Ingleses dão mau exemplo ao renegar a prata da Eurocopa
Não foram todos. Mas foram muitos. A maioria.
Na premiação da Eurocopa, vencida pela Itália neste domingo (11) em Londres, jogadores ingleses, ao receberem a medalha de prata na cerimônia de premiação, renegaram-na.
Tão logo ela era colocada no pescoço por Aleksander Ceferin, o presidente da Uefa (organizadora da competição), o atleta a retirava.
Do elenco de 23 jogadores, pelo menos 15 agiram dessa forma em Wembley.
Entre eles, os titulares Harry Kane (capitão do English Team), Luke Shaw (autor do gol inglês no começo da decisão), Kieran Trippier, Kalvin Philips e Kyle Walker.
Outro titular, Mason Mount, não permitiu nem que a medalha chegasse ao seu pescoço –parou na altura das sobrancelhas antes de fazer o caminho inverso.
Nomes de destaque, mas que entraram no decorrer da partida ou que não participaram dela, também se incomodaram com a comenda. Casos de Marcus Rashford, Jadon Sancho, Phil Foden e Jack Grealish.
Esse comportamento é um mau exemplo.
Passa a impressão de desprezo pela participação da Inglaterra na Eurocopa, que foi digníssima.
E de falta de espírito esportivo: se eu não ganho, se eu não conquisto o ouro, fico emburrado, inconformado, a tal ponto de desconsiderar tudo de bom feito até então. Torno-me um mau perdedor.
Com essa conduta, os atletas fazem cair por terra a frase “o importante não é ganhar, mas competir”, celebrizada pelo Barão de Coubertin, o fundador das Olimpíadas da era moderna.
(Ouvi uma vez, não lembro de quem, que esse ditado, que suaviza a situação de quem não venceu, foi inventado por algum derrotado… Será?)
Enfim, ficou a sensação de empáfia, e esse desapreço pela medalha pegou mal, muito mal.
É possível, porém, interpretar de forma menos antipática. O ato dos avessos à prata pode ser classificado como vergonha ou insatisfação, ou ambos.
Rashford e Sancho podem se encaixar no primeiro caso.
Eles entraram no fim da prorrogação e foram escalados pelo técnico Gareth Southgate para a disputa de pênaltis. Os dois desperdiçaram suas respectivas cobranças, ceifando de forma significativa a chance inglesa de ganhar pela primeira vez a Euro.
No segundo caso, todos teriam razão para nele se enquadrarem, já que uma derrota em uma decisão de tamanha magnitude, depois de ter estado à frente no placar, não teria como deixar nenhum inglês satisfeito.
“Não é todo dia que você chega a uma final, especialmente com sua seleção. Nossa última tinha sido há 55 anos [na Copa do Mundo de 1966]”, resumiu o centroavante Kane, frustrado. “Vai doer por muito tempo.”
Porém houve alguns jogadores que, com dignidade e conformismo, ao menos inicialmente, aceitaram de bom grado a lembrança prateada que o vice-campeonato proporcionou.
O goleiro Pickford, que defendeu dois pênaltis na eletrizante disputa, foi um deles, assim como o zagueiro Maguire, o volante Henderson e o atacante Sterling.
Até mesmo o ala ofensivo Saka, de apenas 19 anos, vilão ao errar a batida que rendeu a taça à Itália, manteve a medalha no pescoço.
Esses, mesmo sendo minoria, deram exemplos a serem lembrados e seguidos.
- Fique triste momentaneamente, porém depois orgulhe-se: sua seleção foi melhor do que muitas outras –22, precisamente.
- Se você deu seu máximo, se lutou até o fim, a derrota ocorreu porque o rival foi superior, ou porque aquele não era o seu dia. Acontece. O esporte é assim.
Teste seu conhecimento – Eurocopa multissede
Em tempo: Uma outra frase, atribuída ao tricampeão de F1 Ayrton Senna (1960-1994), ídolo do esporte brasileiro, diz que “o segundo nada mais é que o primeiro dos perdedores”. Verdadeira, porém de uma arrogância totalmente desnecessária.