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Mais caçado da Europa, Neymar diz que também sabe provocar os adversários

Luís Curro

Neymar, astro do Paris Saint-Germain e da seleção brasileira, é o jogador mais visado pelos adversários nas cinco principais ligas europeias.

Entre os jogadores que disputam os campeonatos nacionais de Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália, ninguém apanha tanto quanto o atacante.

De acordo com o site WhoScored, que compila estatísticas de futebol na Europa, o camisa 10 do PSG sofre, em média, 5,1 faltas por partida da Ligue 1. Nesta temporada, ele participou de 16 dos 23 jogos do time no campeonato.

O segundo jogador mais caçado também atua no Campeonato Francês: o meia-atacante Nabil Fekir, do Lyon, com 4,2 faltas sofridas por jogo.

Os principais craques dos últimos dez anos, Cristiano Ronaldo e Messi, quando comparados com Neymar no quesito faltas recebidas, ficam bem atrás na temporada em andamento.

O argentino tem suas jogadas interrompidas com falta 2,5 vezes por partida. O português do Real Madrid, apenas 0,9.

Na minha visão, Neymar é mais caçado que os demais jogadores porque prende mais a bola. Isso é percepção, baseada na observação, já que não tenho números que comprovem quanto tempo ele fica com a redonda cada vez que a recebe.

Amante do drible (é quem mais fintas aplica nas principais ligas da Europa: 7,6, em média, por partida), Neymar “convida” os marcadores a tentar tirar-lhe a bola – tarefa difícil devido à extrema habilidade do brasileiro.

O drible, feito com insistência, acaba por estimular o marcador incompetente a apelar para a violência.

Sim, nesse caso, Neymar é vítima. E cabe a ele aprender a apanhar. Resignar-se e esperar que a arbitragem cumpra o papel de punir com cartões quem pratica o antijogo.

Infelizmente, nem sempre isso acontece, por complacência de determinados árbitros com os infratores e pela fama de “cai-cai” que Neymar construiu ao longo da carreira.

As constantes faltas irritam Neymar, é evidente. Ele se sente provocado pelos rivais, e a vontade de revidar muitas vezes é enorme.

O revide, aliás, já aconteceu e o prejudicou, resultando em sua expulsão no duelo com o Olympique de Marselha, há pouco mais de três meses.

Sendo assim, Neymar tem o constante desafio de manter o autocontrole em meio às pancadas.

Nesta terça (30), depois da partida diante do Rennes, na qual o PSG ganhou como visitante e avançou à decisão da Copa da Liga Francesa (marcada para o dia 30 de março), ele falou sobre o assunto.

“Eles (marcadores) provocam e eu jogo futebol. Eu também sei provocar, mas da minha maneira. Provoco com a bola, jogando meu futebol. Não estou ali para bater em ninguém, até porque nem sei fazer isso. Eu me defendo com a bola. Não adianta ficarem batendo, provocando, que eu não vou esquentar. Vou provocá-los ainda mais e fazer meu time sair vencedor.”

Neymar se pronunciou, nesse tom desafiador (“Vou provocá-los ainda mais”), depois de mais uma vez atrair os holofotes em um jogo. Não por ter marcado gol ou dado assistência, mas por dois momentos de provocação por ele protagonizados.

Primeiro, aos 44 minutos do segundo tempo, com o PSG ganhando por 3 a 1, recebeu um lançamento pelo alto no meio-campo e, em vez de dar sequência ao contra-ataque, virou-se e deixou que a bola batesse em suas costas, em lance performático e de exibicionismo.

Mantendo o controle da pelota, jogou-a por cima de Bourigeaud, apicando-lhe um belo chapéu. Na sequência, o adversário o derrubou com um agarrão.

A ousadia de Neymar irritou bastante os atletas do Rennes.

Três minutos depois, já bem perto do apito final, e com o placar em 3 a 2, uma disputa com Neymar deixou Traoré, do Rennes, caído no gramado.

O camisa 10 jogou a bola longe, para ganhar tempo (o que lhe rendeu um cartão amarelo), e depois se aproximou de Traoré e estendeu-lhe o braço, como para ajudá-lo a se levantar.

Só que, quando o rival fez o movimento para aceitar o auxílio, Neymar recolheu a mão, deixando-o “no vácuo”, e afastou-se dando risada.

Neymar, em defesa do próprio comportamento, declarou que o futebol tem estado “chato” e que não se pode mais fazer nada dentro de campo, pois “tudo vira polêmica”.

“Fiz uma brincadeira com o cara (Traoré), fui cumprimentar e tirei a mão, mas já vão falar um monte de besteiras. Eu faço isso com os meus amigos, por que não posso fazer com o adversário? Acabei brincando com ele ali no campo, mas vão colocar polêmica. Por isso que eu falo que o futebol está meio chato.”

Concordo nesse ponto com Neymar, que há algumas coisas que tiram a graça do futebol.

Por exemplo, discordo da advertência (cartão amarelo) que é dada ao atleta que, na comemoração do gol, tira a camisa. Qual o problema nisso?

O “fair play” exagerado (como a “obrigação” de jogar a bola para fora toda vez que um adversário está, ou parece estar, contundido) é outra chateação.

E o VAR (videoarbitragem), sistema em crescente uso há um par de anos? Há coisa mais chata para jogadores e torcedores do que o jogo ficar sendo interrompido (recentemente, na Copa da Inglaterra, houve oito paradas em Liverpool x West Bromwich) para que o árbitro consulte o vídeo e “faça justiça”? (Uso aspas porque, mesmo com o VAR, é ululante que nem sempre haverá acerto.)

Em suma, a meu ver, dentro da regra cada jogador tem o direito de agir como bem entende em campo.

Não se deve tirar de Neymar seu lado lúdico, seus dribles, seu bom humor. Pois faltam alegria e molecagem (no bom sentido) nos gramados. Faltam Garrinchas. Faltam Ronaldinhos Gaúchos.

Porém nesta época do profissionalismo exacerbado e do “politicamente correto”, não só no futebol mas em tudo, Neymar precisa ser inteligente e dosar suas provocações.

Ele bem sabe que há um “código de conduta”, não escrito, entre os jogadores, segundo o qual deve prevalecer o respeito entre eles. Parágrafo único: gracinhas não são bem-vindas.

Em relação à imprensa, marcado por essas atitudes provocativas Neymar já está, então o jeito é relevar os comentários depreciativos, sem deixar de obter aprendizado com as análises pertinentes.

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