Christine e Cristiano
Cristiano será amanhã o que Christine é hoje.
Cristiano não tem parentesco com Christine, não são nascidos na mesma pátria e sempre viveram a milhares de quilômetros de distância um do outro –ele na Europa, ela na América do Norte.
Questões familiares, de nacionalidade e geográficas à parte, é certo que Cristiano será amanhã o que Christine é hoje.
Cristiano é conhecido por todo o mundo que acompanha o mínimo de futebol, e não é de hoje. Christine, não é de hoje, não é conhecida por todo o mundo, mas merecia muito ser.
Questão de merecimento à parte, o que merece ser propagado é que Cristiano será amanhã o que Christine é hoje.
Cristiano o leitor sabe quem é. Português, 34 anos (fará 35 na próxima quarta-feira), eleito cinco vezes o melhor jogador do mundo.
Craque da Juventus, e antes do Real Madrid, e antes do Manchester United.
Mais conhecido como Cristiano Ronaldo. Ou CR7.
E Christine? Canadense, 36 anos (fará 37 em junho), nenhuma vez eleita a melhor jogadora do mundo.
Craque do Portland Thorns (Califórnia), e antes do Western Flash (Nova York), e antes do Gold Pride (Califórnia).
Mais conhecida, apenas, e apenas agora, como a maior artilheira de uma seleção no futebol feminino.
Nesta quarta (29), em Canadá 11 x 0 São Cristóvão e Névis, em Edinburg (Texas), Christine Sinclair fez dois gols, alcançou 185 no total e ultrapassou a norte-americana Abby Wambach (184), já aposentada.
Thank you to EVERYONE for all the messages…I’m slightly overwhelmed. Thank you to all my teammates, coaches, staff, friends and family.185 would not have been possible without you. pic.twitter.com/fP6vD43PUW
— Christine Sinclair (@sincy12) 30 de janeiro de 2020
A partida valeu pelo classificatório da Concacaf (América do Norte, Central e Caribe) para a Olimpíada de Tóquio-2020.
Christine chegou ao número consagrante em 290 partidas pelo Canadá, com uma média de 0,63 gol por jogo – e pelo caminho a conquista de dois bronzes olímpicos, em Londres-2012 e no Rio-2016.
E Cristiano? Será, escrevo e reescrevo, amanhã o que Christine é hoje.
O CR7 acumula pela seleção de Portugal 99 gols em 164 partidas. Sua média é de 0,6.
O que significa que, se ele a mantiver, chegará aos 110 gols em 19 jogos.
Considerando a média de partidas que ele fez nos últimos três anos por Portugal (nove), Cristiano ultrapassará o atual recordista, o iraniano Ali Daei (109 gols em 149 jogos), em 2022.
Desconsidere. Levará menos tempo, e morderei minha língua com gosto.
De 2017 a 2019, o CR7 anotou 31 gols em 28 apresentações com a camisa lusa, com média superior a um gol por jogo (1,1).
Nesse ritmo, e sua atual forma indica que ele será mantido, fará 11 gols em dez partidas, algo viável ainda neste ano, a depender do desempenho de Portugal na Eurocopa.
Mas por que morderei a língua? Porque escrevi, em junho de 2016, que Cristiano, então com 60 gols por Portugal, não alcançaria Ali Daei…
Christine e Cristiano, de nomes parecidos, muito em breve estarão em um patamar não somente parecido, mas exatamente igual.
Cristiano será amanhã o que Christine é hoje: o maior artilheiro, em seu gênero, de uma seleção de futebol.
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Em tempo 1: Marta, a Rainha Marta, na ativa aos 33 anos, é a maior goleadora da seleção brasileira feminina: 107 gols em 151 jogos (média de 0,71). E Pelé, o Rei Pelé, hoje com 79 anos, é o principal artilheiro da seleção masculina: 77 gols em 91 partidas (média de 0,85).
Em tempo 2: Em números absolutos, Christine Sinclair é, e Cristiano Ronaldo será, o recordista no tema. Na média, não. Entre as mulheres, a italiana Elisabetta Vignotto, que jogou de 1970 a 1989, fez 107 gols em 110 jogos (0,97 de média). Entre os homens, o dinamarquês Paul “Tist” Nielsen (1891-1962), em ação de 1910 a 1925, anotou 52 gols em 38 partidas (média de 1,37).