Risco de não ir a uma Copa volta a atormentar a Holanda, que demite técnico no meio do caminho
“Que os cartolas holandeses sentem, conversem e ajam para que nas eliminatórias para a Copa da Rússia-2018 não se viva um déjà vu.”
Dessa forma encerrei o texto publicado no dia 15 de outubro de 2015, dois dias depois de a Holanda, terceira colocada na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, fracassar nas eliminatórias da Eurocopa de 2016.
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Possivelmente os cartolas sentaram e conversaram. A ação depois dessa reunião? Manter o treinador Danny Blind no cargo.
Quase um ano e meio depois, o risco de a Laranja viver esse indesejado déjà vu ganhou corpo depois da derrota por 2 a 0 para a Bulgária no sábado (25), no estádio Vasil Levski, em Sofia, a capital do país do Leste Europeu.
A ação depois desse resultado? Tirar o treinador Danny Blind do cargo.

A derrota em Sofia deixou a Holanda, vice-campeã nas Copas de 1974 (Alemanha Ocidental), 1978 (Argentina) e 2010 (África do Sul), na quarta colocação no Grupo A, com 7 pontos em cinco jogos no qualificatório da Europa para o Mundial da Rússia, no ano que vem.
Nas mesmas cinco partidas, a França acumulou 13 pontos, a Suécia, 10, e a Bulgária, 9. O campeão da chave assegura vaga na Copa, e o vice poderá disputar uma repescagem contra o segundo colocado de um dos demais oito grupos.
Escrevo “poderá” porque somente os oito melhores segundos colocados terão essa chance. O pior deles estará fora.
Os holandeses só conseguiram derrotar Belarus e Luxemburgo, as seleções mais fracas da chave – não ganharam nenhum jogo até aqui. Perderam da França, que está invicta (quatro vitórias e um empate), e empataram com a Suécia, que só perdeu da França.
Ainda faltam cinco partidas, então não é cedo para desespero? Não. Ele veio, e avassalador.
Se a lógica prevalecer, a Holanda vence as partidas contra Luxemburgo (que é a próxima, no dia 9 de junho) e Belarus; e os adversários que estão à frente na tabela, idem.
Aí, para ultrapassar a Bulgária, basta dar o troco, atuando em casa, em setembro. Possível? Sim, sem dúvida. Em Holanda x Bulgária, sempre o favoritismo será da primeira.
Porém é necessário avaliar em que condição técnica e emocional os holandeses chegarão a essa partida. Quatro dias antes dela, haverá o duelo com os franceses, na França. Uma derrota para os Azuis deixará os Laranjas (que às vezes vestem azul) com a corda no pescoço.
E a Suécia? É muito cedo para falar dela. Se os holandeses não se posicionarem adiante dos búlgaros, nem adianta tratar desse confronto, que poderá determinar o país que jogará a vida na repescagem – é extremamente improvável que a França de Griezmann, Pogba e companhia não seja a campeã do grupo.
Aliás, para saber como a Holanda vai se comportar daqui para a frente, é necessário saber quem a KNVB (a federação de futebol do país) contratará para substituir Danny Blind.
Que não gostou nem um pouco de ser descartado no meio do caminho. “É deplorável que tenha terminado assim. Perder da Bulgária foi um acidente. Estávamos no rumo certo.”
“Blind”, em holandês, quer dizer “cego”. E Danny Blind, aos 55 anos, só pode não estar enxergando bem se considera que fazia um bom trabalho.
Não fez nas eliminatórias para a Eurocopa e não fazia agora (foram 7 vitórias em 17 jogos, muito pouco para uma seleção do nível e da tradição da holandesa).
Isso é tão óbvio quanto dizer que foi um desacerto a CBF ter eleito Dunga, e não Tite, para substituir Felipão na seleção brasileira depois da Copa de 2014.
Levou quase dois anos para a confederação brasileira perceber isso, mas percebeu, após o Brasil ser vergonhosamente eliminado da Copa América dos EUA na primeira fase. Tite assumiu, e o resultado está aí: a classificação para o Mundial russo encaminhadíssima – ela pode ser matematicamente assegurada nesta terça (28), contra o Paraguai.
A KNVB se deu conta, ainda a tempo de a Laranja se recuperar, de que com Blind não dava mais. Que errou ao mantê-lo.
Precisa, agora, acertar na definição do novo técnico. Há muitas opções. O site Football Oranje, especializado em futebol holandês, elencou algumas em artigo de Michael Bell: Louis van Gaal, Frank de Boer, Ronald Koeman, Ruud Gullit, Jaap Stam, Jürgen Klinsmann, Claudio Ranieri…
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Escolher Van Gaal, que está sem emprego, seria resgatar o treinador que conduziu a Holanda ao pódio no Mundial no Brasil – derrotando a seleção anfitriã na disputa do terceiro lugar. No entanto, ele está em baixa. Pós-Copa, no Manchester United, naufragou.
Koeman e Stam, ex-zagueiros da seleção, estão empregados no futebol inglês, no Everton (primeira divisão) e no Reading (segunda divisão). Tirá-los de suas atuais equipes pode não ser fácil.
Klinsmann (ex-seleção dos EUA), De Boer (ex-Inter de Milão), Ranieri (ex-Leicester) e Gullit (comentarista da BBC) estão, teoricamente, disponíveis.
Porém De Boer, outro ex-zagueiro da seleção, não aceitará um convite. Seu empresário declarou que ele quer dirigir um time, não uma seleção.

Com Gullit é diferente. Um dos grandes meias-atacantes da história da Holanda, disse que se sentiria “honrado” na função. Contra ele, há o fato de estar inativo desde 2011, quando treinou o Terek Grozny, da Rússia.
Caso o alemão Klinsmann ou o italiano Ranieri seja o escolhido, e aceite, será a primeira vez em quase duas décadas que um estrangeiro comandará a Holanda. O último, o austríaco Ernst Happel (1925-1992), levou a equipe ao vice-campeonato na Copa da Argentina, em 1978.
Talento, a atual Holanda tem.
Van Persie não comanda mais o ataque, mas Bas Dost é um centroavante que faz muitos gols. Veteranos, Robben e Sneijder ainda se mantêm comprometidos e afirmam ter motivação para disputar mais uma Copa. Daley Blind (filho do treinador demitido) e Wijnaldum defendem, respectivamente, os poderosos Manchester United e Liverpool.
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Há ainda Strootman, meio-campista da Roma, Klaassen, meia-atacante do Ajax e atual camisa 10 da seleção, e o atacante Memphis Depay, que depois de ir mal no Man United reencontrou seu futebol no Lyon, da França.
Se talentos há, basta o treinador ter competência para fazer que eles funcionem coletivamente – em curtíssimo prazo. Será esse o desafio do escolhido.
Em tempo: Caso os holandeses joguem bem do meio para a frente, as deficiências atrás (que existem, e muitas, tanto que houve especulação de que o brasileiro Eric Botteghin pudesse ser convocado) serão relevadas. Pois Holanda é sinônimo de futebol bonito e ofensivo – quiçá isso não mude jamais.