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Leicester tira o futebol europeu da mesmice

Luís Curro

Sensação do Inglês, o Leicester City tem chamado a atenção pelo futebol veloz, eficiente e competitivo.

Mais que isso, o clube que veste azul é uma bem-vinda novidade nos principais campeonatos nacionais da Europa, que se aproximam de suas metades envoltos na mesmice.

Na França, o PSG, mesmo com 20 jogos a disputar, já é o virtual campeão. Soma 48 pontos, 17 a mais que Angers e Monaco. Só um desastre impede a equipe dos zagueiros Thiago Silva e David Luiz e do goleador sueco Ibrahimovic de faturar o quarto título seguido.

Na Alemanha, o Bayern de Munique, campeão nas últimas três temporadas, sobressai. Favoritíssimo ao título, acumula 43 pontos e é perseguido pelo Borussia Dortmund (campeão em 2010/2011 e 2011/2012), cinco pontos atrás.

Em disputas menos desequilibradas, na Espanha a liderança é do Barcelona; na Itália, da Inter de Milão; na Holanda, do Ajax; em Portugal, do Sporting. Todos esses são grandes em seus países e levantaram taças nos últimos anos.

Já na Inglaterra… O Chelsea decepciona rodada após rodada e está em 16º, a um ponto da zona do rebaixamento. O atual campeão vai tão mal que demitiu José Mourinho nesta semana. Os clubes de Manchester, City e United, com treinadores desgastados (o chileno Pellegrini pelo tempo de casa, e o holandês Van Gaal por problemas na relação com atletas), e o Liverpool, que se reconstrói lentamente sob a batuta do alemão Klopp, têm oscilado.

Paralelamente, nada parece afetar o pequeno, destemido e ainda pouco conhecido Leicester (pronuncia-se Léster), que lidera a Premier League com 35 pontos em 16 jogos. São dez vitórias, cinco empates e uma única derrota, para o vice-líder Arsenal, que está dois pontos atrás.

O goleiro Schmeichel e o lateral esquerdo Fuchs festejam a vitória sobre o Chelsea (Andrew Yates - 14.dez.2015/Reuters)
O goleiro Schmeichel e o lateral esquerdo Fuchs festejam a vitória sobre o Chelsea (Andrew Yates – 14.dez.2015/Reuters)

A mídia britânica, surpreendida, busca explicações para o fenômeno Leicester, um clube que, apesar de ter um dono bilionário (o empresário taiwanês Vichai Srivaddhanaprabha), investiu “só” £ 26,2 milhões (R$ 153 milhões) em contratações de cinco jogadores antes do campeonato. O Manchester City pagou mais que o dobro, £ 55 milhões (R$ 320 milhões), pelo meia belga De Bruyne, e o Liverpool, £ 29 milhões (R$ 169 milhões) pelo atacante brasileiro Roberto Firmino.

Laurie Whitwell, do “Daily Mirror”, elencou uma série de razões: confiança, vibração, espírito de equipe e elenco de qualidade, além de rivais em má fase e com calendário mais desgastante – todos estão vivos em ligas europeias, e Liverpool e Manchester City ainda chegaram às semifinais da Copa da Liga Inglesa, da qual o Leicester já está fora.

Todos esses motivos têm sua influência. Eu assisti aos jogos do Leicester contra Manchester United (1 a 1) e Chelsea (2 a 1), e o que vi foi uma dose elevadíssima de determinação, do goleiro Schmeichel ao atacante Vardy.

Afora o argelino Mahrez, extremamente hábil, o resto do time é formado por jogadores medianos, porém motivados ao extremo.

Méritos para o treinador Claudio Ranieri, que assumiu antes do começo da temporada e deu continuidade ao trabalho de recuperação de Nigel Pearson, que em 2014/2015 desceu com o time até a rabeira e iniciou reação memorável – o Leicester conseguiu se salvar da degola.

O italiano já premiou os atletas pagando-lhes cerveja e pizza em vitórias nas quais o time não sofreu gols.

Méritos também para a dupla Vardy-Mahrez. O primeiro é o artilheiro da Premier, com 15 gols em 16 jogos, e bateu o recorde de partidas seguidas marcando gols na competição: 11. O segundo fez 11 gols e deu sete assistências (passes para gol).

Esses 26 gols correspondem a 77% do total do Leicester, dono do ataque mais profícuo da Premier.

Mahrez cumprimenta Ranieri no jogo contra o Swansea, no qual fez três gols (Paul Childs - 5.dez.2015/Reuters)
Mahrez cumprimenta o treinador Claudio Ranieri na partida contra o Swansea, na qual marcou três gols (Paul Childs – 5.dez.2015/Reuters)

Mas há chance real de o clube ser campeão do Inglês pela primeira vez?

O treinador francês Arsène Wenger, do Arsenal, considerado o mais apto a tomar a ponta do azarão, já disse há algumas semanas que sim. “Temos que esperar que eles tropecem.”

O português Mourinho, que havia rejeitado essa hipótese, recuou e declarou, após a derrota de segunda (14), sua última nesta passagem pelo Chelsea: “Se resistem (na liderança) é porque podem conquistar o título”.

Independentemente de o Leicester se consagrar ou não, a melhor conclusão do que o time traz ao mundo do futebol é do sociólogo John Williams, da Universidade de Leicester, em artigo assinado no “Leicester Mercury”.

“O futebol deve enorme gratidão ao Leicester City, por desafiar o poder absoluto do dinheiro e por manter o romance e a imprevisibilidade do jogo.”

Uma definição perfeita.

Em tempo: Eu queria assistir à partida deste sábado (19) do Leicester. Jogará como visitante, contra o Everton, do belga Lukaku, vice-artilheiro do Inglês (12 gols). Mas não vou. As emissoras que exibem a Premier no Brasil não transmitirão o embate ao vivo. A ESPN, em seus três canais, oferecerá, no horário do jogo (13h) ou durante o mesmo, Chelsea x Sunderland, Colonia x Borussia Dortmund e Caen x PSG; a Fox Sports apresentará, em seus dois canais, Manchester United x Norwich e Hannover x Bayern.

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