Os jogadores mais bem pagos dão retorno pelo que recebem?
No início desta semana a conceituada revista Forbes, de economia e negócios, divulgou sua mais recente lista dos futebolistas mais bem pagos, chamada de “The World’s Highest Paid Soccer Players 2020”.
Não houve novidades no pódio. A exemplo de 2019, Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, nessa ordem, situam-se lá.
Somando salários e contratos publicitários, o argentino do Barcelona amealhou, no intervalo de um ano, US$ 126 milhões (665 milhões), o português da Juventus, US$ 117 milhões (R$ 617 milhões), e o brasileiro do Paris Saint-Germain, US$ 96 milhões (R$ 506,5 milhões).
Na sequência, no levantamento da publicação norte-americana, aparecem o francês Mbappé, colega de Neymar no PSG (US$ 42 milhões), o egípcio Salah, do Liverpool (US$ 37 milhões), o francês Pogba, do Manchester United (US$ 34 milhões), o francês Griezmann, do Barcelona (US$ 33 milhões), o galês Bale, do Real Madrid (US$ 29 milhões), e o polonês Lewandowski, do Bayern de Munique (US$ 28 milhões).
Todos os citados são atacantes, menos Pogba, que joga no meio de campo. Três deles (Pogba, Mbappé e Griezmann) foram titulares de sua seleção na conquista da Copa do Mundo de 2018.
Chama a atenção o ganho de Cristiano Ronaldo com patrocínio: US$ 47 milhões, ou 40% do seu total.

Isso exposto, o que significa? A resposta imediata é: muito dinheiro. (Para mim é; posso trabalhar até me aposentar, que sejam mais uns 20 anos, e não chegarei nem perto de acumular meio milhão de dólares.)
Indo além do óbvio: cada um vale o que recebe? Certamente, na visão de clubes e patrocinadores –pelo menos na hora em que se combinou a quantia a ser paga.
Só que hoje deve ter equipe e empresa arrependidas de investir tanto financeiramente para um retorno claramente pífio.
Isso com base em uma comparação simples e objetiva, que relaciona o ganho financeiro de cada jogador com sua produtividade. Por produtividade, leia-se gol ou assistência (passe que resulta em gol). No caso deste cálculo, por campeonato nacional (Inglês, Espanhol, Francês etc.) ou continental (Liga dos Campeões e Liga Europa).
Pogba e Bale são os grandes fiascos. Tiveram uma temporada péssima (influenciada por contusões e/ou atuações abaixo do esperado), que em nada enaltece seus currículos.
Boa parte do tempo lesionado, o francês fez um único gol e deu meras três assistências. Ou seja, faturou US$ 8,5 milhões (quase R$ 45 milhões) por lance indubitavelmente produtivo.

Bale, envolto com contusões, com a cabeça em seu passatempo favorito (o golfe) e desprestigiado com o treinador Zidane, também jogou pouco, e o resultado foram míseros dois gols e duas assistências. Cada um deles, caso precificados, valeu US$ 7,3 milhões.
O mais produtivo da lista da Forbes, com folga, é Lewandowski, do campeão europeu Bayern, que só não levará neste ano a Bola de Ouro (prêmio de melhor jogador do mundo) porque o evento foi cancelado por causa da pandemia de coronavírus.
O polonês recebeu “só” US$ 600 mil por gol (foram 37) ou assistência (foram 12) na temporada 2019/20.
Os outros com bom “custo-benefício” são Salah, US$ 1,1 milhão (23 gols, 12 assistências), e Mbappé, US$ 1,3 milhão (23 gols, 10 assistências).
O jovem francês de 21 anos, muito provavelmente o melhor jogador da década vindoura, possivelmente teria números muitíssimo melhores, pois perdeu parte dos jogos do PSG por contusão.
Eis a conta dos demais: Griezmann, US$ 2,2 milhões por lance decisivo (11 gols, 4 assistências); Messi, US$ 2,4 milhões (28 gols, 24 assistências); Cristiano Ronaldo, US$ 2,9 milhões (35 gols, 5 assistências); e Neymar, US$ 3,7 milhões (16 gols, 10 assistências).
Vale ressaltar que, a exemplo de Mbappé, Pogba e Bale, o melhor jogador do Brasil em atividade teve problemas físicos que o afastaram temporariamente dos gramados.
O não jogar também faz parte do jogo, e logicamente afeta o desempenho de cada atleta. Mas deve ser penoso para clube e patrocinador investirem tanto em determinado “ativo” e não vê-lo ter o rendimento supostamente esperado. Fica esta impressão: “Estou gastando muito e recebendo pouco”.

O que leva-se a questionar se Messi (39 jogos computados para este relato) e Cristiano Ronaldo (41 jogos), considerados os melhores do planeta há mais de uma década, não ganharam demais, tanto na função principal (futebolista) como na extra (garoto-propaganda).
Na comparação com “Lewa” (43 jogos), Salah (41 jogos) e Griezmann (38 jogos), e não sendo eu especialista em marketing –e por isso levando em conta somente o retorno da produção esportiva–, a resposta tem três letras: sim.
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Em tempo: Matemáticos de plantão podem questionar a metodologia usada no cálculo, já que o número de jogos difere de um jogador para outro. Tomarei então Neymar como exemplo. Supondo que ele tivesse jogado o dobro de partidas (42, e não 21), dobrando também seus gols e assistências, ainda assim estaria em desvantagem na análise “remuneração x produtividade” em relação a Lewandowski e Salah.