‘Treinamento corporativo’: eufemismo para demissão na China?
A situação não está boa para o italiano Fabio Cannavaro, treinador do Guangzhou Evergrande, líder do Campeonato Chinês (Super Liga).
A equipe é líder e a situação não está boa? Como assim? Explico.
Dos últimos nove jogos, disputados desde o dia 15 de agosto, a equipe só conseguiu ganhar um – empatou quatro e perdeu outros quatro.
Essa queda de rendimento resultou na eliminação nas semifinais da Liga dos Campeões da Ásia, com duas derrotas para o Urawa Red Diamonds, do Japão, e no risco iminente de perder a liderança da Super Liga.
Com o empate por 2 a 2, em casa, neste domingo (27), diante do mediano Henan Jianye, o Guangzhou viu a diferença para o Shangai SIPG (atual campeão) cair para um ponto e a para o Beijing Guoan ser reduzida para dois pontos, a três rodadas do fim do campeonato.
Depois dessa partida, a direção do ainda líder divulgou um comunicado no qual anunciou que Cannavaro participará de um “período de estudos” no quartel-general da empresa que banca o time (Evergrande, gigante do ramo imobiliário), também qualificado de “treinamento corporativo”, a partir desta segunda (28).
No período em que Cannavaro estiver afastado no time, ele será treinado pelo capitão da equipe, o meio-campista Zheng Zhi.
O Guangzhou não deu mais informações sobre o assunto (Cannavaro vai estudar o quê?, ou será na realidade ele quem será estudado?), e a interpretação na mídia especializada foi a de que essa medida é uma espécie de eufemismo para demissão.

Os jornais La Gazzetta dello Sport, da Itália (“Evergrande e Cannavaro, para o divórcio”), e South China Morning Post (“Cannavaro é afastado de sua posição”), além do o canal de TV France 24 (“o reinado de Cannavaro parece ter chegado ao fim”) veem a saída de Cannavaro como extremamente provável.
Há a expectativa de que o ex-zagueiro italiano não volte a chefiar a equipe, que só jogará, devido a uma pausa na Super Liga – haverá data Fifa, com a seleção chinesa atuando pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 –, no dia 23 de novembro, em uma partida decisiva contra o Shangai SIPG.
O clube, que conta com os brasileiros Paulinho (que defendeu o Brasil na Copa da Rússia, no ano passado), Anderson Talisca e Elkeson (naturalizado chinês), só estaria esperando o acerto com um novo treinador – o mais cotado é Luiz Felipe Scolari – para efetivar a demissão de Cannavaro.
Caso Felipão assuma a função, será, curiosamente, a segunda vez que ele substituirá Cannavaro no Guangzhou. A primeira foi em junho de 2015.
Com a saída do brasileiro, no fim de 2017, depois de três campeonatos nacionais e uma Champions League asiática conquistados, Cannavaro reassumiu o posto. Seu único título no clube é a Supercopa da China deste ano.
O italiano de 46 anos, que capitaneou a Itália campeã da Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, e foi naquele ano o último zagueiro a ganhar o prêmio de melhor jogador do mundo, não deu declarações sobre os “estudos” compulsórios a que terá de se submeter na sede da Evergrande.