Faltou inteligência a Neymar e Dunga contra o Uruguai
Alisson; Daniel Alves, Miranda, David Luiz e Filipe Luís; Luiz Gustavo, Fernandinho e Renato Augusto; Willian, Neymar e Douglas Costa.
Esse foi o Brasil escalado por Dunga tanto para o primeiro como para o segundo tempo da partida desta sexta (25), na Arena Pernambuco, contra o Uruguai, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.
Na primeira etapa, uma equipe de toque de bola consciente, com os jogadores bem posicionados, que conseguiu criar oportunidades e abrir 2 a 0 no placar, com Douglas Costa, logo a 40 segundos, e Renato Augusto. Mesmo depois de Cavani ter diminuído para os visitantes, a seleção continuou a comandar as ações.
Na segunda etapa, Suárez empatou aos 3 minutos, e a mesma equipe, com exatamente os mesmos jogadores que começaram o jogo e fizeram um primeiro tempo de razoável para bom, apequenou-se. Deixou o Uruguai se sentir à vontade em campo.
Como explicar?
Primeiro, há o aspecto emocional.
O Brasil sentiu o empate. Tinha 2 a 0 de vantagem e deveria ter “matado” a partida no primeiro tempo, quando dominou as ações. Antes de Cavani fazer o gol, Neymar desperdiçou duas excelentes oportunidades e, depois, o time teve outras duas chances, uma com Neymar, uma com Douglas Costa. Poderia ter ido para o intervalo com 4 a 1 ou até 5 a 1.
Quando saiu o gol de Suárez, o fator psicológico pesou e tirou força do time de Dunga. Era um jogo que poderia estar ganho, até facilmente, e que se tornou arriscado.
Segundo, há o aspecto físico.
O Uruguai teve mais pernas do que o Brasil no segundo tempo. Tinha mais força nas divididas e levava vantagem na “segunda bola”.
Influenciados ou não pelo aspecto emocional (possivelmente sim), o fato é que os brasileiros se mostraram mais cansados que os uruguaios, e a parte física influencia na parte técnica – há menos qualidade nos passes e menor capacidade de drible, por exemplo.
Terceiro, há o aspecto Neymar.
Quando ele está bem, o Brasil é um. Se cai de rendimento, é outro.
Neymar foi escalado como falso centroavante (no Barcelona joga pela esquerda do ataque) e havia um temor sobre isso, o de que seu rendimento cairia. Mas no primeiro tempo ele esteve bem na função. Centralizado, recuava um pouco para receber a bola e fazia a distribuição adequadamente. O gol de Renato Augusto saiu de um lançamento do camisa 10, que também serviu uma vez Douglas Costa, que finalizou mal. Mas faltou o gol: Neymar recebeu dois ótimos passes, de Daniel Alves e de Douglas Costa, e, quase na cara do goleiro Muslera, errou as finalizações.
No segundo tempo, a marcação apertou. Fucile aproximou-se mais do capitão brasileiro e passou a incomodá-lo, dando-lhe menos liberdade e fazendo faltas. Neymar foi se irritando e seu futebol decaiu. A frustração resultou em revide. Neymar fez uma falta dura, levou cartão amarelo e, suspenso, não jogará na terça (29), contra o Paraguai, em Assunção.

Neymar é um jogador muito inteligente, mas faltou-lhe inteligência no segundo tempo. Como faltou a Dunga inteligência.
Dunga é o quarto e último aspecto.
O técnico está ali para perceber o que está errado e, rapidamente, corrigir. Ter na cabeça um plano de jogo para situações possíveis (o empate do Uruguai era uma delas), colocar esse plano em prática e ter a certeza de que os jogadores estão capacitados para cumpri-lo.
Dunga, vendo o tempo passar e insatisfeito com o resultado, pôs o meia ofensivo Philippe Coutinho no lugar do segundo volante, Fernandinho, aos 21 minutos. Imagino que a ideia era Coutinho ser o jogador incumbido de fazer o que Neymar fazia: recuar até a intermediária do ataque, receber a bola e buscar uma tabela e/ou um chute a gol (Coutinho chuta bem de fora da área).
Só que Neymar continuou a cumprir esse papel, e Coutinho mal pegou na bola – conseguiu um único chute a gol, aos 39 minutos, para defesa de Muslera. Então não funcionou. Era preciso mudar taticamente a equipe, e isso não ocorreu.
Outra falha do treinador. Aos 32 minutos, o centroavante Ricardo Oliveira entrou no lugar de Douglas Costa. A ideia era ter um homem mais presente na área, a fim de, em uma ou duas possíveis oportunidades, finalizar com eficiência. Mas como, se a bola não chega? Neymar já não funcionava, Willian e Renato Augusto estavam sumidos (assim como estava Douglas Costa), Coutinho idem. Opções ofensivas, os laterais Daniel Alves e Filipe Luís àquela altura estavam mais preocupados (com razão) com Suárez, Cavani e com o ótimo (ao menos nesse jogo) Carlos Sánchez.
Se havia um jogador para ir a campo com potencial para solucionar isso, esse era Lucas Lima, reconhecidamente um meia com visão de jogo privilegiada, além de ser muito rápido. Mais: ele é companheiro de Ricardo Oliveira no Santos, ou seja, conhece bem o artilheiro, sabe onde e como o camisa 9 gosta de receber a bola.
Lucas Lima entrou na partida só aos 40 minutos. Atuou, com os acréscimos, 9 minutos. Teve tempo apenas para um excelente lançamento para Neymar, que perdeu a bola, e para sofrer uma falta perigosa, desperdiçada por Neymar. Era para Lucas Lima ter entrado, no mínimo, junto com Ricardo Oliveira no jogo.
Dunga disse depois da partida que o Uruguai nunca foi um adversário fácil. Isso todo mundo sabe. Cabe ao treinador agir, achar caminhos (e viabilizá-los), para que um rival difícil se torne menos difícil. O técnico está lá para isso, não para ficar olhando com cara de “e agora, o que eu faço”?
Em tempo: Dunga terá um tempinho, não muito, para pensar o que fazer antes da partida com o Paraguai, na qual o Brasil precisa conseguir um bom resultado. Pois, se perder e houver uma combinação possível, até provável, de resultados (a Colômbia vencer o Equador, a Argentina ganhar da Bolívia e o Chile derrotar a Venezuela), terminará esta rodada dupla das eliminatórias em sétimo lugar – fora da zona de classificação para a Rússia-2018.