Técnico recompensa líder do Inglês com pizza e cerveja
Um time que usa uniforme azul-escuro lidera o Campeonato Inglês após 13 de 38 rodadas rodadas, com 28 pontos (8 vitórias, 4 empates, 1 derrota). Qual é?
Quem conhece as cores dos clubes da terra da Rainha, porém não está inteirado do que se passa na temporada 2015-2016, responde sem pestanejar: o Chelsea.
E erra.
A equipe londrina comandada pelo treinador português José Mourinho, atual campeã da Premier League, teve um péssimo início e flertou com a zona de rebaixamento. Atualmente, ocupa a pouco honrosa 15ª colocação na tabela, com 14 pontos.
Ok, então a outra opção possível, apesar de não muito provável, é o Everton, a segunda força de Liverpool, a terra dos Beatles, cujos jogadores também se vestem com esse tom de azul.
Novo erro.
O Everton está em sétimo lugar, posição na qual geralmente costuma estar (ou em sexto, ou em oitavo, nessa faixa, quase nunca melhor, quase nunca muito pior). Tem 20 pontos.
O líder, surpresa geral, é o pequeno Leicester, clube que lutou bravamente na temporada anterior para conseguir escapar do rebaixamento.

Sempre quando algum time fora do rol dos favoritos (que na Inglaterra costumam ser Manchester United, Manchester City, Chelsea, Arsenal e Liverpool) desponta, pergunta-se por quê.
No caso do Leicester, é difícil achar uma explicação consistente, definidora. O time não tem grandes craques e seu treinador, Claudio Ranieri, de 64 anos, que chegou ao clube para esta temporada, não é badalado.
A força da equipe está no conjunto, já que o time titular foi pouco modificado em relação ao de 2014-2015, e na fase estupenda de Jamie Vardy, o artilheiro da Premier, com 13 gols – média, ótima, de um por jogo.
O esquema tático, esse foi mexido. O inglês Nigel Pearson encerrou o campeonato escalando o Leicester no 3-5-2, com Schmeichel; Wasilewski, Huth e Morgan; De Laet (Albrighton), Cambiasso, Mahrez (Drinkwater), King e Schlupp; Ulloa (Nugent) e Vardy.
O italiano Ranieri adotou o 4-4-2, com a seguinte base: Schmeichel; Simpson, Huth, Morgan e Fuchs; Albrighton, Kanté, Drinkwater e Mahrez (Schlupp); Okazaki (Ulloa) e Vardy.
A única perda significativa foi o veterano argentino Cambiasso, de 35 anos, que sabe jogar (defendeu por anos a Inter de Milão e hoje está no Olympiakos), mas o francês Kanté, de 24 anos, tem feito muito bem o papel de um dos volantes.
A defesa não tem sido o ponto forte (já sofreu 20 gols), porém o ataque tem compensado (28 gols, mais de 2 por partida, em média). O argelino Mahrez, como Vardy, atravessa ótima fase, tendo marcado 7 gols mesmo nem sempre começando como titular, além de já ter dado 6 assistências, a segunda melhor marca da Premier, atrás da do alemão Özil, do Arsenal (11).
Ranieri, além de conseguir armar decentemente o Leicester, mostra-se um motivador de qualidade, sendo elogiado pelo goleiro Kasper Schmeichel.
“Ele (Ranieri) é capaz de falar a língua de cada jogador, e isso faz a diferença”, afirmou o filho de Peter Schmeichel, arqueiro titular do Manchester United na década de 1990 e da seleção dinamarquesa eliminada pelo Brasil nas quartas de final da Copa da França-1998 em um jogo muito disputado (3 a 2).

Não só no papo o italiano mostra ser diferente.
Como recompensa nas partidas em que o Leicester não toma gol, a pizza (prato típico da Itália), em um restaurante da cidade que fica no centro da Inglaterra, é por conta do chefe.
Eis as palavras de Ranieri para justificar a escolha pela redonda como prêmio: “O que estamos fazendo aqui (no time) é como fazer uma pizza. É preciso ter os ingredientes certos: primeiro, espírito de grupo; segundo, ser intenso nos treinos; para completar, uma pitada de sorte. E os torcedores são o tomate. Sem tomate não há pizza”.
No último jogo, uma convincente vitória por 3 a 0 sobre o Newcastle, fora de casa, o treinador foi além no agrado.
Na viagem de volta, de ônibus, distribuiu cerveja aos pupilos. (Sabe-se que no Reino Unido o “segundo esporte” dos futebolistas é tomar cerveja; que é possivelmente o “primeiro esporte” da população masculina.)
Em recentes entrevistas, treinadores de renome comentaram o momento do Leicester.
Arsène Wenger, o francês que desde 1996 treina o Arsenal, declarou que não se pode descartar o azarão na disputa pelo título.
Mourinho não falou abertamente, mas o bom entendedor conclui que ele considera o Leicester um cavalo paraguaio. O português disse não ver chance alguma de o Leicester ser campeão inglês.
Nem eu.
Nem Ranieri. “Agradeço a Arsène, mas ele é um piadista. Nossa meta (na temporada) é fazer 40 pontos.”
Modéstia é bom, mas nem tanto. Nesse ritmo, essa marca será superada com facilidade. Até porque fazer 40 pontos é piorar em relação a 2014-2015, quando o Leicester somou 41 pontos e terminou a Premier em 14º lugar.

Em tempo: Um teste real para o Leicester ocorre neste sábado (24), quando a equipe recebe o vice-líder Manchester United (27 pontos) no estádio King Power. A ESPN Brasil transmite a partida, às 15h30 (de Brasília). Missão impossível? Nada disso. Na mesma arena, no dia 21 de setembro de 2014, o time de azul-escuro superou o de vermelho por 5 a 3 – um gol foi de Vardy.