Artilheiro alemão revela que sua mulher treinava no lugar dele
É sabido que no futebol há atletas que não gostam de treinar, só de jogar, mesmo que isso não seja dito, pois pega mal – ninguém quer ser tachado de preguiçoso ou desinteressado.
Romário, o Baixinho, um dos grandes artilheiros do Brasil e do mundo, era um exemplo. Nunca escondeu a aversão aos repetidos exercícios físicos.
Dava aquela enganada nas atividades, e ninguém achava ruim, ou não abertamente. Não era adequado confrontar um gênio da bola.
Romário podia abrir mão de estar fisicamente no auge; nos jogos, sua inteligência, seu posicionamento e sua técnica lhe davam vantagem sobre zagueiros que levavam a sério todos os treinamentos. Além disso, parecia que a redonda o procurava sempre.
Mas não gostar de treinar é uma coisa, dar um jeito de escapar é outra. A cobrança é grande; a vigilância, idem. Faltas significam multas, e um desempenho fraco pode resultar em uma passagem rápida ou prolongada pelo banco de reservas.
Na Alemanha, logo onde (pois há a impressão de que lá todo mundo leva tudo a sério sempre), teve quem armou uma estratégia para driblar a preparação física.
Stefan Kiessling, centroavante do Bayer Leverkusen por 12 anos, aposentou-se no primeiro semestre, ao término do Campeonato Alemão, alegando constantes dores nos quadris, nas pernas e nas costas, que o limitavam em campo.
Ótimo no jogo aéreo (tem 1,91 m), ele é um dos principais ídolos da história do clube. Com 162 em 444 partidas, é o segundo maior goleador da equipe, atrás apenas de Ulf Kirsten (233 gols de 1990 a 2003).
Com as chuteiras penduradas, sentiu-se à vontade para, em entrevista à revista Sport Bild, fazer uma revelação.
Nas pré-temporadas, totalmente avesso a eles, burlava os “treinamentos de férias” que eram receitados pelo departamento físico do Bayer Leverkusen.
Antes de se apresentarem para os treinos presenciais, os jogadores eram supervisionados a distância, por uma pulseira-relógio que media o desempenho em testes aeróbicos. Havia monitoramento dos batimentos cardíacos.
“Nunca fiz 100% dos exercícios nos períodos de preparação, nem uma única vez”, confessou Kiessling.
Mas como o espertalhão fez para não ser descoberto?
Contando com a providencial colaboração da pessoa mais próxima a ele – a esposa, Norina, com quem se casou em 2008.
“Como minha mulher é muito atlética, ela fazia algumas corridas no meu lugar”, disse o ex-jogador de 34 anos.
Norina devia mandar bem na esteira (ou na bicicleta, ou no simulador de caminhadas), pois Kiessling assegura que ninguém no Bayer Leverkusen percebeu anomalias nos resultados.
Perdoe-me o leitor a possível pieguice, mas essa é uma real constatação de que dois corações podem bater no mesmo ritmo.
Porém, tendo descumprido o cronograma de preparação física, o desempenho não ficava prejudicado nas temporadas?
Kiessling afirma que não. E, com gols em abundância ano a ano, não dá para discordar da palavra dele.
Em tempo: Desde outubro, Kiessling trabalha no Bayer Leverkusen como assistente do diretor esportivo, o ex-atacante Rudi Völler (campeão mundial na Copa da Itália, em 1990). Se o clube não receber bem a notícia de que ele desrespeitou orientações por um longo período, revelando-se um antiexemplo, pode decidir demiti-lo.