Com duas lesões e só 10 jogos no ano, Neymar não está em posição de exigir
Há pouco mais de dois meses, escrevi um texto com o seguinte título: “Minissérie da possível saída Neymar do PSG pode virar uma novela”.
Dito e feito.
O desejo do atacante de 27 anos de deixar o Paris Saint-Germain evidenciou-se, porém as semanas foram se passando e nada de haver uma definição relacionada a uma transferência.
O PSG pagou muito alto por Neymar (€ 222 milhões) na metade de 2017, até hoje o valor recorde de uma transferência no futebol. E por isso exige que os interessados também paguem alto por ele.
Não sendo possível chegar a esse valor, e está claro que não será, o novo clube de Neymar terá de oferecer pé de obra de qualidade como contrapartida.
Novo clube? Talvez não. Poderia ser um velho clube. O Santos? Não. O Barcelona? Sim.
Neymar tem preferência pela Espanha, e o Barça, que contou com o brasileiro de 2013 a 2017, apareceu como o principal candidato a contratá-lo.
Muito publicou-se a respeito desse retorno na mídia especializada, inclusive que a equipe da Catalunha incluiu Philippe Coutinho como parte da oferta feita ao PSG.
Não rolou, e no fim da semana passada o Barça negociou Coutinho com o Bayern de Munique. Ficará lá um ano, por empréstimo.
Sem poder pagar o que deseja o PSG, e agora sem ter um de seus principais ativos para envolver em uma negociação, o Barcelona parece a cada dia mais longe de Neymar.
Restaria como opção na Espanha o outro gigante do país, o Real Madrid.
Que quer se livrar de um de seus astros, o atacante galês Gareth Bale – em constante desentendimento com o treinador Zinédine Zidane –, opção que poderia interessar ao clube francês.
Outro jogador de primeiríssima linha que pode ser mal aproveitado no Real é James Rodríguez. O meia, um dos destaques da Copa de 2014, no Brasil, regressou de empréstimo ao Bayern e está na reserva.
Bale (30 anos) e James (28) valeriam, juntos, por volta de € 110 milhões. Se o Real Madrid colocar mais uns € 60 milhões em dinheiro, é razoável que o PSG aceite.
Teria prejuízo de uns € 50 milhões, considerando-se o que pagou ao Barcelona há dois anos, mas se livraria de um jogador insatisfeito e teria dois craques no elenco, que reforçariam um setor ofensivo que já conta com os medalhões Cavani, Mbappé e Di María.
Neymar, por seu lado, anseia por novos ares.
Paris, que se apresentou convidativa e promissora, tornou-se neste ano hostil e indesejada – o camisa 10 tem e não tem responsabilidade nisso.
Neymar cometeu atos de indisciplina – agrediu um torcedor no estádio e fez críticas à arbitragem que renderam suspensão – que deixaram enraivecida a direção do PSG, que também torce o nariz para o lado festeiro do atleta.
Para piorar o ambiente, não se apresentou na data prevista pelo clube para a retomada dos treinamentos para a temporada 2019/2020.
Na vida pessoal, um encontro na capital francesa com uma modelo brasileira, combinado por rede social, rendeu-lhe uma acusação de estupro – que não avançou, mas provocou-lhe desgaste emocional e na imagem.

Antes desses episódios, a segunda lesão no quinto metatarso do pé no período de um ano afastou-o de jogos decisivos da Liga dos Campeões da Europa, repetindo o enredo de 2018.
Nos casos de contusão, não há como culpar Neymar, mas o PSG frustrou-se por não contar com sua superestrela, contratado com a missão de conduzir a equipe a um inédito título da Champions League.
Assim, o clima não está nada bom para ele em Paris, e o Real Madrid seria uma dádiva.
Porém há um fator extra a se considerar. O fator Neymar.
Que, de acordo com o programa Jugones, da TV espanhola, exige um contrato de cinco anos e salário mensal de € 2,9 milhões (R$ 13,5 milhões), semelhante ao que ganha no PSG, uma pedida além do que o Real Madrid pretende oferecer.
Caso essas informações sejam verdadeiras, Neymar precisa repensar, se quiser mesmo deixar Paris.
Pois a realidade é que neste momento ele está desvalorizado. Não perdeu a fama de cai-cai, incluiu na biografia algumas páginas policiais e esportivamente está em baixa.
Neste ano, devido à grave lesão no pé e a outra, no tornozelo, pouco antes da Copa América, ele esteve em campo em somente dez partidas (perto de uma por mês), a última no dia 5 de junho.
Ressalte-se que nelas marcou sete gols, o que mostra que, quando está bem, Neymar é muito valioso.
A dúvida que fica é se ele não se tornou um jogador pouco confiável do ponto de vista clínico, um “podrinho”. Seu pé direito é o problema.
Além da ruptura do ligamento do tornozelo há menos de três meses – não jogou ainda depois disso, só treinou –, o seu dedinho não deixa ninguém tranquilo.
Eric Rolland, ex-diretor médico do PSG, declarou ao jornal Le Parisien o seguinte: “O pé do Neymar é muito magro, e o risco de ocorrer uma recaída no quinto metatarso é muito provável”.
Opiniões médicas não favoráveis, se não são suficientes para fazer um comprador desistir da investida, o deixam no mínimo receoso, com a pulga atrás da orelha.
Neymar, de quebra, ainda perdeu a aura de insubstituível na seleção de Tite, já que o Brasil foi campeão da Copa América sem ele.
Assim, com um ano conturbado e negativo até agora, Neymar, caso tenha autocrítica e bom senso, deve reduzir suas demandas.
Do contrário, perderá a oportunidade de tentar brilhar em um dos principais clubes do planeta e terá de prosseguir na França, a contragosto.
Em tempo 1: A novela protagonizada por Neymar tem data para terminar: 2 de setembro. Nesse dia será fechada a atual janela de negociações na França e na Espanha. Depois, só em janeiro.
Em tempo 2: O PSG joga neste domingo (25) em casa contra o Toulouse, pelo Campeonato Francês. Teoricamente, Neymar tem condição de ir a campo. Mas não deve ser escalado, a fim de que seja poupado dos apupos dos torcedores do próprio time – parte deles estão fartos do comportamento do brasileiro.