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Fora das quatro linhas, o que há de melhor no futebol são os causos

Luís Curro

Foras das quatro linhas, que nos oferecem gols, dribles, grandes jogadas e muita ação, o que há de melhor no mundo da bola são os chamados causos.

Aquelas histórias que os personagens da quiçá eterna trama futebolística colhem nos jogos, nos treinos, nas concentrações, nos vestiários, nas viagens, enfim, no dia a dia.

Histórias essas, geralmente divertidas, que via de regra são contadas somente muitos anos depois que aconteceram, quando o jogador já parou de atuar ou não está mais ligado ao time em que vivenciou ou presenciou o ocorrido.

O “Resenha”, da ESPN Brasil, toda noite de domingo (às 22 horas) traz ao menos um boleiro ou ex-boleiro e/ou um treinador (na ativa ou não) para comentar atualidades e relembrar episódios marcantes e pitorescos. Diversão garantida.

Atacante brasileiro que tem cidadania italiana, Amauri não esteve no programa – não que eu lembre. Mas é dele um dos causos de grande sabor recentemente contados.

O centroavante Amauri, à época em que defendia o Palermo (Tony Gentile – 6.abr.2008/Reuters)

A situação inusitada ocorreu, de acordo com ele, quando atuava pelo Palermo, na segunda metade da década passada – aliás, suas boas atuações pela equipe da Sicília, anotando muitos gols, lhe renderam transferência para a Juventus em 2008.

O duelo era Palermo x West Ham, pela Copa da Uefa (hoje Liga Europa), e Amauri relata a intervenção do treinador Francesco Guidolin no vestiário, durante um treino na semana da partida de volta do confronto eliminatório, no final de setembro de 2006, pela primeira fase do torneio.

O time italiano tinha a vantagem de ter ganhado por 1 a 0 o jogo em Londres.

“Guidolin entrou no vestiário com uma mala bem grande. Então ele tirou dela um rifle, apontou para os jogadores, inclusive para mim, e disse: ‘Nós os machucamos… Agora vamos acabar com eles!’.”, afirmou Amauri ao “Giornale di Sicilia”.

O efeito, entretanto, foi mais cômico do que intimidante, pelo menos para o brasileiro.

“Eu e o Fábio Simplício (volante, ex-São Paulo, já aposentado) seguramos a risada”, disse Amauri. “Mas é uma lembrança bacana, da qual me recordo com satisfação.”

Há inúmeras estratégias de motivação às quais treinadores recorrem antes dos jogos para que os comandados entrem em campo com força total. Apenas algumas fixam-se à memória. Como essa de Guidolin, totalmente heterodoxa, da qual Amauri se lembrou mais de uma década depois.

Francesco Guidolin, em entrevista quando era treinador do Swansea, do Reino Unido, em 2016 (Reprodução/Site do Swansea AFC)

Guidolin (hoje com 62 anos e sem clube) e sua arma apontada para os jogadores me levam a crer que os atletas se inspiraram na cena de vestiário e foram para a partida, na impossibilidade de usar rifles, com “a faca nos dentes” para finalizar o West Ham.

O Palermo não deu chance ao adversário. Ganhou por um contundente 3 a 0 e se classificou.

Na fase seguinte, de grupos, que correspondia às oitavas de final, a equipe ganhou um jogo, perdeu dois, empatou um e não avançou. O Sevilla, da Espanha, venceu essa edição da Copa da Uefa.

Em tempo: Hoje com 37 anos, Amauri está desempregado. Sua equipe mais recente foi o Cosmos, a mesma em que atuou Pelé nos anos 1970. O clube de Nova York o dispensou em agosto. Ele defendeu a Squadra Azzurra em uma única partida, em agosto de 2010. Jogou 59 minutos, tento Balotelli e Cassano como colegas no ataque, e não fez gol na derrota para a Costa do Marfim por 1 a 0, em amistoso.  

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