Quem é melhor? Brasil-1970 x Barcelona-2015
Tostão, um craque quando jogador e outro como cronista/comentarista (e também como médico e cidadão), escreveu em sua coluna desta quarta (23) que desistiu de fazer a comparação entre o Brasil de 1970 e o atual Barcelona, pois o futebol mudou muito ao longo dos anos.
É verdade, às vezes até parece um outro jogo, especialmente devido à dinâmica – atualmente, tudo se tornou bem mais veloz e mais pegado.
Eu não era nascido em 1970, mas assisti a Brasil 4 x 1 Itália. A TV Cultura, no programa “Grandes Momentos do Esporte”, reprisou a final dessa Copa, no México, em mais de uma ocasião. As outras partidas do Brasil nesse memorável Mundial vi os videoteipes, edições dos melhores momentos.
O Barcelona tenho visto com frequência, seus jogos são televisionados semana sim, semana sim. O último a que assisti foi no domingo (20), o 3 a 0 no River Plate, em Yokohama (Japão), a decisão do Mundial de Clubes.
Depois de ler o texto de Tostão, decidi comparar os dois times, jogador por jogador, mais o conjunto (somarei um ponto para cada escolhido nos duelos, e o “empate” dá um ponto para cada lado), e tentar definir o melhor.
É algo arriscado, que possivelmente gerará polêmica e discordância, mas por que não tentar?

O conjunto
Tanto o Brasil de 1970 quanto o Barcelona de 2015 foram espetaculares no conjunto. Os treinadores Zagallo e Luis Enrique armaram as equipes em um 4-3-3 (o Brasil alternava essa formação com o 4-4-2 ou o 4-2-4, a depender do momento da partida), com a diferença de o Barcelona, tão letal quanto o Brasil ao contra-atacar, conseguir ficar mais tempo com a posse de bola. A seleção brasileira, porém, era mais objetiva, mais “vertical”, mais aguda. Empate.
Goleiro – Félix x Bravo
Havia a impressão de que Félix era um dos pontos fracos daquele Brasil, mas, na Copa, fez boas defesas – uma, contra a Inglaterra, ótima. Há quem considere que tenha falhado no gol do Uruguai, na semifinal, e no da Itália. O chileno Bravo é muito seguro, suas atuações recentes o elevam à condição de um dos melhores goleiros da atualidade. Fico com Bravo.
Lateral direito – Carlos Alberto x Daniel Alves
Carlos Alberto talvez tenha sido o melhor lateral direito de todos os tempos. Tinha porte físico respeitável e vigor notável. Atacava e defendia com a mesma eficiência e era um líder dentro de campo, tanto que capitaneava aquele Brasil. Daniel Alves vai bem no apoio, mas peca com frequência na marcação. Carlos Alberto, com sobras.
Zagueiro – Brito x Piqué
Brito era um armário. Alto, forte, muito bom nas jogadas aéreas – e incansável. Piqué não chega a ser um armário, mas é também ótimo pelo alto, possui bom fôlego e tem muito, mas muito mais técnica do que Brito. Escolho Piqué.
Zagueiro – Piazza x Mascherano
Dois casos de volantes que passaram a atuar improvisados, mais recuados. Piazza, que começou a carreira como meia ofensivo, tornou-se um excelente volante. Tinha refinado toque de bola, grande visão de jogo, liderança. Sua adaptação à zaga não foi tão simples, mas ele não comprometeu na Copa. O argentino Mascherano viveu transformação parecida, só que se transformou em um grande beque. Muito menos técnico do que Piazza, tem raça de sobra (e, ultimamente, uma raça que não resulta em jogadas violentas) e um posicionamento invejável. Mascherano leva pequena vantagem.
Lateral esquerdo – Everaldo x Jordi Alba
Everaldo não era craque e sabia disso. Eficientíssimo na marcação, não se arriscava no apoio – antes de passar do meio de campo, entregava a bola aos organizadores (Gerson, Rivellino, Clodoaldo) e se sentia bem assim. Alba é um lateral completo: marca bem, tem poder de recuperação, é veloz, sabe driblar, tem bom passe, apoia com frequência e eficiência, vai à linha de fundo, aparece na área como elemento-surpresa. Alba, fácil.
