Elogiado por Tite, Philippe Coutinho terá de mudar de posição para não concorrer com Neymar
Tite ouviu os apelos de boa parcela da opinião pública e da mídia (inluindo o meu) e aceitou comandar a seleção brasileira no lugar de Dunga.
Pouco depois do acerto com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), já botou mãos à obra: viajou aos Estados Unidos para acompanhar a reta final da Copa América Centenário. Quis observar adversários do Brasil nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018.
O trienador assistiu à semifinal em que o Chile superou a Colômbia por 2 a 0 e à final, na qual o Chile ganhou da Argentina nos pênaltis, por 4 a 2, depois de empate sem gols no tempo normal e na prorrogação.
No entanto, mais do que saber o que Tite pensa sobre os rivais, o que desperta curiosidade é saber o que ele pensa sobre a seleção brasileira. Quais jogadores terão chance com ele? Haverá muitos ou poucos remanescentes do conjunto que fracassou de forma retumbante na Copa América?
A resposta a essa pergunta ainda demorará algum tempo, já que a primeira convocação de Tite deve acontecer só em meados de agosto, para as partidas do começo de setembro contra Equador, como visitante, e Colômbia, como mandante.
Até lá, haverá muita especulação, e talvez o treinador dê entrevistas que indiquem com quem pretende contar.
Já há ao menos uma pista forte. Tite é admirador do meia-atacante Philippe Coutinho, de 24 anos, do Liverpool, sobre quem o técnico já disse: “Joga muito!”.
Com a ausência de Neymar da Copa América nos EUA (o Barcelona só o liberou para uma competição neste meio de ano, e a CBF optou pela Olimpíada do Rio), Philippe Coutinho ganhou a condição de titular, atuando na faixa de campo em que está acostumado: a esquerda do ataque. Que é o lugar favorito de Neymar.
Como é impensável que Neymar não seja convocado por Tite e muito menos que não seja titular, como fica a situação de Coutinho, de quem Tite é fã?
Vejo dois cenários.
O primeiro é com Neymar mantido na ponta esquerda, já que a tentativa, com Dunga, para que ele atuasse mais centralizado, como um falso centroavante, o fez perder rendimento.
Nesse caso, para ser titular, Coutinho teria de atuar como terceiro homem de meio-campo, o mais avançado deles. Ali, concorreria com Lucas Lima e/ou Renato Augusto. Pode dar certo? Pode. Mas precisará ser escalado assim nos treinos para ver se tem cacoete para armar, além de finalizar.
Pois o forte de Coutinho é a finalização, e ele é bom inclusive nos chutes de longa distância.
Apesar de franzino (1,71 m), o camisa 10 do Liverpool costuma arrematar com frequência, e com perigo, de fora da área. Fez vários gols assim pelo clube inglês e, pela seleção, marcou dois assim contra o Haiti na Copa América.
Ah, mas no Haiti? Sim, rival fragilíssimo, tanto que o Brasil goleou por 7 a 1. Só que, entre os brasileiros em campo nesse jogo, só Coutinho conseguiu fazer três gols.
A maior qualidade de Coutinho é pegar a bola na esquerda, partir em velocidade para o centro, em direção à grande área, e chutar de pé direito. Não há quem faça essa jogada com tanta eficiência quanto ele, nem mesmo Neymar.

No segundo cenário, Coutinho será reserva de Neymar.
Só que ser reserva de Neymar significa praticamente não jogar. Para tirar o principal jogador do time de campo, ou o jogo precisa estar definido (e o Brasil quase nunca tem conseguido ter boa vantagem no placar) ou ele tem de estar fazendo uma partida horrorosa (e, mesmo assim, não é fácil decidir substituir o craque, já que ele pode desequilibrar a qualquer instante).
Além disso, Coutinho pode nem ser o reserva imediato de Neymar.
Isso porque Douglas Costa também joga pelo lado esquerdo do ataque, é o setor onde teve suas melhores atuações (e foram várias) pelo Bayern de Munique na temporada 2015/2016.
Eis um quebra-cabeça difícil, porém interessante, para Tite montar. Dá para encaixar Coutinho no time ou não?
Como não é de hoje que o ex-treinador do Corinthians sonha dirigir a seleção (esperava assumir após a Copa de 2014, mas acabou preterido), ele deve ter pensado muito, e muitas vezes, a respeito de como escalar o ataque, de forma que o Brasil renda como todos esperamos.
Com ou sem Coutinho.