Nomes para Sempre – Filigrana
Na década de 1980, quando comecei a acompanhar futebol (o nacional, primordialmente, e o internacional, paulatinamente), era raro um clube brasileiro ter um estrangeiro no time.
Lembro-me do zagueiro uruguaio Darío Pereyra no São Paulo, do meia paraguaio Romerito no Fluminense, do goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez no Santos, do zagueiro uruguaio De León no Grêmio e do meia boliviano Aragonés no Palmeiras, entre (poucos) outros.
Era possível contar nos dedos os gringos nos elencos dos grandes clubes do país. Encontrar um deles em um time médio ou pequeno era raridade – recordo-me somente do atacante japonês Kazu, no XV de Jaú.
Já faz um tempo considerável, contudo, que as principais equipes nacionais têm quase sempre estrangeiros desfilando seu bom (ou muitas vezes ruim) futebol.
Na Brasileiro da Série A, dos 20 participantes, apenas um (o lanterna Atlético-GO) não conta com ao menos um forasteiro. Perto de 100% deles são de países da América do Sul.
Entre os mais conhecidos estão o peruano Paolo Guerrero (Flamengo, ex-Corinthians), o argentino Lucas Pratto (São Paulo, ex-Atlético-MG) e o argentino com cidadania paraguaia Lucas Barrios (Grêmio, ex-Palmeiras).
Entre os menos conhecidos está o colombiano Filigrana. Ele é atacante e defende o Coritiba desde o começo deste ano. Nunca foi convocado para a seleção de seu país, e por aqui é quase um anônimo.
Afirma o dicionário Houaiss que filigrana significa “aquilo que não tem importância ou valor; coisa reles, insignificante”.
No meu entender, viver no Brasil com um sobrenome depreciativo no idioma local oferece um risco de imagem considerável.
Uma ou mais atuações fracas serão a senha para a deflagração de comentários do tipo: “Também, com esse nome, o que poderia se esperar dele?”.
O jogador de 26 anos, porém, dá de ombros para essa possibilidade. A fim de evitar gozações ou críticas, declara que o caminho é “trabalhar e fazer muitos gols”.
Vestindo a camisa 90, Filigrana marcou no início deste mês, apenas dois minutos depois de entrar em campo, gol importantíssimo diante do São Paulo, calando mais de 50 mil torcedores tricolores no Morumbi.
O Coritiba, que está na luta contra o rebaixamento, ganhou de 2 a 1, e o gol da vitória foi de Filigrana. Aliás, o primeiro tento dele pelo time paranaense.
A seguir, a entrevista a “O Mundo é uma Bola” do robusto atacante de 1,80 m e 80 kg, que ainda busca espaço no time comandado por Marcelo Oliveira – não começou como titular nenhuma partida e jogou ao todo aproximadamente 100 minutos no Brasileiro (ou pouco mais que o tempo total de um jogo), que já está no segundo turno.
Qual seu ídolo de infância no futebol e quais os jogadores que mais admira atualmente?
Filigrana: Meu ídolo era Ronaldo Fenômeno. Atualmente admiro Luis Suárez (atacante uruguaio do Barcelona) e Radamel Falcao (atacante colombiano do Monaco).
Por que decidiu jogar no Brasil e por que a escolha foi pelo Coritiba?
Filigrana: Decidi vir ao Brasil porque acredito que, se for bem aqui, muitas portas se abrirão no mundo para mim. O Coritiba foi o primeiro a me dar essa chance.
Você já está no Brasil faz alguns meses. Tem jogado menos tempo que o desejado? Tem algo que você possa fazer para tentar ganhar mais espaço na equipe?
Filigrana: Sempre quero jogar, mas acho que tudo chega no momento certo. Estou trabalhando forte para ganhar mais espaço no time.
Qual foi a sensação de fazer o gol da vitória do Coritiba diante do São Paulo, no Morumbi?
Filigrana: De muita alegria, porque o time estava precisando da vitória.
No Brasil, filigrana quer dizer “sem importância, insignificante”. O que você pretende fazer para não fica marcado como um jogador que faz jus a esse significado?
Filigrana: Trabalhar e fazer muitos gols.
Qual seu melhor momento na carreira e quais seus objetivos no futebol?
Filigrana: O melhor momento foi em 2014, no Deportes Quindío (equipe da segunda divisão da Colômbia), quando fiz 15 gols no ano. Tenho o objetivo de ganhar espaço no futebol brasileiro e continuar a crescer profissionalmente.