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Japonês Kazu aproxima-se de feito de lenda inglesa ao renovar contrato aos 49 anos

Luís Curro

“Carreira de jogador de futebol é curta.”

Cresci ouvindo isso, em entrevistas dadas pelos próprios jogadores. Os mesmos, ao tecer o comentário, geralmente acrescentavam a necessidade de fazer o quanto antes um bom pé de meia, pois, ao se aposentar, precisavam ter criado reserva financeira para poderem se manter.

Afinal, a ampla maioria só sabia jogar bola, mais nada – por falta de oportunidade ou de interesse, não buscaram aprender um outro ofício ou se aprofundar nos estudos.

Não mudou muito de lá para cá. Com a diferença de que há 30 anos os salários dos futebolistas (ao menos da ampla maioria) não eram as fábulas pagas atualmente.

Hoje, com a evolução da fisiologia, da fisioterapia e da nutrição, entre outras áreas relacionadas à biologia e à saúde, os atletas têm condições de, fisicamente, estender a carreira por mais tempo.

Mesmo assim, é comum o entendimento de que o jogador trintão, especialmente a partir dos 33, 34 anos, já está perto da aposentadoria.

E na prática é isso, a maioria para mesmo por volta dos 35.  São raros os que conseguem chegar perto dos 40 ou ultrapassar essa marca.

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O lateral-esquerdo Zé Roberto, do Palmeiras, ex-seleção brasileira (jogou na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha), continua na ativa, aos 42 anos. O mesmo acontece com Totti (campeão na Copa de 2006), ídolo da Roma, que está com 40 anos. Romário, o excepcional atacante (hoje senador da República), pendurou as chuteiras aos 43. Rogério Ceni, ex-goleiro e agora treinador do São Paulo, vestiu a camisa do time do Morumbi até os 42.

O italiano Dino Zoff ganhou a Copa do Mundo de 1982, na Espanha, com 40 anos. Era titular e capitão da Squadra Azzurra. Outros goleiros também quarentões (Mondragón, da Colômbia, em 2014, Peter Shilton, da Inglaterra, em 1990, e Pat Jennings, da Irlanda do Norte, em 1986) entraram em campo em um Mundial. Na linha, o atacante camaronês Roger Milla atuou contra a Rússia, em 1994, aos 42 anos.

Mas e jogar até os 50? No futebol profissional, é uma aberração. Raridade.

Kazuyoshi Miura, de 49 anos, será uma delas.

Kazuyoshi Miura, o Kazu, participou do Mundial de futsal da Fifa em 2012, aos 45 anos (Apichart Weerawong - 7.nov.2012/Associated Press)
Kazuyoshi Miura, o Kazu, participou do Mundial de futsal da Fifa em 2012, aos 45 anos (Apichart Weerawong – 7.nov.2012/Associated Press)

Neste início de 2017, ele renovou seu vínculo com o Yokohama FC, da segunda divisão do Japão, por mais um ano. Se não ocorrer nenhuma reviravolta, entrará em campo cinquentão – completa 50 anos no dia 26 de fevereiro.

Miura começou sua carreira no Brasil, nos anos 1980. Depois de passar cinco anos nas categoria de base do Juventus, da Mooca, defendeu Santos, Palmeiras, XV de Jaú e Coritiba, entre outros.

Era chamado de Kazu e foi quem começou a derrubar a crença de que “japonês não sabe jogar futebol”. Longe de ser craque, tinha porém muita velocidade (atuava pelas pontas, geralmente a esquerda), fôlego e determinação, além de técnica razoável que aperfeiçoou com o tempo.

Kazu sempre jogou com muita alegria. Sua felicidade ao fazer gols era extrema – sorriso largo, aberto, marcante.

Nos anos 1990, voltou a seu país natal e se tornou artilheiro do Verdy Kawasaki, bem como da seleção japonesa, a qual defendeu por 11 anos. Jogou também na Itália (Genoa), na Croácia e na Austrália. No Japão, seu apelido é King Kazu (Rei Kazu).

Kazu Miura, “o futebolista incansável” (nas palavras do jornal português “O Público”), é considerado o primeiro grande jogador da história do futebol da terra do sol nascente.

E sua longevidade nos campos deverá ultrapassar a de uma das maiores lendas da história do futebol da terra da rainha.

O inglês Stanley Matthews em jogo no início dos anos 1950 pelo Blackpool (28.fev.1951/AFP)
O inglês Stanley Matthews em jogo no início dos anos 1950 pelo Blackpool (28.fev.1951/AFP)

Sir Stanley Matthews, que defendeu a Inglaterra nas Copas de 1950 (Brasil) e 1954 (Suíça), fez suas última partida como futebolista profissional no dia 6 de fevereiro de 1965, cinco dias depois de seu aniversário de 50 anos. Defendia o Stoke City, que ainda o homenageou com um jogo de despedida, festivo, em abril daquele mesmo ano.

Primeiro ganhador da famosa Bola de Ouro, da revista “France Football”, em 1956, Matthews atuou por somente dois clubes pequenos, o Stoke (1930 a 1947 e 1961 a 1965) e o Blackpool (1947-1961) – neste último, conquistou uma Copa da Inglaterra, em 1953.

O ponta-direita Matthews, apelidado “O Mago do Drible” e eleito o 11º melhor jogador do século 20 pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol), morreu em fevereiro do ano 2000, aos 85 anos, exatos 35 anos depois de encerrar sua trajetória futebolística de 35 anos.

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Em tempo 1: Kazu Miura marcou um gol pela última vez no dia 7 de agosto. Fez o primeiro do Yokohama FC no jogo que o time ganhou de virada (3 a 2), fora de casa, do Cerezo Osaka.

Em tempo 2: Sabe quem almeja jogar até os 50 anos? Ele, Zlatan Ibrahimovic, o mais egocêntrico dos craques depois de Cristiano Ronaldo. Em ótima forma no Manchester United (dez gols nos últimos dez jogos, balançando as redes em oito deles), o sueco afirmou pouco antes do Natal: “Sou como vinho tinto: quanto mais envelheço, melhor eu fico. Poderia jogar até os 50”. Ibra está com 35 anos.

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