Robben, dar show não é falta de respeito
Em uma época em que o futebol anda tremendamente burocrático, com muita disciplina tática, pragmatismo e quase nenhuma jogada de efeito, Arjen Robben, craque do Bayern de Munique, perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado.
Um dos lances mais bacanas do final de semana, daqueles que ficam na memória, foi a carretilha protagonizada pelo brasileiro Douglas Costa, colega de Robben no clube alemão, na vitória por 3 a 0 sobre o Bayer Leverkusen na Bundesliga.
No segundo tempo, com o jogo ganho, Douglas Costa, que mais uma vez teve atuação excelente, estava com a bola junto à linha lateral, no campo de ataque do Bayern, quando, em uma fração de segundos, decidiu aplicar o drible, também chamado de lambreta.
A vítima, Julian Brandt, um jovem de 19 anos, nem reagiu – nem se quisesse conseguiria, pois foi muito rápido. Só deu tempo a Brandt de ficar aturdido.
A Allianz Arena, em Munique, tomada por 75 mil torcedores, delirou. E eu, pela TV, vibrei: “Enfim, espetáculo!”. Dois longos segundos de espetáculo.
Até o geralmente contido Nivaldo Prieto, narrador do Fox Sports, pareceu empolgar-se: “Olha o que ele faz. Olha o que ele faz. Olha o que ele faz. Um grande lance do Douglas Costa!”.
Na sequência da jogada, Douglas Costa levou um encontrão do capitão do Leverkusen, Lars Bender. O árbitro Florian Meyer parou o jogo e deu falta… de Douglas Costa em Bender!
Ora, senhor juiz alemão, seja complacente. Dê-nos míseros instantes de show, por favor.
Depois da partida, eu pensei que foi muito bom o malabarismo de Douglas Costa ter ocorrido em solo alemão.
A Alemanha por muito tempo foi marcada por ter um futebol “duro”. Não apenas no sentido da marcação forte, mas no da pouca habilidade de seus jogadores. Isso hoje está mudando, e é possível encontrar alguns alemães habilidosos (Özil, Reus e Götze são exemplos). Mas historicamente sempre foi raro o país forjar um jogador bom de drible.
E então eis que surge Robben, nascido na Holanda, um dos expoentes do futebol-arte: “É bonito. Os torcedores aplaudem. E ele (Douglas Costa) faz isso (a carretilha) muito, muito bem. Mas o placar estava 3 a 0 e é preciso respeitar o adversário”. E, do auge de sua sabedoria adquirida em 31 anos, concluiu, sobre a jogada: “É coisa de circo”.
Pena, pena mesmo, que a declaração veio de Robben, um driblador contumaz. Em vez de criticar Douglas Costa, deveria apoiá-lo e fazer ele mesmo algumas estripulias. Com sua hábil canhota, poderia, por exemplo, dar uns elásticos, desconcertar os rivais, como fazia tão bem Rivellino.
E a jogada de Douglas Costa não foi falta de respeito, no meu entendimento. Foi natural. Não é “coisa de circo”, Robben. É coisa de brasileiro.
Neymar já fez lambretas, tanto no Santos como no Barcelona, onde também foi criticado, neste ano, pelo talentoso meia Xavi Hernández, então capitão do Barça, e pelo treinador do time, Luis Enrique.
Mesmo assim, aposto, Neymar fará de novo.
Leandro Damião, hoje no Cruzeiro, fez também, em jogo pela seleção brasileira contra a Argentina, em 2011. E aquela foi uma carretilha muito plástica.
A lambreta é uma molecagem sadia, que só irrita os insatisfeitos de sempre – possivelmente não somente insatisfeitos com o futebol, mas com a vida.
O futebol, como no circo, precisa de alguns mágicos e malabaristas.
Ou morre-se de tédio.
Em tempo: Escrevi em post no dia 9 de agosto que o meia Kevin de Bruyne era cobiçado por clubes de maior porte que o alemão Wolfsburg. Pois bem: o Manchester City, líder do Campeonato Inglês, levou o belga. Pagou 55 milhões de libras, ou R$ 304 milhões.