Giroud, a dança contemporânea e o ‘gol escorpião’
Tenta-se às vezes achar explicação para o inexplicável.
Desde o primeiro dia deste ano, Giroud, atacante francês do Arsenal, tem tentado, e não se pode dizer que tenha tido sucesso absoluto.
Em 1º de janeiro, em Londres, os Gunners receberam no Emirates Stadium o também londrino Crystal Palace pelo Campeonato Inglês.
Aos 17 minutos do 1º tempo, Giroud, depois de jogada muito bem trabalhada, abriu o placar.
Não foi, porém, um gol trivial.
Alexis Sánchez cruzou, e a bola vinha nas costas do centroavante. Giroud, instintivamente, atirou-se para a frente e, em um movimento com a perna esquerda, acertou a redonda com o calcanhar (ou teria sido com o tornozelo?).
Nessa jogada plástica, o camisa 12 mandou a bola, que ainda tocou na trave, no ângulo do goleiro galês Hennessey.
Um golaço. Tão bonito que disputou o Prêmio Puskás, dado pela Fifa ao gol mais bonito do ano – tiveram chance de concorrer os marcados de 20 de novembro de 2016 a 2 de julho de 2017.
E venceu. Há nove dias, a entidade máxima da bola realizou a premiação, em um evento de gala em Londres, e o barbudo e narigudo Giroud subiu no palco para receber, emocionado, seu troféu pelo “gol escorpião”.
Depois de fazer o gol mais bonito de sua carreira, o jogador de 31 anos, em quase toda entrevista que dava, era convidado a explicar como conseguiu realizar a pintura.
“A bola estava atrás de mim, e a única coisa que eu podia fazer era tentar acertá-la com o calcanhar. Fui sortudo”, afirmou à BBC depois da partida com o Crystal Palace.
Essa era a resposta padrão. Giroud, que é tiutlar da seleção francesa e deve estar na Copa de 2018, dizia ter tido sorte e agido por instinto.
Nesta semana, entretanto, ao ser mais uma vez questionado a respeito do lance que o celebrizou, ele apresentou uma hipótese para, com seu 1, 92 m, ter conseguido executar um tão acrobático movimento.
Giroud vence o prémio Puskás com o seu espetacular golo de escorpião #TheBest pic.twitter.com/Y9nxK9L7EJ
— B24 (@B24pt) 23 de outubro de 2017
A “culpa” é das aulas de dança contemporânea que teve quando era estudante – e que eram parte do currículo para obter a formação em educação física.
“Vão tirar sarro de mim”, disse ao canal de TV France 2. “Era bizarro, não era uma situação em que eu me sentia à vontade. Mas o professor considerava aquele tipo de dança uma forma de arte, e o movimento que fiz (para marcar o gol) poderia ter sido parte de uma coreografia daquela época.”
Sendo essa uma boa explicação ou não (parece-me que sim, já que uma das características da dança contemporânea é a improvisação), o certo é que Giroud pode tentar repetir a espetacular jogada milhares de vezes nos treinamentos, e sem adversários a marcá-lo.
Tenho certeza de que não conseguirá uma execução tão perfeita. Esse seu gol, um dos mais espetaculares já vistos, foi único.
Jamais se repetirá.
Em tempo 1: Não sou doido de escrever que o gol de Giroud não merecia faturar o Prêmio Puskás. Mas gostei mais de outro gol finalista, marcado de bicicleta pelo goleiro sul-africano Oscarine Masuluke. Sensacional o gol, sensacional a comemoração. Pelo conjunto da obra, é meu preferido.
Em tempo 2: Dois brasileiros ganharam o Prêmio Puskás, que existe desde 2009: Neymar, por gol em 2011 (quando ainda defendia o Santos), e Wendell Lira, por gol em 2015.
Em tempo 3: Para quem não ficou sabendo dos vencedores da premiação “The Best”, da Fifa, eis a relação. Melhor jogador: Cristiano Ronaldo (Portugal – Real Madrid). Melhor jogadora: Lieke Martens (Holanda – Rosengard/Barcelona). Melhor treinador (time masculino): Zinédine Zidane (França – Real Madrid). Melhor treinador (time feminino): Sarina Wiegman (Holanda – Seleção holandesa). Melhor goleiro: Gianluigi Buffon (Itália – Juventus). Prêmio Puskás: Olivier Giroud (França – Arsenal). Prêmio Fair Play: Francis Koné (Togo – Slovácko, da República Tcheca – Salvou a vida de Martin Berkovec, goleiro dos Bohemians, com procedimentos de primeiros-socorros em uma partida). Melhor torcida: Celtics (Escócia). Time ideal: Buffon (Juventus); Daniel Alves (Juventus), Bonucci (Juventus), Sergio Ramos (Real Madrid) e Marcelo (Real Madrid); Modric (Real Madrid), Kroos (Real Madrid) e Iniesta (Barcelona); Neymar (Barcelona), Messi (Barcelona) e Cristiano Ronaldo (Real Madrid). Daniel Alves, Neymar (ambos PSG) e Bonucci (Milan) mudaram de time depois do período considerado para a votação.