A promessa de Biden para o futebol feminino
“Para o time feminino de futebol dos EUA: não desistam da luta. Ainda não acabou.”
“Para a Federação de Futebol dos EUA [US Soccer]: pagamento equivalente, já. Ou, quando eu for presidente, vocês podem bater em outra porta para obter financiamento para a Copa do Mundo.”
Essas palavras são de Joe Biden, então candidato a presidente dos EUA, em maio de 2020, seis meses antes de ele derrotar Donald Trump e ser eleito à Casa Branca.
O contexto: a seleção feminina de futebol tinha acabado de perder uma disputa judicial contra a US Soccer na qual pleiteava receber os mesmos valores de premiação pagos aos atletas do time masculino.
Ao rejeitar a exigência de US$ 67 milhões (R$ 383,6 milhões pelo câmbio atual) em compensações, o juiz R. Gary Klausner, da Califórnia, definiu que não havia nenhum tipo de discriminação na remuneração.
Segundo ele, as mulheres jogavam mais vezes e ganhavam mais dinheiro que os homens, o que, consequentemente, tornava o pleito delas improcedente.
Nos EUA, há desde 1963 uma lei trabalhista, denominada Equal Pay Act, assinada no governo Kennedy, feita para eliminar as diferenças de remuneração entre os gêneros, quando a função exercida é igual ou equivalente.
O objetivo da Equal Pay Act é combater a discriminação sexual no trabalho, em relação a salários; na prática, no entanto, nem sempre acontece, e a insatisfação das futebolistas dos EUA é prova disso.
Nos campeonatos profissionais de futebol nos EUA, a média salarial das mulheres é bem inferior à dos homens, que recebem 50% a mais, de acordo com estudo da Universidade John Jay, de Nova York.
É válido ressaltar que nem todos consideram que as mulheres devem ter igualdade nesse quesito.
O escritor Matt Walsh publicou texto no Daily Wire, site de notícias reconhecidamente conservador, no qual considera injusto o pleito das mulheres.
“Historicamente a seleção nacional masculina gera mais receita do que a feminina”, afirma, mencionando acordos de TV e merchandising.
Ele também recorreu a um artigo da revista Forbes para fortalecer sua opinião, segundo o qual os homens dividem 7% dos ganhos gerados na Copa do Mundo, enquanto as mulheres, 23% da mesma competição.
A questão é que os valores são muito diferentes. A Copa do Mundo masculina tem receita, segundo a Fifa, de US$ 5,4 bilhões (R$ 31 bilhões), e a feminina, de acordo com publicação da Forbes, de US$ 131 milhões (R$ 751 milhões).
Ou seja, na prática as seleções masculinas receberiam muito mais (US$ 400 milhões) que as femininas (US$ 30 milhões), apesar de os homens terem direito a uma porcentagem inferior da receita total na comparação com as mulheres.
Se é que a receita obtida com a Copa do Mundo feminina, vencida pelos EUA quatro vezes, é essa mesma, já que a Fifa não divulgou esse dado e a própria Forbes registrou posteriormente que o número que apresentou (U$S 131 milhões) não tem embasamento e deve ser desconsiderado.
De toda forma, o assunto paridade financeira no esporte, em um mundo que no dia a dia cada vez mais defende a igualdade de gênero, merece atenção de Biden, que, espera-se, volte a ele o mais breve possível, já que é colocado como prioridade em seu governo.
Sobre a ameaça de Biden de não fornecer dinheiro à US Soccer para a organização da Copa do Mundo masculina, ela se explica porque os EUA são uma das sedes da edição de 2026, junto com México e Canadá.
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Em tempo: No final do ano passado, as mulheres da seleção dos EUA obtiveram um acordo com a US Soccer referente a condições similares de trabalho, no terreno da infraestrutura, o que já é um avanço. Elas passarão a ter similaridade nos itens hospedagem, estafe (equipe de apoio), centro de treinamento e condições nas viagens.