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Uso do vídeo para jogo da Copa das Confederações por 4min10s; é imperativo haver celeridade

Luís Curro

Quatro minutos e dez segundos.

Esse é o tempo que, em Alemanha x Camarões, neste domingo (25), durou uma revisão de jogada feita pelo juiz colombiano Wilmar Roldán, com ajuda do VAR, o sistema de videoaerbitragem.

Em quatro minutos e dez segundos é possível assistir, por exemplo, a uma final olímpica dos 1.500 metros (masculina ou feminina) no atletismo ou a uma final olímpica dos 400 m livre (masculina ou feminina) na natação.

A Fifa tem elogiado o recurso de videoarbitragem, que tem passado por testes e está sendo usado na Copa das Confederações, evento-teste que a Rússia faz a um ano da Copa do Mundo.

Só que quatro minutos e dez segundos para esclarecer um lance são uma eternidade no futebol. A bola parou de rolar aos 15min35s do segundo tempo, e o jogo em Sochi só foi reiniciado aos 19min45s.

Quatro minutos e dez segundos são quase um décimo do total de uma das etapas da partida (45 minutos). Tanto é uma aberração a demora para se chegar a uma definição que ela superou os acréscimos que Roldán deu: quatro minutos.

Aliás, como quatro minutos de acréscimos são praticamente uma praxe no segundo tempo (por paralisações como substituições e atendimento aos atletas em caso de contusões), ficou claro que o árbitro não considerou a interrupção para o uso do VAR.

Isso é um erro. Se a Fifa não orientou a arbitragem a incluir nos acréscimos o tempo em que o jogo fica parado para a videoarbitragem, deve fazê-lo com urgência. Se fez isso e Roldán não acatou por esquecimento, o colombiano merece uma séria reprimenda.

O jogo estava decidido, a Alemanha já vencia por 3 a 1 antes dos acréscimos, mas haverá duelos em que esses minutos a mais podem significar muito, até decidir uma classificação.

Por que demorou tanto? Narro a seguir os fatos, com base no que a transmissão da TV mostrou.

Os gols de Alemanha x Camarões e o lance entre Mabouka e Can que gerou interrupção de mais de 4 minutos (Reprodução/Fifa TV)

Aos 15 minutos e 35 segundos, com a Alemanha ganhando por 1 a 0, houve uma falta dura do camaronês Mabouka no alemão Can.

Roldán marcou e mostrou cartão amarelo. Não para Mabouka, mas para outro atleta de Camarões: Siani.

Claramente, o árbitro se confundiu, pois os dois camaroneses estavam perto de Can na jogada. Siani mostrou-se surpreso, porém não houve reclamação acintosa.

A partida não recomeçou. O árbitro aparentava ouvir, pelo fone em sua orelha direita, a turma do VAR, chefiada pelo português Artur Dias (que nessa partida era auxiliado por um argentino e um uruguaio, que falam espanhol como Roldán).

Qualquer um que estivesse vendo o jogo pensaria de cara: 1) o cartão foi para o jogador errado, vão corrigir isso; 2) pode ser que tenha sido uma falta para cartão vermelho, e Roldán será avisado disso para fazer uma reavaliação.

Levou um minuto e meio até ele decidir ir à lateral do campo para rever o lance no vídeo. Voltou e, aos 17min26s, mostrou o cartão vermelho para… Siani.

O que se vê na sequência são camaroneses revoltados, especialmente Siani, que passou a aplaudir ironicamente a decisão. Não sem razão.

Se era passível de discussão o fato de a falta ter sido violenta a ponto de ser necessária a expulsão, não era o fato de ela ter sido cometida por Mabouka e não por Siani.

O único replay mostrado para o telespectador comum exibia claramente que o infrator era o camisa 2 (Mabouka) e não o camisa 15 (Siani).

O que eu questionei no momento e questiono é: ninguém da videoarbitragem falou para Roldán que ele advertira o jogador errado? Ou alguém falou e ele não entendeu?

Pior: mesmo que ninguém tenha falado, o que já seria um erro grave (não é aceitável que os profissionais do VAR, que conferem o lance por vários ângulos, não tenham visto qual jogador atingiu Can, e, tendo visto, a obrigação é avisar o juiz de campo), Roldán foi ele mesmo ver o vídeo. Não viu que foi o camisa 2 e não o 15? Haja desatenção!

Pois bem: face às reclamações camaronesas, o colombiano caminhou para a lateral a fim de assistir, de novo, à jogada.  Já tinham se passado dois minutos e meio do cometimento da falta.

E então Roldán, depois de mais 25 segundos de revisão, acertou: cartão vermelho para Mabouka, aos 18min47s, sendo cancelado o dado para Siani.

Uma tremenda lambança!

E o jogo enfim recomeçou, aos 19min45s.

O árbitro colombiano Wilmar Roldán enfim acerta e mostra o cartão vermelho para Mabouka (Reprodução/Site da Fifa)

Apesar das polêmicas geradas, o VAR tem se mostrado eficiente até o momento na Copa das Confederações. Nesse lance, mesmo com a exagerada demora, o resultado final foi correto.

Não há dúvida de que essa é uma tecnologia que veio para ficar, e o desafio da Fifa e das confederações nacionais é dar um jeito para que todos os campeonatos tenham acesso ao recurso.

Pois se traz justiça, ela tem que ser uniforme, para todos os que praticam o futebol. Que haja organização, vontade e investimento nesse sentido.

Só que o alerta é mantido, com grande dose de insatisfação: quatro minutos e dez segundos é tempo demais para uma revisão. É imperativo haver celeridade.

Além se ser irritante para a torcida e interromper a dinâmica da partida (os jogadores, inclusive, esfriam fisicamente), passa a nítida impressão de incompetência, na análise técnica do lance ou na comunicação entre o árbitro de campo e o videoárbitro.

Seja um caso ou seja o outro, ambos são inaceitáveis.

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Em tempo: Na transmissão da Band (canal aberto), foi longo o tempo que o narrador Téo José e o comentarista Neto, concentrados apenas na troca do cartão amarelo pelo vermelho, levaram para perceber o mesmo que o árbitro Roldán não percebera: só depois de 1 minuto e 20 segundos de o cartão vermelho ter sido dado a Siani é que o locutor disse: “Pode ser que eles tenham expulsado o jogador errado”. Sim, qualquer espectador minimamente atento tinha visto isso muito antes… O mesmo não ocorreu no SporTV (canal fechado); desde o início da jogada, quando Roldán advertiu Siani com o amarelo, o comentarista Maurício Noriega apontou essa confusão.

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