Portugal fica sem um dos Três Grandes em decisão doméstica pela 1ª vez em 18 anos
Os Três Grandes. Assim são conhecidos Benfica, Porto e Sporting em Portugal.
É fácil explicar o porquê. O Campeonato Português teve até hoje 82 edições. Dessas, o trio ganhou 80. O Benfica, atual tricampeão, 35 vezes; o Porto, 27; o Sporting, 18.
Os intrusos entre eles, donos de uma única conquista cada um, são o Belenenses, em 1946, e o Boavista, em 2001.
O domínio estende-se às outras competições nacionais. Portugal tem duas copas: a Taça de Portugal, disputada desde a primeira metade do século passado, e a Copa da Liga de Portugal, criada neste século.
Na primeira, o Benfica possui 25 títulos, e Porto e Sporting, 16 cada um. O Boavista aparece com 5 e outros nove clubes já venceram pelo menos uma vez. Na segunda, dos Três Grandes, apenas o Benfica ganhou: sete das nove realizadas – também triunfaram Vitória de Setúbal e Braga.
Nas copas, o formato de disputa favorece a ocorrência de zebras, pois os jogos são eliminatórios – do início ao fim (na Taça de Portugal) e nas etapas preliminares e na reta decisiva (na Copa da Liga, que tem uma fase de grupos antes das semifinais).
Mesmo assim, pelo menos um dos Três Grandes chegou à final de ambas nos últimos 18 anos.
Na Taça de Portugal, no já longínquo 1999, Beira Mar e Campomaiorense decidiram a competição, com vitória do primeiro. Desde então, ao menos um do trio participou da partida derradeira.
Na Copa da Liga, desde a primeira edição, em 2007/2008, Benfica, Porto ou Sporting (pelo menos um) estiveram no jogo da taça.
Isso até esta quinta (26). A escrita foi quebrada pelo Moreirense, que no estádio do Algarve, em São João da Venda, surpreendeu o Benfica, atual tricampeão e vencedor de sete dos nove torneios.
O Moreirense ganhou de virada, por 3 a 1, com dois gols do atacante ganês de 20 anos Emmanuel Boateng, que deve ter se tornado herói na pequena Moreira de Cónegos, que tem menos de 5.000 habitantes e abriga o modesto clube.

O triunfo do Moreirense, sobre o Benfica e sobre todos os prognósticos, o colocou na final da Copa da Liga – é a primeira decisão de uma história de 78 anos na qual os maiores feitos são dois títulos do campeonato da segunda divisão, em 2002 e em 2014.
Na fase de grupos, que antecedeu as semifinais, o Moreirense já havia eliminado o Porto, que como o Benfica continua vivo na badalada Liga dos Campeões da Europa. Classificou-se ao derrotá-lo por 1 a 0, gol de Chico Geraldes.
As vitórias contra Benfica e Porto foram inéditas. Em 19 partidas, jamais o Moreirense tinha superado os benfiquistas (16 derrotas e 3 empates). Contra os portistas, eram 10 derrotas e 3 empates.
Neste domingo (29), no mesmo estádio do Algarve, o Moreirense (que veste verde e branco como o Sporting, rival do Benfica em Lisboa) será novamente azarão, dessa vez contra o Braga (que veste vermelho, como o Benfica), que passou na semifinal pelo Vitória de Setúbal (algoz do Sporting na fase de grupos).
O Braga está em terceiro lugar no Campeonato Português (atrás de Benfica e Porto), com 36 pontos. O Moreirense soma 17 pontos, ocupa a pouco honrosa 15ª posição (à frente de Estoril, Nacional de Funchal e Tondela) e luta contra o rebaixamento.
Vencendo ou perdendo, o Moreirense será lembrado como o personagem que evitou, após quase duas décadas, que uma final de copa em Portugal tivesse um dos Três Grandes, tendo inclusive nocauteado dois deles pelo caminho.
Em tempo: Cinco brasileiros, desconhecidos de quase todos os fãs brasucas de futebol, jogaram pelo Moreirense na vitória sobre o Benfica na semifinal da Copa da Liga de Portugal. Foram titulares os zagueiros Diego Ivo e Diego Galo, o lateral-esquerdo Jander e o volante Cauê. O meia Nildo Petrolina entrou no segundo tempo.