Goleiro dá entrevista com jogo em andamento e toma gol logo depois
Esta, até onde sei, é inédita no futebol: um jogador conceder uma entrevista no meio de uma partida de futebol.
Não no intervalo de 15 minutos entre um tempo e outro, mas com a bola rolando.
Aconteceu nesta quarta (1º), em Atlanta, em um jogo das estrelas, festivo e amistoso, que opôs a Seleção da MLS e a Juventus, da Itália.
A MLS (Major League Soccer) é a principal liga de futebol dos Estados Unidos.
Aos 18 minutos e meio do primeiro tempo, durante a transmissão, o comentarista Taylor Twellman, da ESPN, fez contato com o goleiro americano Brad Guzan, da equipe da casa.
Como isso foi possível? Do jeito que você provavelmente pensou: Guzan estava usando um microfone e um fone de ouvido, a fim de permitir e estabelecer a comunicação.
Aswear!! Nobody does showbiz like Americans, nobody!
They actually mic’d up Brad Guzan (goal keeper) while he’s playing and the commentators are conversing with him through this MLS allstar game against Juventus. Soon enough they’ll mic strikers. pic.twitter.com/LObyWHFWQO
— eLDee (@eLDeeTheDon) 2 de agosto de 2018
Com a Seleção da MLS no campo de ataque, Twellman questionou o camisa 1 a respeito da sua confiança em jogar com os pés. “Nesta noite já vimos você fazer dois lançamentos de 30 jardas [27,4 metros] que deram certo.”
“Aqui em Atlanta nós começamos a jogar desde trás, tentando trocar passes. Se não funcionar, não funcionou, mas Tata [Martino] nos incentiva a manter a posse da bola”, respondeu Guzan, citando o técnico argentino do Atlanta United, atual equipe do goleiro de 33 anos.
Súbito, ele interrompeu a conversa, com um berro de incentivo, emendando outro, de repreensão, pois a Juventus tinha recuperado a bola. O time logo parou a jogada com uma falta.
Em seguida, Guzan disse para a emissora: “Desculpe, rapazes, estou gritando nos seus ouvidos”.
Não houve incômodo, e a entrevista teve uma breve sequência. “Está tudo bem. Brad, em uma escala de zero a dez, o quanto é difícil falar com a gente usando esse equipamento? Agradecemos por estar conosco.”
“É um prazer”, afirmou Guzan, sem responder à questão referente à utilização do ponto eletrônico.
O curioso é que, apenas 23 segundos depois da interrupção do contato, Guzan levou um gol, feito de cabeça pelo atacante Favilli.

Não vi falha de Guzan na jogada, porém é possível debater se uma conversa com alguém de fora do ambiente das quatro linhas é capaz de tirar a concentração do futebolista. Na minha opinião, sim.
Além disso, há uma pergunta a ser feita: as regras do futebol permitem que um jogador use esse tipo de equipamento?
A Regra 4, que trata do uniforme dos atletas, diz o seguinte: um jogador não pode estar equipado com, ou vestir qualquer coisa, que seja perigosa para ele ou para outro jogador (incluindo qualquer espécie de joia).
E complementa: o uniforme básico obrigatório consiste de camisa, calção, meias, caneleira e calçado (parênteses meus: não está especificado se é necessário ser chuteira ou não).
O Mundo É uma Bola fez contato por email com a Fifa, a entidade máxima do futebol, questionando-a a respeito de Guzan usar o equipamento de áudio, mas não houve resposta.
Também contatada, a MLS respondeu por intermédio de seu departamento de comunicação: “Sempre usamos jogos amistosos, como o All-Star Game, para inovações que atraiam os telespectadores. Neste ano, isso continuou, com a entrevista com Brad Guzan com a bola rolando. É ótimo que os fãs e a mídia ao redor do mundo tenham interesse nessa iniciativa”.
Por ser uma partida de celebração, com caráter de espetáculo, não vejo problema nesse tipo de experimento. Apesar de estranho, é original e até interessante.
Discordo, porém, caso ele passe a ser utilizado em campeonatos oficiais.
Para mim, é essencial os atletas estarem focados unicamente no jogo (isso em todo esporte, não só no futebol), sem distrações ocasionadas por quaisquer fatores que não sejam o clima ou a torcida.
De aparatos tecnológicos, para quem está em campo, bastam os utilizados pela arbitragem – o polêmico VAR incluído.
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Em tempo 1: Ainda sem Cristiano Ronaldo, a Juventus derrotou a Seleção da MLS nos pênaltis (5 a 3), já sem Guzan no gol (havia sido substituído por Zack Steffen), depois de empate por 1 a 1 no tempo regulamentar.
Em tempo 2: Na década de 1980, mais precisamente em 1982, houve um caso famoso relacionado ao uso de equipamento de áudio em um jogo de futebol. Quem o utilizou, por ideia da TV Globo e sem que os times soubessem, foi o árbitro José Roberto Wright, em um Flamengo x Vasco, na final da Taça Guanabara. Não houve participação “ao vivo” de Wright. Só dias depois a emissora colocou no ar uma reportagem, no Esporte Espetacular, que trazia falas do árbitro com os jogadores. Tanto Flamengo como Vasco desaprovaram a experiência.