Perto dos 80, Pelé reafirma ser o melhor da história
“Eu acho que o Pelé foi melhor do que todos eles.”
No ano em que deve completar 80 anos (daqui a pouco mais de seis meses, no dia 23 de outubro), vendo-se na terceira pessoa, como tradicionalmente faz, Edson Arantes do Nascimento reafirmou quem ele considera o melhor futebolista da história.
Pelé falava a Thiago Asmar, no canal Pilhado (YouTube), que lhe dissera que “hoje a molecada se pergunta se Pelé era melhor mesmo que o Cristiano Ronaldo e que o Messi”.
O rei do futebol deu a resposta, mencionando que foram feitas comparações dele, anteriormente, com o alemão Beckenbauer e com o holandês Cruyff, outros imortais do futebol.
Acredito haver consenso, entre os da minha geração (nascidos nos anos 1970) e os de gerações anteriores, que não haja quem até agora tenha igualado a genialidade e a completude (física, técnica e emocional) de Pelé. Superar não dá, pois o mineiro de Três Corações, com a bola, era 100% gênio, 100% completo.
Garrincha, Maradona, Ronaldinho Gaúcho e Messi estão entre os que mais se aproximam dele no primeiro quesito. Cristiano Ronaldo, no segundo.
O português, a quem Pelé na mesma entrevista colocou em um patamar superior ao de Messi, não tem fama pela magia, mas, tão artilheiro quanto o argentino, é difícil de ser batido na dedicação, na obsessão e na competitividade.
Ele chegou a dizer, em entrevista à revista France Football, no ano passado, que não se via com nenhum ponto fraco como jogador.
Eu já fiquei tentado a fazer uma comparação entre Pelé, Messi e Cristiano Ronaldo, porém é complicadíssimo fazê-lo porque Pelé jogou em uma época diferente.
Mas futebol não é, e foi, sempre futebol? Não são, e eram, 11 contra 11? Não tinha, e tem, juiz, bola, torcida?
Sim. Mas a dinâmica do jogo é diferente. Distintos também eram a qualidade dos gramados e as condições de preparo e recuperação dos jogadores.
Basta assistir a teipes do final dos anos 1950 até o início dos anos 1970, época em que Pelé brilhou intensamente, para notar que o futebol era mais lento, que havia mais tempo e espaço para conduzir a bola antes de receber o combate.
E isso, para um fora de série como o camisa 10 do Santos e da seleção brasileira, veloz, habilidoso, inteligentíssimo e com visão de jogo apurada e capacidade inigualável de raciocínio, era um facilitador.
Dizem que Pelé brilharia do mesmo jeito no futebol da atualidade. Será? Fica no imaginário.
Ele poderia ser até melhor, pois hoje os campos são infinitamente mais bem cuidados que os de décadas atrás, além de a preparação física ter evoluído demais, assim como os métodos de recuperação a cada partida e a medicina para o tratamento de lesões.
O que é comparável entre os três, e é o que será feito, são os gols e os títulos.
Gols
Pelé marcou 1.282 gols, contando partidas oficiais ou não. Esse número é o mais propagado, mas há variação para baixo, 1.281, e para cima, 1.283. Em quantos jogos? Teriam sido 1.363, mas isso também não é indubitável. A média de gols é de 0,94.
As estatísticas do rei em relação ao total de vezes em que balançou as redes e à quantidade de partidas nunca foram conclusivas, não há concordância entre as fontes, por isso não é seguro ser assertivo.
Em partidas oficiais, por clubes (Santos e Cosmos) e seleções (brasileira, paulista e militar), são, de acordo com a RSSSF, fundação criada em 1994 que compila dados estatísticos de futebol, 767 gols em 831 aparições. Isso em um período de 21 anos (1957 a 1977). Média: 0,92 gol por jogo.
Em relação a Cristiano Ronaldo e Messi, eu mesmo fiz e refiz a conta do total de gols, utilizando as fontes disponíveis, e cheguei à seguinte conclusão.
O CR7 (Cristiano Ronaldo usa a camisa 7), considerando todos os 1.011 jogos, oficiais ou não, marcou 731 gols em 17 anos e meio de carreira (Sporting, Manchester United, Real Madrid, Juventus e seleção portuguesa). Média: 0,72.
A Pulga (apelido de Messi) anotou 701 gols em 866 partidas, oficiais ou não, em 16 anos e quatro meses como profissional (Barcelona e seleção argentina). Média: 0,81.
Contando apenas as partidas oficiais, são 1.000 jogos e 725 gols de Cristiano Ronaldo e 856 jogos e 697 gols de Messi.
Títulos
Pelé conquistou três Copas do Mundo (1958, 1962, 1970), duas Taças Libertadores, duas Copas Intercontinentais, cinco Taças Brasil e um Torneio Roberto Gomes Pedrosa (reconhecidos pela CBF como Campeonatos Brasileiros), quatro Torneios Rio-São Paulo, dez Campeonatos Paulistas e um Campeonato dos EUA. São seus títulos mais relevantes. Total: 27.
Cristiano Ronaldo jamais ganhou uma Copa do Mundo, nem perto chegou. Suas conquistas mais importantes são: uma Eurocopa, cinco Champions League, quatro Mundiais de Clubes, três Campeonatos Ingleses, dois Campeonatos Espanhóis, um Campeonato Italiano, uma Copa da Inglaterra, duas Copas do Rei. Total: 19.
Messi jamais ganhou uma Copa do Mundo (foi vice em 2014). Faturou de mais notório quatro Champions League, três Mundiais de Clubes, dez Campeonatos Espanhóis, seis Copas do Rei, um ouro olímpico. Total: 24.
Dados postos, o que há para comentar?
Que em jogos oficiais tanto Messi, que está com 32 anos, como Cristiano Ronaldo, que tem 35, conseguirão passar Pelé no número absoluto de gols, mas não na média de gols.
Que o auge para um jogador de futebol é ganhar a Copa do Mundo, e Pelé o fez três vezes, duas delas como protagonista, marcando inclusive gol na final (dois na de 1958, um na de 1970). Messi e o CR7 não chegarão lá.
Escrito isso, não há mais a escrever. A conclusão é do leitor.
Leia sobre Pelé em O Mundo É uma Bola