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Goleiro dá entrevista com jogo em andamento e toma gol logo depois

Esta, até onde sei, é inédita no futebol: um jogador conceder uma entrevista no meio de uma partida de futebol.

Não no intervalo de 15 minutos entre um tempo e outro, mas com a bola rolando.

Aconteceu nesta quarta (1º), em Atlanta, em um jogo das estrelas, festivo e amistoso, que opôs a Seleção da MLS e a Juventus, da Itália.

A MLS (Major League Soccer) é a principal liga de futebol dos Estados Unidos.

Aos 18 minutos e meio do primeiro tempo, durante a transmissão, o comentarista Taylor Twellman, da ESPN, fez contato com o goleiro americano Brad Guzan, da equipe da casa.

Como isso foi possível? Do jeito que você provavelmente pensou: Guzan estava usando um microfone e um fone de ouvido, a fim de permitir e estabelecer a comunicação.

Com a Seleção da MLS no campo de ataque, Twellman questionou o camisa 1 a respeito da sua confiança em jogar com os pés. “Nesta noite já vimos você fazer dois lançamentos de 30 jardas [27,4 metros] que deram certo.”

“Aqui em Atlanta nós começamos a jogar desde trás, tentando trocar passes. Se não funcionar, não funcionou, mas Tata [Martino] nos incentiva a manter a posse da bola”, respondeu Guzan, citando o técnico argentino do Atlanta United, atual equipe do goleiro de 33 anos.

Súbito, ele interrompeu a conversa, com um berro de incentivo, emendando outro, de repreensão, pois a Juventus tinha recuperado a bola. O time logo parou a jogada com uma falta.

Em seguida, Guzan disse para a emissora: “Desculpe, rapazes, estou gritando nos seus ouvidos”.

Não houve incômodo, e a entrevista teve uma breve sequência. “Está tudo bem. Brad, em uma escala de zero a dez, o quanto é difícil falar com a gente usando esse equipamento? Agradecemos por estar conosco.”

“É um prazer”, afirmou Guzan, sem responder à questão referente à utilização do ponto eletrônico.

O curioso é que, apenas 23 segundos depois da interrupção do contato, Guzan levou um gol, feito de cabeça pelo atacante Favilli.

Pouco depois de ser entrevistado, Guzan sofre um gol; veja o resumo da partida (Reprodução/Site da Major League Soccer)

Não vi falha de Guzan na jogada, porém é possível debater se uma conversa com alguém de fora do ambiente das quatro linhas é capaz de tirar a concentração do futebolista. Na minha opinião, sim.

Além disso, há uma pergunta a ser feita: as regras do futebol permitem que um jogador use esse tipo de equipamento?

A Regra 4, que trata do uniforme dos atletas, diz o seguinte: um jogador não pode estar equipado com, ou vestir qualquer coisa, que seja perigosa para ele ou para outro jogador (incluindo qualquer espécie de joia).

E complementa: o uniforme básico obrigatório consiste de camisa, calção, meias, caneleira e calçado (parênteses meus: não está especificado se é necessário ser chuteira ou não).

O Mundo É uma Bola fez contato por email com a Fifa, a entidade máxima do futebol, questionando-a a respeito de Guzan usar o equipamento de áudio, mas não houve resposta.

Também contatada, a MLS respondeu por intermédio de seu departamento de comunicação: “Sempre usamos jogos amistosos, como o All-Star Game, para inovações que atraiam os telespectadores. Neste ano, isso continuou, com a entrevista com Brad Guzan com a bola rolando. É ótimo que os fãs e a mídia ao redor do mundo tenham interesse nessa iniciativa”.

Por ser uma partida de celebração, com caráter de espetáculo, não vejo problema nesse tipo de experimento. Apesar de estranho, é original e até interessante.

Discordo, porém, caso ele passe a ser utilizado em campeonatos oficiais.

Para mim, é essencial os atletas estarem focados unicamente no jogo (isso em todo esporte, não só no futebol), sem distrações ocasionadas por quaisquer fatores que não sejam o clima ou a torcida.

De aparatos tecnológicos, para quem está em campo, bastam os utilizados pela arbitragem – o polêmico VAR incluído.

Leia também: Guzan leva três gols entre as pernas e seu time é rebaixado

Em tempo 1: Ainda sem Cristiano Ronaldo, a Juventus derrotou a Seleção da MLS nos pênaltis (5 a 3), já sem Guzan no gol (havia sido substituído por Zack Steffen), depois de empate por 1 a 1 no tempo regulamentar.

Em tempo 2: Na década de 1980, mais precisamente em 1982, houve um caso famoso relacionado ao uso de equipamento de áudio em um jogo de futebol. Quem o utilizou, por ideia da TV Globo e sem que os times soubessem, foi o árbitro José Roberto Wright, em um Flamengo x Vasco, na final da Taça Guanabara. Não houve participação “ao vivo” de Wright. Só dias depois a emissora colocou no ar uma reportagem, no Esporte Espetacular, que trazia falas do árbitro com os jogadores. Tanto Flamengo como Vasco desaprovaram a experiência.

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