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Presidente do Real Madrid banca Zidane ‘pelo resto da vida’, mas discurso é enganoso

Luís Curro

“Zidane pode ficar no Real Madrid pelo resto da vida, se quiser.”

A frase é do presidente Florentino Pérez, durante a festa do título pela 12ª conquista da Liga dos Campeões da Europa pelo clube espanhol.

No sábado (3), com ótima atuação no segundo tempo, o Real superou a Juventus em Cardiff (País de Gales) por 4 a 1 e faturou o mais importante interclubes do planeta.

O francês Zinédine Zidane, que com a bola nos pés foi um craque, um dos melhores futebolistas que já vi (defendeu os dois finalistas desta Champions League) – tendo ganhado uma Copa do Mundo (em 1998, quando destruiu o Brasil na decisão com dois gols de cabeça) e sido vice em outra (2006, quando foi expulso na final ao dar uma cabeçada proposital no peito do italiano Materazzi) –, vem tendo uma carreira de treinador surpreendentemente positiva.

Depois de assumir o lugar de Rafa Benítez no começo de 2016, em seu primeiro trabalho na elite, conquistou duas Ligas dos Campeões (100% de aproveitamento), um Mundial de Clubes, um Campeonato Espanhol e uma Supercopa da Europa. Em média, com Zidane, o Real não esperou nem três meses para erguer uma taça.

Um desempenho notável, raro, espetacular até.

E é devido a esse histórico que Florentino Pérez afirma bancar Zidane eternamente. É porém um discurso enganoso.

Em se tratando de um time de futebol, e em especial em se tratando de Real Madrid, um dos clubes mais endinheirados do mundo, o currículo tem importância bem limitada.

A sede de títulos é incessante, e, caso Zidane não mantenha sua performance vitoriosa, o presidente não hesitará em sacá-lo.

Pois a pressão exercida pela ultraexigente torcida (que não poupa nem seu superastro, o português Cristiano Ronaldo, vaiado muitas vezes no Santiago Bernabéu, o estádio da equipe) e por setores da mídia é imensa.

O Real tem de estar no topo sempre – se não, adeus treinador.

O próprio Zidane é realista. Sabe que não vai durar para sempre no cargo. “Não tenho medo de ser demitido”, disse ele em outubro passado à rádio RMC. “De alguma forma, acontecerá.”

Essa consciência e frieza fortalecem o francês de 44 anos. Certamente, trabalha com mais tranquilidade.

Lógico que o time ajuda – e como! Além de Cristiano Ronaldo, que será eleito mais uma vez o melhor do mundo, a maior parte da equipe é estrelada: Benzema, Sergio Ramos, Kroos, Bale, Marcelo, Modric… Zidane se dá ao luxo de deixar no banco (ou nem no banco, como na decisão da Champions) o excelente meia colombiano James Rodríguez.

E o Real ainda deve se reforçar para a próxima temporada com o goleiro De Gea, do Manchester United, que ocuparia o lugar do contestado (sem motivo) costarriquenho Navas.

Zidane tem elenco para lá de gabaritado. Tem um retrospecto invejável, de 68 vitórias, 15 empates e 8 derrotas. E tem estrela. Tudo isso é fato.

Porém futebol é resultado. Um dia, e ele pode nem estar muito longe, Zidane cairá.

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