Volante – Clodoaldo x Busquets
Clodoaldo era incansável na proteção aos zagueiros e sabia sair jogando, com passes e dribles quando necessário. Quase não ia ao ataque – o gol que fez na semifinal diante do Uruguai foi uma feliz exceção. Busquets é incansável na proteção aos zagueiros e sabe sair jogando, com passes – raramente dribla, não é uma característica dele. Quase não vai ao ataque e não me recordo de nenhum gol por Barcelona ou seleção espanhola que tenha sido importantíssimo. Clodoaldo.
Meia – Gerson x Rakitic
O Canhotinha de Ouro era um exímio organizador de jogadas e um líder nato em campo. Naquele Brasil, a bola quase sempre passava pelos seus pés. Cerebral, recebia a bola, tocava, recebia de volta, tocava… E, de repente, fazia um lançamento de 40 metros com a mesma facilidade de quem dá um passe de 4 metros. Simultaneamente a tudo isso, falava, falava muito, insistentemente, orientava os companheiros a cada segundo. O croata Rakitic, o sucessor de Xavi no meio-campo do Barça, é ótimo jogador, mas compará-lo com Gerson, tanto na técnica como na personalidade, é covardia. Gerson, fácil.
Meia – Rivellino x Iniesta
Um duelo difícil, pois são jogadores de características muito distintas. Rivellino era um guerreiro: explosivo, temperamental, driblador, dono de um potentíssimo chute de esquerda, tanto que seu apelido era “Patada Atômica” – e adorava finalizar. O destro Iniesta é símbolo do estilo tiki-taka do Barcelona, o jogo da paciência, da posse e do toque de bola, do envolvimento e rendição do adversário. Parece preferir a assistência a fazer o gol. É também a calma em pessoa, talvez nunca tenha gritado com um companheiro na vida. Nesse caso, empate.
Atacante – Jairzinho x Suárez
Jairzinho, o Furacão da Copa, fez gol em todas as partidas do Brasil no Mundial de 1970 – sete gols no total. Foi um monstro na ponta direita. Ao disparar com a bola nos pés, driblando, ou ao receber lançamento no mano a mano com o(s) adversário(s), era imparável. Era fominha e podia ser, pois finalizava muito bem. O uruguaio Suárez, o Pistoleiro (ou o Canibal), é tão driblador quanto Jairzinho, tão bom finalizador quanto Jairzinho, tão fominha quanto Jairzinho e fez gol em todas as partidas do Barcelona no Mundial de 2015 – cinco gols no total. Mas é menos letal no mano a mano e também mais esquentado, apesar de viver fase de calmaria. Por muito pouco, Jairzinho.

Atacante – Tostão x Messi
Tostão era (e é) canhoto. Messi é canhoto. Tostão era (e é) “baixinho”: 1,72 m. Messi é “baixinho”: 1,70 m. Tostão era cerebral, antevia as jogadas. Messi é cerebral, antevê as jogadas. Tostão gostava de jogar de primeira, com dois toques. Messi gosta de jogar de primeira, com dois toques. Tostão era artilheiro, porém não fazia quase gols de cabeça. Messi é artilheiro, porém não faz quase gols de cabeça. Tostão pensava mais no time que em si próprio, e isso não lhe tirava o brilho. Messi pensa mais no time que em si próprio, e isso não lhe tira o brilho. Ambos fora de série, ambos muito parecidos em muitos quesitos. O argentino, contudo, ganha na velocidade, ganha no drible, especialmente no drible correndo com a bola, e é bem mais goleador. Messi.
Abstenho-me de comentar para não humilhar Neymar. É um supercraque, está em franca ascensão, mas ele mesmo sabe o seu lugar em relação ao Rei. Daqui a uns quatro ou cinco anos, quem sabe seja possível iniciar uma comparação. Pelé.
Feita a conta, dá empate: 7 a 7.
Estou surpreso com o resultado. Eu esperava, quando idealizei esse confronto, que o Brasil de 1970 ganhasse – não só desse Barcelona, mas de qualquer outro time ou seleção na história. Conclusão: o atual Barcelona é mesmo espetacular.
Em tempo: Por que não confrontei Messi com Pelé? Foi proposital. Não quis fazer isso, não agora. O leitor pode dar sua opinião, se assim desejar.