Brasileiro aceita virar holandês, mas só se for convocado para a seleção laranja
Já escrevi neste blog sobre Eric Botteghin. Zagueiro, brasileiro, paulistano, radicado na Holanda há uma década.
Aos 29 anos, ele é titular do Feyenoord, líder da Eridivisie, o Campeonato Holandês, com cinco pontos de vantagem sobre o vice-líder, o Ajax, tendo sido disputadas 22 de 34 rodadas.
Nesses 22 jogos, o Feyenoord, da cidade de Roterdã, perdeu uma única vez (para o Go Ahead Eagles, no dia 6 de novembro, fora de casa) e tem a melhor defesa do campeonato, com 12 gols tomados.
A equipe, campeã pela última vez em 1998/1999, tenta quebrar a hegemonia de Ajax e PSV Eindhoven, que ganharam os seis últimos campeonatos e 16 dos últimos 17.
Eric tem feito uma temporada sólida e recebido elogios da mídia esportiva holandesa, que o tem cotado para defender não a seleção brasileira, mas a do país europeu.
O zagueiro central relata que os companheiros de time falam com ele sobre o assunto.
“Eles comentam bastante essa possibilidade comigo. Acham legal o reconhecimento que estou tendo. E fazem brincadeiras, como me dar o colete laranja [cor do uniforme da Holanda] nos treinamentos”, disse, por e-mail, a “O Mundo é uma Bola”.
Apesar de não haver indicação de que o treinador Danny Blind possa convocar Eric, que nunca teve chance na seleção brasileira (até por ter atuado apenas em clubes modestos, como Zwolle, NAC Breda e Groningen, que não o tornaram famoso), o jogador mostra estar aberto a um chamado.
“Se realmente surgir a possibilidade, tenho interesse, sim. Mas até agora é somente especulação. Fico muito feliz pelo meu futebol estar sendo reconhecido. Mas, por enquanto, não existe nada de concreto. Minha primeira opção sempre foi a seleção brasileira, mas existe muita concorrência.”

Os zagueiros preferidos do técnico Tite desde que assumiu o Brasil no lugar de Dunga, em meados de 2016, têm sido Miranda (Inter de Milão), Marquinhos, Thiago Silva (ambos do PSG), Gil (Shandong Luneng, da China), Rodrigo Caio (São Paulo) e Geromel (Grêmio).
Na Holanda, Eric tem, teoricamente, uma disputa menos acirrada. As principais opções de Blind são Van Dijk (Southampton, da Inglaterra), Bruma (Wolfsburg, da Alemanha) e Martins Indi (Stoke, da Inglaterra) – todos defendem times médios.
O brasileiro tem a vantagem de atuar em uma vitrine melhor. O Feyenoord é um dos grandes holandeses e é natural o treinador da seleção olhar para os melhores jogadores dos principais clubes nacionais. E tem a desvantagem de disputar um campeonato de nível técnico inferior ao Inglês e ao Alemão.
Questionado sobre quais qualidades considera ter que podem colocá-lo à frente dos concorrentes, Eric fez elogios aos beques holandeses e preferiu não fazer comparações. “Cada um tem a sua característica. Não gosto de falar no que sou melhor ou pior, prefiro deixar para vocês [jornalistas] analisarem.”
Pois eis minha análise.
- Eric alterna bons momentos com outros ruins.
- É alto (1,93 m) porém também é pesado, o que prejudica sua impulsão e o torna lento; por conseguinte, fica vulnerável nos contra-ataques e nas disputas mano a mano com atacantes ágeis e velozes.
- O preparo físico é uma de suas virtudes. Raríssimas vezes é substituído (na atual Eridivisie, não foi nenhuma vez), aguenta muito bem os 90 minutos mais os acréscimos das partidas. Pulmões privilegiados.
- Nos lances de bola parada (faltas, escanteios), por ser forte e corpulento, tem condição de levar vantagem sobre qualquer adversário, na defesa ou no ataque.
- Taticamente, nem sempre se posiciona bem e parece ficar desorientado em algumas jogadas ofensivas coletivas dos oponentes. Tecnicamente, é limitado – parece saber disso e não inventa. Nada de firulas.
Sendo feitas essas observações, concluo que Van Dijk, que tem as virtudes de Eric mas não suas deficiências, é melhor que o brasileiro. Bruma e Martins Indi, com estilos diferentes, são equivalentes.
É relevante ressaltar que não vi muitos jogos de Eric, então minha opinião sobre ele não pode ser considerada definitiva, e sim pontual. Especialmente nesta temporada, ele tem jogado muito bem e até feito gols, contribuindo muito para o ótimo desempenho do Feyenoord.
Tanto que o treinador do time, Giovanni van Bronckhorst (vice-campeão como jogador na Copa do Mundo de 2010), que o observa e treina quase diariamente, disse em entrevista que “Eric Botteghin joga tranquilamente na seleção holandesa, italiana e brasileira”.
Não me parece, entretanto, que Eric esteja no radar de Tite – nem no de Giampiero Ventura, o técnico da Squadra Azzurra. Por isso, sua maior chance de vestir a camisa de uma seleção é mesmo com a Holanda. O que não seria nenhum demérito, pelo contrário.
Só que tudo indica, e eu soube disso somente depois de ter escrito tudo o que você já leu até aqui, que Eric nunca será convocado para a seleção holandesa e não se tornará o primeiro brasileiro a jogar com a famosa camisa laranja.
Explico a razão. Em resposta a contato do blog acerca da possibilidade de o treinador Blind dar uma oportunidade ao zagueiro, Bas Ticheler, do departamento de comunicação da KNVB (a federação holandesa de futebol), afirmou: “Eric Botteghin não tem a nacionalidade holandesa, então ele não está elegível para atuar pela seleção da Holanda. Nosso técnico e seu estafe não focam jogadores estrangeiros porque eles não podem ser selecionados.”

Ou seja, o brasileiro não esteve e não está na mira de Blind.
Eric, que tem dupla cidadania (brasileira e italiana), vive há dez anos no país, mas mesmo assim, para se tornar holandês, precisa solicitar a naturalização. Que implica, pelas regras que vigoram no país europeu, abdicar da sua nacionalidade original.
E isso (deixar de ser brasileiro) ele avisou que não pretende fazer, a menos que a KNVB o avise de que está nos planos da seleção.
Como a federação informou que ele não está sendo observado, isso jamais acontecerá.