Companheiro de Dante na sensação Nice, lateral evita o 7 a 1: “É melhor não lembrar”
Os campeonatos nacionais europeus ainda estão no início, com menos de um terço dos jogos disputados. Porém, a exemplo da temporada passada, quando o Leicester brilhou na Inglaterra e ganhou o primeiro título de sua história, uma equipe já pode ser considerada a grande surpresa.
Na Ligue 1, o Campeonato Francês, a liderança pertence ao Nice.
O estranhamento é grande, já que nas últimas quatro edições todos se acostumaram a ver o Paris Saint-Germain no topo da tabela, geralmente com larga vantagem sobre a concorrência – o PSG é o atual tetracampeão francês.
Neste ano, entretanto, o Nice, que não é campeão desde 1959 (tem ao todo quatro títulos, todos nos ano 1950), surpreende. Vai a campo neste domingo (30), em casa, contra o Nantes, para manter a excelente e invicta campanha: oito vitórias e dois empates. Uma vitória deixará o time com 29 pontos, seis de vantagem sobre Monaco e PSG.
No elenco, a equipe do técnico suíço Lucien Favre tem dois brasileiros, e ambos têm sido titulares: o zagueiro Dante, de 33 anos, e o lateral esquerdo Dalbert, de 23.

O “Mundo é uma Bola” entrevistou, por e-mail, o mais jovem, e também menos conhecido, deles (no Brasil, certamente pouquíssimos já ouviram seu nome, que é bem pouco ortodoxo).
Dalbert, que é natural de Barra Mansa (RJ) e foi criado pela avó Sebastiana, teve passagens pelas divisões de base de Fluminense e Flamengo antes de atuar no futebol de Portugal (Acadêmico de Viseu e Vitória de Guimarães), falou sobre o momento do Nice, sua carreira, seu estilo de jogo e seus objetivos.
Também fez elogios ao compatriota, que participou da maior vergonha da história do futebol brasileiro. Dante, então jogador do Bayern de Munique, foi titular na humilhante derrota por 7 a 1 do Brasil para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014 – ele substituiu o suspenso Thiago Silva.
Um assunto no qual Dalbert, apesar da proximidade com o colega, não teve coragem de tocar até agora. “É o tipo de coisa que é melhor evitar falar e lembrar”, justificou.
A seguir, a entrevista com o jogador que chegou ao Nice no meio deste ano e que diz sonhar em ter uma chance na seleção brasileira – é fã de Marcelo, do Real Madrid, o atual preferido do técnico Tite na lateral esquerda.
Dalbert é um nome incomum. Sabe a razão de seu pai e sua mãe o terem escolhido para você?
Dalbert: Rapaz, nem eu sei o motivo (risos). Minha mãe e meu pai queriam um nome que combinasse com de meus outros irmãos, Albert e Herbert (Dalbert tem ao todo sete irmãos). Acho que alguém da família comentou Dalbert e eles gostaram.
Quando começou a jogar futebol? Qual seu time de infância?
Dalbert: Sempre jogava nas ruas de Barra Mansa. Aos 17 anos, fiz minha primeira partida como profissional pelo próprio Barra Mansa. Meu time de infância é o Vasco, mas hoje pouco acompanho (o clube).
Você sempre atuou na lateral esquerda? Por que decidiu jogar nessa posição?
Dalbert: Sempre joguei na lateral. Meu pai também é canhoto e jogava na mesma posição, por isso deve ter me influenciado de alguma forma. Na posição, gosto muito do Marcelo (Real Madrid) e do Alaba (Bayern). Mas já atuei como ala e meia.

Qual seu estilo de jogo?
Dalbert: De muita intensidade e velocidade.
Como foi a decisão de jogar no futebol de Portugal?
Dalbert: Alguns portugueses viram vídeos e jogos do Brasileiro sub-20. Fizeram uma proposta e aceitei na época.
E a transferência para a França? Por que a escolha pelo Nice?
Dalbert: Meu primeiro pensamento foi na minha família (o salário é melhor do que o anterior) e a certeza que estaria dando um passo à frente na minha carreira. O Nice está jogando a Liga Europa e formou um time competitivo nesta temporada.
O que foi mais difícil na adaptação em Portugal? E agora, na França, quais têm sido as dificuldades?
Dalbert: Não tive grandes dificuldades no futebol português, por isso fui bem por lá. Lembra um pouco o jeito do nosso país. A dificuldade na França, além do idioma, é que o futebol é de mais contato e marcação.
Você considera surpreendente a campanha do Nice?
Dalbert: Cada jogador confiava no trabalho de cada um, e a gente passou a acreditar no potencial da equipe com os treinamentos na pré-temporada, com o passar dos dias. O ano passado teve o Leicester como grande surpresa na Europa, porém estamos vivendo uma rodada de cada vez, justamente para não criar expectativa e prejudicar o time.
Como tem sido o convívio com o Dante, o outro brasileiro do Nice? Você já conversou com ele sobre Brasil 1 x 7 Alemanha, jogo do qual ele participou na Copa de 2014?
Dalbert: Dante é um amigo que fiz para vida no Nice. É meu companheiro de quarto nas concentrações e um cara nota dez! Vou user sincero: nunca toquei nesse assunto com ele! No jogo contra a Alemanha, lembro que estava assistindo em Portugal, e mesmo longe do país senti a derrota como se estivesse dentro de campo, porque sou brasileiro e torço pela minha seleção. É o tipo de coisa que é melhor evitar falar e lembrar, por isso nunca puxei esse assunto.

O que falar sobre o atacante italiano Mario Balotelli, seu colega no Nice e famoso pelas polêmicas?
Dalbert: Minha relação com o Balotelli é muito tranquila, e é assim tanto comigo como com os demais. Eu só sabia dele pela TV, e pessoalmente a gente cria outra imagem da pessoa. É um cara focado nos treinamentos, se dedica, discute posicionamento tático, vejo ele com vontade de vencer. Como jogador, é acima da média.
Qual o melhor lateral esquerdo brasileiro da atualidade? E qual o melhor da posição no mundo?
Marcelo, do Real Madrid.
Fora do futebol você tem um outro tipo de atividade, um hobbie?
Sou tranquilo. Gosto de ouvir pagode, samba e jogar videogame quando tenho tempo livre.

Quais são suas maiores qualidades como jogador? E os defeitos?
Qualidades: a velocidade e a agressividade para subir ao ataque. Preciso melhorar a parte defensiva.
Qual o atacante mais difícil de marcar que você já enfrentou?
Islam Slimani (argelino), ex-atacante do Sporting (de Portugal). Hoje ele joga pelo Leiceister.
Quais são seus objetivos na vida profissional e na vida pessoal?
Na vida profissional, me firmar na Europa, pois sou muito novo, e ter a oportunidade de jogar pela seleção brasileira. No lado pessoal, poder ajudar minha família no Brasil.