Seleção do momento na Europa, ‘Brasil dos Bálcãs’ tem seu maior desafio
Não é a França, atual campeã da Copa do Mundo, nem a Croácia, atual vice-campeã. Não é Portugal, atual campeão da Eurocopa e da Liga das Nações.
Não são Inglaterra, Espanha, Alemanha ou Itália, todas ao menos uma vez campeãs mundiais e donas de uma camisa respeitadíssima, nem a Bélgica, que lidera o ranking da Fifa.
A seleção em melhor fase na Europa é a do Kosovo, nação de 1,8 milhão de habitantes situada geograficamente nos Bálcãs e de história recente no futebol.
O Kosovo tornou-se independente da Sérvia, uma das ex-repúblicas iugoslavas, em 2008 – não sem antes participar de um conflito armado, no fim dos anos 1990, que deixou mais de 13 mil kosovares mortos ou desaparecidos–, e a partir daí, aos poucos, organizou-se no esporte.
Passaram-se oito anos para, no primeiro semestre de 2016, o país ter sua confederação reconhecida pela Uefa, a entidade que rege o futebol na Europa, e pela Fifa.
Pôde, assim, disputar as eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia, nas quais naufragou. Tendo como oponentes Croácia, Islândia, Finlândia, Turquia e Ucrânia, perdeu nove jogos e empatou um, com apenas três gols a favor e 24 contra.
Depois disso, entretanto, como que num passe de mágica, o Kosovo não foi mais derrotado. O último revés, diante dos islandeses (2 a 0), ocorreu no dia 9 de outubro de 2017, há quase dois anos.
Desde então, os kosovares apresentaram-se 15 vezes. Ganharam dez e empataram cinco. O ataque deslanchou (34 gols) e a defesa se acertou (levou 12 gols, média inferior a um por partida).
Não há quem na Europa viva melhor momento, tenha uma série tão boa. As seleções que mais se aproximam, no quesito invencibilidade, são Portugal e Dinamarca – 11 jogos cada uma.
Desses 15 confrontos do Kosovo sem perder, cinco foram amistosos (um deles contra os dinamarqueses, que estiveram na Copa de 2018) e dez, jogos oficiais.
Dessa dezena, seis partidas pela Liga das Nações – disputou a quarta e última divisão da competição, contra rivais bem fracos (Malta, Azerbaijão e Ilhas Faroë), obtendo o acesso para a terceira divisão – e quatro pelo Grupo A das eliminatórias da Eurocopa de 2020.

As eliminatórias da Euro estão longe de ser uma moleza, e nelas o Kosovo, nesta ordem, empatou com Bulgária, em casa, e Montenegro, fora (dois 1 a 1), e venceu Bulgária, fora (3 a 2, com o terceiro gol nos acréscimos do segundo tempo), e, no sábado (7), em seu maior feito, de virada a República Tcheca (2 a 1), no acanhado estádio Fadil Vokrri, em Pristina, a capital kosovar.
Os resultados e o bom futebol, que fizeram os torcedores kosovares apelidarem a seleção de “Brasil dos Bálcãs”, deixam o Kosovo em segundo lugar na chave, com oito pontos, um atrás da Inglatrerra, que ganhou suas três partidas nas eliminatórias e receberá a sensação europeia nesta terça (10).
Os dois primeiros colocados do grupo asseguram participação na Euro-2020.
A visita ao estádio St. Mary’s, em Southampton, será o ápice da curta história do Kosovo no futebol, pois terá pela frente a seleção mais antiga da era moderna do futebol, com 147 anos de história. Será igualmente seu maior desafio – a Inglaterra está em quarto no ranking da Fifa, e o Kosovo, em 120º.
O treinador Bernard Challandes, de 68 anos, sabedor da condição de azarão de sua equipe contra o artilheiro Harry Kane e companhia, afirmou em entrevista coletiva que recorrerá à tática que batizou de “pressão maluca” para tentar surpreender.
“Será ‘vamos, vamos, vamos, vamos, vamos!’, como num jogo louco. Talvez eles percam a bola e a gente faça um gol”, declarou o suíço para explicar que, durante todo o jogo, os kosovares, não tendo a bola, pressionarão intensamente a fim de recuperá-la, de preferência perto da meta inglesa.

Com essa e outras estratégias, Challandes tem um cartel de nove vitórias e cinco empates. Como ele assumiu no começo de 2018, não comandou o Kosovo na partida que deu início à série invicta, 4 a 3 na Letônia, em novembro de 2017.
Individualmente, as apostas do Kosovo jogam no futebol italiano: o goleiro Ujkani, do Torino, o zagueiro Rrahmani, do Verona, e o meia Valon Berisha, da Lazio. No ataque, a esperança de gols está nos pés e na cabeça de Muriqi, que defende o Fenerbahçe, da Turquia.
Em tempo: Qual país tem a atual maior série invicta, mundialmente? O Brasil. Desde a derrota para a Bélgica, nas quartas de final do Mundial na Rússia, a seleção de Tite não perde. Em 17 partidas, 13 vitórias e quatro empates, com direito nesse percurso ao título da Copa América.