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Convocação de Willian para a vaga de Neymar tem gosto de decepção

Neymar foi cortado da seleção brasileira devido a uma lesão no tornozelo ocorrida no primeiro tempo do amistoso de quarta (5) contra o Qatar, em Brasília.

A saída de Neymar, que agora cuidará de sua defesa no caso em que é acusado de estupro por uma modelo, abriu uma vaga no time que se prepara para a Copa América, competição que será no Brasil e começa daqui a uma semana.

O convocado foi Willian, de 30 anos, do inglês Chelsea, que esteve nas Copas do Mundo de 2014 e de 2018.

Nesta última, na Rússia, quando o Brasil caiu nas quartas de final ante a Bélgica, o atacante jogou muito aquém do esperado. Decepcionou.

Escrevi um texto depois do encerramento do Mundial no qual analisei o desempenho da seleção e expus, com os devidos argumentos, quais jogadores deveriam continuar na seleção e quais não deveriam mais ser chamados, abrindo espaço para outros.

Eis o comentário a respeito de Willian: “Mesmo com bons momentos em algumas partidas, Willian, o ponta direita do Brasil no Mundial, ficou devendo. Muita disposição e rapidez, porém pouca efetividade. Zero gol, uma única assistência. Gosto do futebol de Willian, mas concluo que não é jogador de Copa do Mundo – na do Brasil, em 2014, foi reserva e pouco jogou. Deve continuar na seleção? Não”.

Assim, para mim e para muitos, a presença de Willian entre os jogadores que representarão o país na Copa América traz um gosto amargo.

Decepcionou. Desta vez, não Willian, que não tem culpa de ser prestigiado mesmo já tendo passado o tempo de ser. A decepção é com Tite.

Havia a expectativa, na mídia certamente e entre os torcedores provavelmente, de que o convocado fosse Vinicius Júnior, 18, ou Lucas Moura, 26.

O ex-flamenguista, devido à temporada de estreia surpreendentemente positiva pelo Real Madrid, que poderia ter sido até melhor se não prejudicada por uma lesão que o afastou por dois meses dos gramados (início de março a início de maio).

Mais do que impactar em números – dois gols em nove jogos no Campeonato Espanhol –, ele se tornou rapidamente querido da exigentíssima torcida merengue. E jogando na posição ocupada antes por um dos maiores ídolos da história do Real, Cristiano Ronaldo.

Vinicius Júnior comemora gol pelo Real Madrid contra o Alavés no Campeonato Espanhol (Gabriel Bouys – 3.fev.2019/AFP)

O ex-são-paulino, por uma temporada mais do que decente pelo Tottenham – dez gols em 32 partidas no disputadíssimo Campeonato Inglês –, tendo de quebra sido o responsável pela classificação do time londrino à decisão da Champions League – marcou os três gols na vitória por 3 a 2 sobre o Ajax no jogo de volta da semifinal.

Talvez até Dudu, 27, do Palmeiras, vital para o funcionamento e a eficácia do melhor time do Brasil na atualidade, merecesse mais estar na seleção do que Willian.

Repito o que já escrevi: gosto do futebol do ex-corintiano Willian. Bom jogador, com carreira de muitos anos na Europa (Shakhtar, da Ucrânia, Anzhi, da Rússia, e, nos últimos seis anos, Chelsea), títulos conquistados (o último no mês passado, a Liga Europa), porém seria a hora de abrir espaço para um novo nome.

Um nome que pudesse dar esperança aos torcedores de que algo diferente viesse a ocorrer em uma partida. Vinicius Júnior e Lucas Moura têm essa capacidade, pela velocidade e pelos dribles, de desequilibrar.

E também capaz de fascinar o público. Todos sabemos que falta magia à seleção, a cada dia mais inclinada ao pragmatismo, mesmo com o histórico discurso de Tite de apreço ao futebol-arte, fã que é da seleção de 1982.

Willian, infelizmente, não é esse nome. Faz o arroz-com-feijão, o básico. É um pontinha com méritos reconhecidos, aplicado taticamente, mas que não empolga – e nada indica que, já trintão, empolgará.

Sua temporada com o Chelsea foi OK, como as demais foram OK.

Ouvi colegas jornalistas afirmarem que Tite optou por ser conservador, que recorreu a um nome muito conhecido dele e que conhece muito bem seu estilo de trabalho, por estar receoso de, não ganhando a Copa América, ser demitido.

Pode ser. Eu concordo que há risco, até porque jamais na história a seleção deixou de levantar o troféu na competição ao jogar em casa – quatro vezes até hoje.

O técnico Tite, da seleção brasileira, em treino na Granja Comary, em Teresópolis; desempenho do Brasil na Copa América deve ser decisivo para a permanência dele no cargo (Ricardo Moraes – 24.mai.2019/Reuters)

Quero acreditar que Willian possa ser mais do que foi, do que tem sido, do que é.

Que jogue mais nesta Copa América do que jogou por toda a vida. Que ganhe a titularidade, faça gols, dê assistências. Que me faça morder a língua e que, depois da competição, Tite seja elogiado pela escolha.

Só que hoje, dia 7 de junho de 2019, não dá para acreditar.

Em tempo: Sobre perder Neymar, Tite deve ter ficado ao mesmo tempo preocupado e aliviado. Preocupado por não mais contar com um jogador que, nas palavras do treinador, é imprescindível, tecnicamente, para a seleção. E aliviado por se livrar dos holofotes que o caso Neymar trouxeram, e continuariam a trazer, para o ambiente da equipe.

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