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Inconsequência em app deve encerrar carreira de lateral no PSG

Luís Curro

Serge Aurier é bom de bola. Lateral direito de 23 anos, forte e voluntarioso, marca e apoia muito bem. Jogou na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, como titular da seleção da Costa do Marfim.

Em junho de 2014, a revista britânica “FourFourTwo” assim o definiu: “Inquestionavelmente um dos melhores jovens defensores da Europa na atualidade, é a joia da coroa do Toulouse”.

Suas boas atuações pelo Toulouse chamaram a atenção do poderoso Paris Saint-Germain, também da França, que o contratou, primeiro por empréstimo e depois em definitivo, por cerca de € 10 milhões – havia rumores de que Real Madrid, Arsenal e Liverpool tinham interesse no atleta.

Na primeira temporada (2014/2015), ele foi a segunda opção do PSG – a primeira era Van der Wiel. Na atual, vinha deixando o holandês na reserva.

Enquanto se preocupava só em jogar futebol, tudo ia bem para Aurier. Só que no sábado (13) ele deixou a discrição de lado para, em uma sessão ao vivo de perguntas (feitas por fãs) e respostas no Periscope, aplicativo do ano em 2015, escancarar sua faceta inconsequente.

A picture taken on February 15, 2016 in Paris shows a person watching on a smartphone a replay of a live video recorded on February 13, 2016 by Paris Saint-Germain's defender Serge Aurier and a friend with the online app Periscope Paris Saint-Germain have suspended on February 15, 2016 defender Serge Aurier after he insulted coach Laurent Blanc and many of his team-mates in this video. The Periscope app allows people to broadcast live videos via their smartphones, which Aurier did as his friend, who was smoking a shisha pipe, asked him questions posed by fans. / AFP / LIONEL BONAVENTURE
Foto mostra pessoa vendo uma reprise da sessão de perguntas e respostas de Aurier no app Periscope (Lionel Bonaventure – 15.fev.2016/AFP)

Aurier fez críticas a colegas de time, entre eles Van der Wiel, o meia-atacante argentino Di María e o goleiro italiano Sirigu.

Até aí, tudo já era reprovável. O jogador criava uma tremenda saia justa e passaria a ser malvisto no elenco. Haveria sem dúvida problema de relacionamento.

Só que Aurier foi além. Chamou o treinador, o francês Laurent Blanc, de “maricas” e, ao ser questionado se o técnico fazia sexo oral no artilheiro sueco Zlatan Ibrahimovic, o principal astro do PSG, assentiu.

Conscientemente ou não, acendeu o pavio de um barril de pólvora. Só que quem estava sentado em cima do barril, a explodir em pouquíssimo tempo, era ele próprio.

No dia seguinte, ao saber das declarações de Aurier, a direção do PSG o suspendeu por tempo indeterminado – isso a dois dias da partida em Paris contra o Chelsea, a primeira das oitavas de final na Liga dos Campeões da Europa.

Na segunda (15), Blanc comentou o caso e considerou o comportamento do atleta “desprezível”.

“Como eu reagi? Pessimamente. Esse garoto, dois anos atrás, eu me comprometi a trazê-lo a Paris… e esse é o agradecimento que tenho?”, afirmou o técnico, campeão quando jogador na Copa do Mundo da França, em 1998 – era zagueiro titular, mas não atuou na final contra o Brasil por estar suspenso.

This file photo taken on April 14, 2015 shows Paris Saint-Germain's French head coach Laurent Blanc (R) talking to Ivorian defender Serge Aurier before a training session at the Camp des Loges in Saint-Germain-en-Laye, west of Paris. Paris Saint-Germain defender Serge Aurier could find himself in hot water after insulting manager Laurent Blanc and many of his team-mates in a live video he and a friend recorded with the online app Periscope late on February 13, 2016. The Ivorian at one stage appeared to describe Blanc as a "faggot", although he was not actually in shot at the time. / AFP / MIGUEL MEDINA
O marfinense recebe instruções do técnico Blanc em treinamento do PSG no ano passado (Miguel Medina – 14.abr.2015/AFP)

Aurier havia dado antes uma declaração de arrependimento à PSG TV: “Cometi um erro e estou aqui para pedir desculpas ao treinador, a quem devo muito, ao clube, aos meus companheiros e aos torcedores. Estou profundamente arrependido e aceito qualquer punição dada pelo clube. Estou preparado para as consequências”.

Uma consequência, é quase certo, será o desligamento do PSG. Mesmo tendo contrato por quatro anos, não há mais clima para Aurier continuar.

Será o preço a pagar por falar o que não deve.

Colega de Blanc no time campeão mundial há 18 anos, o ex-atacante Christophe Dugarry declarou ao Canal Plus que “não podemos mais aturar essa geração do ‘eu me desculpo’. Isso diz respeito a educação. Como se pode insultar alguém desse jeito? É insano”.

Recentemente, um outro jogador, Benito Raman, jovem como o marfinense, falou besteira e depois pediu desculpas. O Gent, da Bélgica, o puniu pela frase homofóbica dita após uma partida.

No caso do PSG, o cenário mais provável é Aurier passar a treinar separado do elenco e ser negociado na próxima janela de transferências, no meio do ano. Simultaneamente, pode ter de responder judicialmente se algum dos difamados decidir levar o caso aos tribunais.

Uma pena. Um jogador de comprovado potencial que caminha para encerrar precocemente a carreira em um dos melhores times europeus da atualidade.

A questão que ficará no ar é: que clube aceitará contratar um jogador cujo caráter passa a ser duvidoso e que ostenta essa mancha no currículo?

O recomeço para Aurier, se existir, será penoso.

Em tempo: Em campo, o PSG não se abalou com o caso e derrotou o Chelsea por 2 a 1 na partida de ida das oitavas da Champions League. O zagueiro brasileiro Marquinhos atuou improvisado na lateral direita.

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