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“Corpo fechado” fortalece o Leicester na busca de título inédito

Luís Curro

No famoso filme “Corpo Fechado” (2000), o personagem principal, David Dunne, interpretado por Bruce Willis, nunca se fere e nunca adoece. Nenhum tipo de mal ou perigo o afeta.

Olho para o Leicester City, a mais agradável surpresa do futebol europeu na temporada 2015/2016, e sou instado por mim mesmo a fazer uma analogia com esse longa-metragem dirigido pelo conceituado indiano M. Night Shyamalan.

O líder do Campeonato Inglês após 25 de 38 rodadas (com 5 pontos de vantagem sobre Tottenham e Arsenal) esteve nesta temporada praticamente imune a lesões, e isso tem permitido ao treinador Claudio Ranieri utilizar seu 11 ideal quase sempre.

Schmeichel; Simpson, Morgan, Huth e Fuchs; Mahrez, Kanté, Drinkwater e Albrighton; Okazaki e Vardy. Nas últimas cinco partidas da Premier League, Ranieri usou essa escalação.

Ao longo de todo o campeonato, foram raras as vezes em que ele se deparou com problemas.

A única contusão grave (muscular) foi a do lateral/ala esquerdo Schlupp, afastado do time desde a segunda semana de dezembro – deve estar recuperado no fim deste mês. Fuchs o substituiu com sobras. Ademais, Ranieri perdeu o volante Drinkwater por dois jogos em dezembro (lesão leve) e o zagueiro Huth por uma partida (suspensão).

Problemas mínimos, especialmente na comparação com os principais concorrentes à taça.

Jogadores do Leicester festejam o terceiro gol do time, feito por Huth, nos 3 a 1 no Manchester City (Martin Rickett - 6.fev.2016/Associated Press)
Jogadores do Leicester festejam o terceiro gol do time, feito por Huth, no 3 a 1 no Manchester City (Martin Rickett – 6.fev.2016/Associated Press)

O Arsenal, já é uma tradição, vive com a enfermaria lotada há anos. Perdeu um de seus jogadores que fazem a diferença, o chileno Alexis Sánchez, por quase dois meses (ele retornou no final do mês passado) e atualmente não pode contar com Cazorla, Wilshere e Welbeck, todos atletas de seleção. Também ficou sem o volante titular, Coquelin, por várias partidas.

No Manchester City, 6 pontos atrás do Leicester após perder, em casa, o confronto direto no sábado (6), o meia belga De Bruyne, contratação de 74 milhões de euros, não entrará em campo por pelo menos dois meses (joelho). O departamento médico está bem cheio. Kompany, Mangala, Nasri, Navas, David Silva e Bony, todos estão lá.

E o Tottenham passou a atuar sem seu principal zagueiro, o belga Vertonghen, que há duas semanas teve ruptura nos ligamentos do joelho e ficará bom tempo afastado dos gramados.

Há mais um fator, além do “corpo fechado”, favorável ao Leicester no curto prazo. Tanto Arsenal como Manchester City e Tottenham disputam outras competições, além do Inglês.

O Manchester City está na decisão da Copa da Liga Inglesa (contra o Liverpool), nas oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa e nas oitavas de final da Copa da Inglaterra.

O Arsenal se encontra na mesma situação do Manchester City, tirando a Copa da Liga; o Tottenham está vivo na Copa da Inglaterra e na Liga Europa.

O único foco do Leicester é a Premier League, e isso é um diferencial favorável. Os adversários, com mais competições, terão de revezar os titulares para não extenuar os jogadores e minimizar o risco de lesões.

Até pouco tempo atrás, estava difícil acreditar que o Leicester poderia ganhar pela primeira vez o Campeonato Inglês. Hoje, essa desconfiança se esvaiu.

Em “Corpo Fechado”, David Dunne convive com a dúvida, nele imbuída por Elijah Price (Samuel L. Jackson), um megafã de histórias em quadrinhos, de ser um super-herói, alguém indestrutível.

Indestrutível o Leicester não é. Mas futebol muitas vezes não é ser, e sim estar.

Vardy, Mahrez, o capitão Morgan, Schmeichel, Huth, Ranieri e cia. são atualmente todos “super” em um grupo que se mostra fabuloso (como os X-Men), destemido (como o Demolidor) e espetacular (como o Homem-Aranha).

Mais que tudo isso, exibe duas características, bem humanas, essenciais para atingir qualquer objetivo: determinação e fé.

Antes soava utópico, ou maluquice, imaginar o Leicester campeão. Agora, a cada dia que passa, a fantasia se veste de realidade. Começa a haver um clima de “eu acredito”.

É esperar, e ver, para crer.

O treinador italiano Claudio Ranieri durante a partida em Manchester (Jon Super - 6.fev.2016/Associated Press)
O treinador italiano Claudio Ranieri durante a partida em Manchester (Jon Super – 6.fev.2016/Associated Press)

Em tempo: Na transmissão de Manchester City 1 x 3 Leicester, Rodrigo Bueno, comentarista do Fox Sports, ao ver o figurino do treinador dos Foxes (Raposas), Claudio Ranieri, comparou-o a Mickey – não a principal criação de Walt Disney, mas o treinador do mais célebre pugilista das telonas, Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Interpretado por Burgess Meredith (1907-1997) em “Rocky”, filme de 1976, “Rocky 2”, de 1979, e outras sequências, Mickey conduziu o azarão Balboa ao título mundial dos pesos-pesados, superando o supercampeão Apollo, “O Doutrinador”. Com esse gorro e essa expressão, Ranieri, hoje com 64 anos, estava mesmo a cara de Mickey.

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