Final da Copa decidirá também o campeão mundial linear
Quando entrar em campo neste domingo (15), ao meio-dia de Brasília, em Moscou, a França disputará não um título mundial, mas dois.
Além da tentativa de conquistar a segunda Copa do Mundo para o país (a primeira foi em 1998, em casa), os franceses poderão amealhar o UFWC (Unofficial Football World Championships).
É o Campeonato Mundial Não Oficial de Futebol, cujo atual campeão é a Croácia.
Bem pouco conhecido ou divulgado, o UFWC existe desde 30 de novembro de 1872, data do primeiro jogo entre seleções da história do esporte (Escócia 0 x 0 Inglaterra, em Glasgow), que não elegeu um campeão pois acabou empatado.
Ao todo, já foram realizadas 947 disputas pelo título do UFWC, que se baseia em um regulamento muito simples: quem ganha a partida é o campeão.
Se há empate, o título permanece com o detentor. Ou seja, o desafiante precisa ganhar para tomar o cinturão do rival.
Escrevo cinturão por analogia com o boxe, esporte em que, no combate por título mundial, o vencedor fica com esse cobiçado laurel.
O boxe é um dos esportes que traçam esse histórico até o primeiro campeão (o MMA também o faz), destacando a categoria dos pesos-pesados, na qual o primeiro a triunfar foi John L. Sullivan, dos EUA, em 1882.
Estabelece-se, assim, o chamado campeão linear.
No futebol, em toda partida (seja válida por competição ou seja amistosa) o campeão do UFWC defende seu título.
A Inglaterra se tornou o primeiro vencedor, ao superar a Escócia por 4 a 2 no dia 8 de março de 1873, em Londres.
Passados quase 150 anos, 49 países já tiveram o gosto de ostentar esse cinturão, incluindo o Brasil, campeão pela primeira vez em 1952, ao derrotar o Chile por 3 a 0 (dois gols de Ademir e um de Pinga), em Santiago, nos Jogos Pan-Americanos.
A última vez que a seleção brasileira deteve o cinturão foi em 2015.
Conquistara-o ao derrotar a Argentina por 2 a 0, em outubro de 2014, em amistoso em Pequim, tendo defendido o título com sucesso em oito “finais” até ser derrotada pela Colômbia por 1 a 0 na Copa América do Chile – partida em que Neymar foi expulso.
Depois, o Brasil teve duas chances de voltar a ser campeão do UFWC, porém falhou em ambas. Em outubro de 2015, 0 a 2 ante o Chile, em Santiago. Em março de 2016, no Recife, 2 a 2 com o Uruguai.
O Peru chegou ao Mundial na Rússia como o campeão linear, com uma respeitável sequência de dez defesas bem-sucedidas do cinturão, ganho em agosto de 2017 com uma vitória sobre a Bolívia em Lima.
Perdeu-o com a derrota por 1 a 0 para a Dinamarca, na fase de grupos. E os dinamarqueses o perderam para a Croácia, nas oitavas de final, na disputa de pênaltis.
Os croatas, pela primeira vez donos do cinturão (tinham fracassado anteriormente quatro vezes), farão sua terceira defesa dele; mantiveram-no ao superar a Rússia, nas quartas de final, e a Inglaterra, na semifinal.
E os franceses tentarão recuperar um título que não têm desde 28 de março de 2001, data de derrota por 2 a 1 para a Espanha em amistoso em Valencia.
Em tempo 1: França x Croácia não necessariamente definiria o campeão mundial linear. Explico: uma seleção não classificada para a Copa pode ser a dona do cinturão. Por exemplo, o Peru era o detentor do título do UFWC com a Copa se aproximando. Jogou amistoso no fim de maio contra a Escócia, país não classificado para o Mundial russo. Ganhou, mas se tivesse perdido passaria a ser dos escoceses o cinturão do UFWC. Na sequência, caso os escoceses ao menos empatassem com o México, em amistoso no início de junho (perderam por 1 a 0), o campeão linear não disputaria a Copa do Mundo.
Em tempo 2: O Campeonato Mundial Não Oficial de Futebol (UFWC) é muito mais democrático que o oficial, que até hoje, em 20 edições, só consagrou oito países (Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, Uruguai, Espanha, França e Inglaterra) – a Croácia tenta ser o nono. Conforme expus, já são 49 os campeões do UFWC, e até nações da periferia da bola, como Georgia, Zimbábue e Antilhas Holandesas, chegaram lá.