O contrato de Bale e o ego de Cristiano Ronaldo
Contratos feitos no futebol costumam ser mantidos em máximo sigilo.
Clubes, empresários e jogadores não gostam que a imprensa tenha acesso aos documentos e torne públicas informações como valores, cláusulas, direitos e obrigações.
Todo esse mistério dá margem a desconfianças, ainda mais neste momento de escândalos de corrupção, que poderiam ser evitadas se as partes envolvidas optassem pela transparência.
Na quarta (20), vazou o contrato firmado em 2013 entre o Real Madrid e o Tottenham relacionado à transferência do atacante galês Gareth Bale do clube inglês para o gigante espanhol.
Quem revelou o conteúdo de seis páginas foi o Football Leaks, um site especializado em divulgar informações de bastidores do meio futebolístico, com ênfase nas negociações de jogadores e na participação de terceiros (como fundos de investimentos) nessas transações.
Em definição própria, o Football Leaks, ativo desde setembro, “luta pela transparência no mundo do futebol”. Seus autores se mantêm anônimos.
A divulgação da cópia do contrato de Bale causou barulho, já que foi uma das mais relevantes transferências dos últimos anos. Teria sido a segunda maior da história, € 91,6 milhões, atrás da de Cristiano Ronaldo, por quem o Real Madrid pagou € 96 milhões em 2009 ao Manchester United.
Só que não.
Há no acordo entre Real e Tottenham a possibilidade de o clube madrilenho fazer o pagamento em quatro parcelas, por um preço maior.

Essa foi a opção da direção do Real Madrid. Resultado: Bale custará, quando a última parcela for quitada, em julho deste ano, € 100,8 milhões (R$ 445 milhões pelo câmbio atual).
Mais que Cristiano Ronaldo.
E tudo o que o Real não queria era que chegasse a público, ou seja, aos olhos e ouvidos de seu maior craque, conhecido pelo egocentrismo, que ele havia perdido a condição de jogador mais caro do planeta. Seria impossível saber o quanto isso abalaria sua autoestima.
É preciso ressaltar que houve meios de comunicação que apontaram, à época da conclusão do negócio, que a transferência de Bale havia sido a mais alta até então realizada. O Real não confirmava. Com o contrato à mostra, a informação se tornou oficial.
Agora o Real Madrid fica em uma saia justa com Cristiano Ronaldo.
Para deixar intacto o ego do superastro, o manteve em “primeiro lugar” por dois anos e meio, ocultando a verdade – e com a anuência do Tottenham, que, pelo contrato, comprometia-se a jamais se pronunciar sobre os valores da negociação.
Súbito, alguém colocou a boca no trombone, estragando o plano.
Qual será a reação do CR7, que já não deve estar nada satisfeito por na semana passada ter perdido o posto de melhor do mundo para Messi?

Meu palpite: mesmo com contrato até 2018, Cristiano Ronaldo deixará o Real Madrid antes, possivelmente no meio deste ano. Há clubes interessados, e o português já indicou algumas vezes que pode seguir por outra rota. “Eu sou um jogador do Real Madrid por ora, mas nunca se sabe. Você tem que buscar a felicidade. Ninguém sabe o dia de amanhã”, afirmou em novembro.
Aos 30 anos (quase 31), se tem intenção de brilhar em algum outro lugar, tem de ser logo.
Se Cristiano Ronaldo sair, abre espaço para Bale, 26 anos, virar o dono do time e mostrar que pode ser um homem de 100 milhões de euros. Até agora, jogou bem, mas quem é espetacular para a equipe merengue não é ele, é o CR7.
Se Cristiano Ronaldo ficar, terá de conviver com a “traição” do Real. E, toda vez que olhar para o lado, ver o colega considerado mais valioso. Será que ele aguenta?
Em tempo: Já que o assunto é transferência, a do argentino Sebastián Blanco para o Corinthians, que parecia provável, pode não dar certo, pois o San Lorenzo, o time do papa, não aceitou o oferecido pelo Corinthians. Se mantiver o interesse no jogador, o atual campeão brasileiro terá de pagar mais para tê-lo.