – Tite, na seleção brasileira, não se cansa de dizer que está realizando o seu.
Na Inglaterra, um bom treinador nascido no país é bem mais difícil achar. Arrisco-me a dizer que não existe um. Tanto há falta de qualidade que, dos 20 times da primeira divisão, 16 têm um gringo na prancheta. As exceções são Bournemouth, Burnley, Crystal Palace e Hull City.
O atual campeão, o Leicester, é dirigido por um italiano, Claudio Ranieri. O português José Mourinho comanda o Manchester United; o espanhol Guardiola, o City; o francês Arsène Wenger, o Arsenal; o alemão Jürgen Klopp, o Liverpool; o italiano Antonio Conte (antecessor de Ventura na Squadra Azzurra), o Chelsea; o argentino Mauricio Pochettino, o Tottenham, e por aí vai.
Allardyce, o popular Big Sam, célebre por mascar chicletes durante as partidas, é respeitado no Reino Unido apesar de sua trajetória quase sempre medíocre, em clubes como Bolton, Blackburn, Sunderland e West Ham. O melhor que conseguiu na carreira iniciada em 1991 foi o título da quarta divisão, em 1998, com o Notts County.
Big Sam tem fama de motivador, porém esse atributo parece ser insuficiente para fazer o English Team voltar ao topo, o qual não atinge desde a Copa do Mundo em casa, 50 anos atrás.
Há 50 anos, aliás, pouco depois de encerrado o Mundial inglês, nascia Lopetegui. Quando jogador (era goleiro), passou a maior parte do tempo nos pequenos Logroñés e Rayo Vallecano.
Como treinador, dirigiu o Real Madrid B e, entre 2010 e 2014, cuidou das categorias de base da Espanha. Faturou dois Europeus, o sub-19, em 2012 (com Jesé, Paco Alcácer e Denis Suárez, entre outros), e o sub-21, em 2013 (com De Gea, Thiago Alcántara, Morata e Isco, entre outros), feitos que levaram o Porto a contratá-lo.
Na equipe portuguesa, naufragou. Os títulos não vieram, e ele acabou demitido.
Já o Torino teve com Ventura a paciência que faltou ao Porto com Lopetegui. Mesmo sem títulos, ele era prestigiado pelo clube de Turim – chegou em 2011 e permaneceu até este ano.
O quase septuagenário é técnico desde 1976, ou há 40 anos. Comandou 18 equipes, sempre na Itália. As mais conhecidas, além do Torino, são Sampdoria e Napoli.
No seu histórico, míseras três conquistas, duas de Série D (com Entella, em 1985, e Pistoiese, em 1991) e uma de Série C (com o Lecce, em 1996), ou uma a cada 13 anos.
A partir desta semana, o trabalho desses três homens começará a ser avaliado pelas respectivas federações de seus países, pela mídia, pelos torcedores.
Ventura e Lopetegui estrearão em amistosos de bom nível de dificuldade. Nesta quinta (1º), a Itália recebe a França, e a Espanha visita a Bélgica.
O primeiro jogo de Allardyce tem importância maior. No domingo, a Inglaterra estará em Trnava, na Eslováquia, para duelar contra a seleção local pelas eliminatórias da Copa.
Espanha e Itália atuarão pelas eliminatórias na segunda-feira (5). Em León, os espanhóis receberão Liechtenstein, um rival frágil. Os italianos estarão em Haifa para encarar Israel.
Em tempo: As outras seleções europeias com títulos em Copa do Mundo mantiveram os técnicos depois da Eurocopa-2016. A Alemanha, que caiu na semifinal ante os franceses, continua com Joachim Löw, campeão mundial no Brasil, em 2014, e a França, com Didier Deschamps, vice-campeão europeu neste ano.