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Revelação tenta quebrar maldição prolongada da camisa 9 do Chelsea

Pode uma camisa de futebol ser amaldiçoada? Ou isso não passa de crendice e baboseira?

Há quem acredite, por exemplo, que a camisa 10 do Palmeiras, atualmente com o recém-contratado Luiz Adriano, está nessa situação, já que os jogadores que a usaram nesta década (Valdivia, Cleiton Xavier, Lucas Barrios e Moisés) sofreram com lesões ou amargaram fases técnicas muito ruins.

Na Inglaterra, uma das maldições que se evidenciam relaciona-se à camisa 9 do Chelsea. Que é mais antiga do que a da 10 palmeirense.

O jornal Daily Mail fez o levantamento de todos os jogadores do Chelsea que utilizaram esse número na era Premier League, iniciada em 1992, e desde 2006, quando o ótimo centroavante argentino Hernán Crespo deixou o clube londrino, todos os que o tiveram às costas sucumbiram.

Inicialmente, talvez a culpa tenha sido do próprio clube, que permitiu ao sucessor de Crespo, o holandês Khalid Boulahrouz, vestir a camisa 9, em 2006/2007.

O problema? Boulahrouz não era atacante, mas zagueiro, e soa como heresia dar a vestimenta que geralmente pertence ao homem-gol a um atleta que mal passa do meio de campo.

Não satisfeito, o time insistiu na sequência em manter a 9 com alguém cuja função primordial era marcar – não gols, mas os adversários.  Steve Sidwell, um volantão, ficou como opção de banco na maior parte da temporada 2007/2008.

Em 2008/2009, um atacante voltou a ser dono da camisa. O argentino Franco Di Santo, então com 19 anos, era uma promessa.

E permaneceu com esse status. Em 16 aparições, todas como substituto, marcou a mesma quantidade de gols de Boulahrouz e Sidwell: zero.

Contratado do Liverpool por 50 milhões de libras, Fernando Torres levou 903 minutos para fazer seu 1º gol pelo Chelsea (Andrew Winning – 18.mar.2014/Reuters)

Em 2011, criou-se grande expectativa em torno de Fernando “Niño” Torres.

Campeão mundial com a Espanha na Copa de 2010 (África do Sul), astro no Liverpool, ele foi comprado em 2011 por £ 50 milhões (R$ 243 milhões pelo câmbio atual), então a sexta maior negociação da história do futebol. Três anos depois, saiu de graça para o Milan.

Supergoleador com a camisa 9 vermelha do Liverpool, depois de vestir a camisa 9 azul do Chelsea Torres pareceu ter se esquecido de como jogar bola.

Demorou mais de 900 minutos para fazer seu primeiro gol e teve apresentação pífia atrás de apresentação pífia na temporada 2011/2012. Mesmo com lampejos de bom futebol em 2012/2013 e em 2013/2014, a imagem que ficou foi de fracasso.

A Torres seguiu-se outro grande nome: Radamel Falcao. O colombiano, artilheiro e ídolo no Porto, no Atlético de Madri e no Monaco, anotou um mísero gol com a 9 do Chelsea em 2015/2016, temporada em que ficou quase todo o tempo no departamento médico.

Em 2017, o número 9 voltou a ser de um espanhol, dessa vez Álvaro Morata. Ele chegou para substituir Diego Costa, que saiu do time depois de desentendimento com o treinador Antonio Conte.

E os torcedores dos Blues passaram com ele por um déjà vu: Morata foi tão perdedor de gols quanto o compatriota Torres.

O atacante recorreu até a ajuda psicológica para tentar reencontrar os bons momentos vividos na Juventus e no Real Madrid, porém a tentativa não deu grande resultado. Hoje, está emprestado ao Atlético de Madri.

Álvaro Morata é um dos sete jogadores que, desde 2006, fracassaram ao usar a camisa 9 do Chelsea (Tony O’Brien – 6.ago.207/Reuters)

Gonzalo Higuaín é o mais recente a naufragar. Sua passagem durou cinco meses, de janeiro a maio deste ano, e sua média foi de um gol por mês – cinco em 18 partidas.

Parecendo fora de forma, o argentino ficou várias vezes na reserva, com o treinador Maurizio Sarri preferindo improvisar Hazard, atacante pelos lados, como centroavante.

O desafio de romper com a alardeada maldição cabe agora a um talentoso jovem de 21 anos, Tammy Abraham, o primeiro inglês a usar a camisa 9 do Chelsea desde Sidwell, 11 anos atrás.

Grandalhão (1,91 m), porém ágil e veloz, Abraham é uma revelação, cria das categorias de base do clube, para o qual regressou depois de um 2018/2019 muito bem-sucedido no Aston Villa. Marcou 26 gols em 40 jogos, sendo vital na campanha em que a equipe de Birmingham assegurou o retorno à primeira divisão.

Sua pré-temporada até que foi promissora: em cinco amistosos, dois gols, um deles diante do Barcelona.

Só que a boa fase mostrou-se fugaz.

Na estreia na Premier League, no domingo passado, fora de casa contra o Manchester United, nada de gol e derrota por 4 a 0.

Três dias depois, na quarta (14), o Chelsea enfrentou o Liverpool pela Supercopa da Europa, confronto que vale taça, entre o campeão da Champions League (Liverpool) e o da Liga Europa (Chelsea).

Excelente jogo, 2 a 2, com um gol para cada time no tempo regulamentar e mais um gol para cada time na prorrogação. Pênaltis.

Ninguém errou até chegar a vez de Abraham. Ele cobrou mal, no meio, e o goleiro Adrián defendeu. Liverpool 5 x 4 Chelsea.

Consequência do erro, tornou-se, nas redes sociais, alvo de injúrias raciais e de ameaças de morte vindas de fãs do próprio time. Lamentável, condenável, deplorável.

Mas, para os que creem que a 9 do clube é mesmo amaldiçoada, isso (pênalti decisivo desperdiçado mais reação agressiva de torcedores) é mais que suficiente para vislumbrar uma temporada que Abraham quererá esquecer.

Em tempo 1: Também na Inglaterra, há uma aura negativa que circunda outra camisa de outro grande clube: a 7 do Manchester United. O último a vesti-la a se dar bem foi a megaestrela Cristiano Ronaldo, que deixou a equipe em 2009. Owen (inglês), Di María (argentino), Depay (holandês) e, desde o ano passado, Alexis Sánchez (chileno), estão entre os que não renderam com ela.  

Em tempo 2: Como curiosidade, o camisa 9 da França na Copa de 2018, na Rússia, não marcou nenhum gol nos sete jogos da campanha que levou o país ao bicampeonato mundial. Giroud, colega de Abraham no Chelsea, usa no clube o número 18.

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