Neymar mostrou, em 8 minutos, como a qualidade derrota a quantidade
Qualidade ou quantidade? Qual delas vale mais?
Neymar vinha, até a semana que passou, fazendo uma boa temporada pelo Barcelona.
Não espetacular, pois na comparação com as duas anteriores estão lhe faltando mais gols, mas uma temporada de grande valor, na qual vinha atuando como coadjuvante de luxo dos superartilheiros Messi e Suárez na equipe espanhola.
Antes da histórica partida Barcelona x Paris Saint-Germain, na quarta-feira (8), pela Liga dos Campeões da Europa, eu me preparava para escrever um texto que mostrava, pelo número de gols e de assistências, a diferença entre o Neymar 2016/2017 e o das temporadas anteriores no Barça.
Seria um contraponto à declaração do craque brasileiro, publicada no site do clube catalão no sábado (4): “Acredito que esta é a minha melhor temporada no Barça. Tanto eu quanto o time estamos melhorando, e isso é importante”.
Passadas menos de três semanas da goleada sofrida em Paris, 4 a 0, que deixava o Barcelona à beira da eliminação da Champions League, parecia um desatino.
Era claro que, em quantidade de gols, não era (e não é) a melhor temporada de Neymar.
Em 2016/2017, a média de gols por jogo dele, antes do duelo com o time francês no Camp Nou, estava em 0,38, similar à de sua temporada de estreia (2013/2014), 0,37. Com os dois tentos na partida de quarta, subiu para 0,43 (15 gols em 35 jogos).
Em 2014/2015, ele obteve o melhor desempenho: 0,79 gol por partida (41 gols em 52 jogos). Na de 2015/2016, caiu para 0,64 (32 gols em 50 jogos).
No número de assistências (passes que resultam em gols), sim, esta está sendo a mais produtiva temporada de Neymar, mas não por diferença gritante. Sua média em 2016/2017 é de 0,46 por jogo; ele encerrou 2015/2016 com 0,44.
Ou seja, não faz muito tempo, Neymar era tão bom garçom quanto hoje e muito mais artilheiro.
Qual conclusão eu tiraria? Que Neymar está errado. Que esta não é a melhor temporada dele no Barcelona. Que ele, por se mostrar menos goleador, regrediu.
Que está mais longe de ser o melhor jogador do mundo, de faturar a Bola de Ouro, prêmio que ele disse, em dezembro de 2016, ser “uma motivação”, mas que viria como “consequência de um trabalho” e que “não morreria” se ficasse sem.
Só que… eis que uma partida, uma solitária partida, pode ter o dom de mudar tudo. De atirar os números pelo ralo. De assassinar a estatística.

E, dentro dessa partida, que teve um total de 97 minutos (somados o tempo regulamentar e os acréscimo de cada etapa), bastaram oito minutos para que Neymar derrubasse uma análise.
Dos 43 minutos aos 50 minutos do segundo tempo, ele fez o que se esperava que Messi, eleito cinco vezes o melhor futebolista do planeta, pudesse fazer: dois gols, um de falta e um de pênalti, e a assistência para o gol decisivo, de Sergi Roberto. O gol que classificava o time.
Barcelona 6 x 1 PSG. Barça nas quartas de final da Champions.
Sergi Roberto ficou com a fama de herói, mas, sem Neymar, ele não marcaria o gol. E sem o quarto e o quinto gols, ambos de Neymar, o Barcelona estaria morto. Até então, estava.
Neymar foi o que mais acreditou na improvável classificação – talvez tenha sido o único a acreditar de verdade quando estava 3 a 1. Não desistiu por um único segundo. Chamou a responsabilidade.
A falta, até entendo ter sido ele a cobrar. O local favorecia um destro, não um canhoto (caso de Messi).
Mas e o pênalti? No momento de maior pressão, quem normalmente pega a bola e bate não é o melhor do time? Mas quem se apresentou foi Neymar, e o argentino (batedor oficial de penalidades no Barça) permitiu.
Por qual(is) razão(ões)? Até agora, não se sabe. Ouvi gente dizer que Messi pipocou. Se foi isso, jamais será dito, não a curto prazo. Seria vexaminoso para ele.
Melhor para Neymar, que, destemido, pôs a redonda na marca da cal e a mandou para o barbante.
O brasileiro encerrou sua noite de gala com o lançamento, milimétrico, para Sergi Roberto – que colaborou ao se esforçar, com um salto, para acertar a bola e sacramentar o até então tido como impossível. Foi a maior virada em uma mata-mata na história do interclubes europeu.
Depois da partida, Neymar declarou: “Foi meu melhor jogo”.
Pode até não ter sido, pois ele teve dezenas de excelentes atuações. Mas foi o jogo que ele mais desequilibrou, que mais fez a diferença para o Barcelona.
Pela personalidade de Neymar, estou certo de que ele nunca questionou a capacidade de ser decisivo, de ser o cara. Seu desempenho diante do PSG escancarou isso. Tem todas as condições físicas e técnicas para ser protagonista.
Então por que não é? Porque, enquanto o “extraterrestre” Messi estiver vestindo a camisa azul e grená, ele é que é o cara. Os demais, para ganharem mais holofotes que o camisa 10, só em regime de exceção.
Na quarta passada, essa exceção ocorreu. E Neymar ofuscou Messi, que nesta temporada já acumula 42 gols pelo Barcelona, 27 a mais que Neymar.
Quarta, 8 de março de 2017, foi o dia em que a qualidade derrotou a quantidade.
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Em tempo 1: Depois da brilhante atuação, o nome de Neymar começou a figurar como candidato a melhor do mundo. Na minha opinião, é cedo. Ele precisa fazer mais para se colocar à frente de Messi e de Cristiano Ronaldo, os favoritos de sempre. Neste ano, tem chance? Se repetir até o final da temporada a performance magistral, em partidas decisivas, sim. Se não, não.
Em tempo 2: O último brasileiro a faturar a Bola de Ouro foi Kaká, em 2007 – depois, só o CR7 e a “Pulga” ganharam. O ex-jogador de São Paulo, Milan e Real Madrid afirmou em entrevista à TV Record torcer para que Neymar triunfe. E fez uma sugestão que pode ajudá-lo: mudar o nome para “Reymar”. “Acho que, se ele mudasse o nome para Reymar, a chance seria grande. Todos os brasileiros que ganharam começam com a letra erre”, disse o hoje atleta o Orlando City (EUA). Foi uma brincadeira, mas há verdade na fala de Kaká. Romário, Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, todos nomes iniciados com a letra “R”, ganharam o prêmio. Kaká com “R”? Não, mas sim. Seu nome é Ricardo.