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Com Neymar, Dunga ensina como desperdiçar 45 minutos

Luís Curro

Neymar, disparado o melhor jogador da seleção brasileira, está fora das duas primeiras partidas da equipe nas eliminatórias para a Copa da Rússia-2018, em outubro.

Para quem não lembra, ao ser expulso na Copa América contra a Colômbia, foi suspenso pela Conmebol (entidade que controla o futebol na América do Sul) por quatro partidas oficiais. Já cumpriu duas, na própria Copa América, e faltam duas. A CBF até recorreu à Fifa, mas não adiantou.

Assim, nos amistosos contra Costa Rica e EUA, o que Dunga tinha de fazer? Usar o máximo de tempo possível para testar o time SEM Neymar. A fim de visualizar alternativas para o Brasil tentar render na largada das eliminatórias SEM Neymar.

Mas Dunga não resistiu e trocou o SEM pelo COM.

Diante dos costarriquenhos, no sábado (5), até que o treinador aguentou bem: o craque do Barcelona só foi a campo aos 34 minutos do 2º tempo. Jogaram no setor ofensivo William, Hulk e Douglas Costa. Também tiveram chance Philippe Coutinho, Kaká e Lucas. Sem Neymar, Brasil 1 a 0 (Hulk, no começo do 1º tempo). Com Neymar, Brasil 1 a 0.

Contra os EUA, nesta terça (8), porém, Dunga fez o quê? Já no intervalo, com Brasil 1 a 0 (Hulk, de novo, no começo do 1º tempo) , colocou Neymar – saiu William. E COM Neymar o Brasil deslanchou.

Logo aos 5 minutos, sofreu pênalti que ele mesmo bateu: 2 a 0. Neymar jogou muito bem, tanto que participou indiretamente do terceiro gol e ainda marcou o quarto. Com ele em campo, até quem está ao seu redor cresce.

Neymar celebra gol em Foxborough, no amistoso contra os EUA (Leo Correa/MoWA Press)
Neymar celebra gol em Foxborough, no amistoso contra os EUA (Leo Correa/MoWA Press)

Ótimo! Dunga transformou um 1 a 0 apertado em um 4 a 1 folgado.

Mas qual o sentido disso? Diante de Chile e de Venezuela, daqui a um mês, o Brasil vai estar SEM Neymar. Contra os norte-americanos, Kaká e Philippe Coutinho, que podem ser opções para essas partidas, esquentaram o banco. Não puderam nem mesmo mostrar, ao menos pelo desempenho nesse amistoso, se têm condições de serem novamente convocados.

Eu até questionei a inclusão de Neymar nessa última lista de Dunga. O treinador disse que era melhor para o camisa 10 estar com o grupo, que seria mais produtivo para ele treinar com a seleção em vez de ficar em Barcelona com poucos jogadores, já que o clube espanhol cede boa parte de seus atletas para várias seleções nas datas Fifa.

Até aí, treinar com os companheiros de seleção e ganhar entrosamento com eles, tudo bem. Não precisava, e não tinha, que entrar nos jogos. Neymar não precisa provar nada a ninguém. Todo mundo sabe o quanto ele joga. Não corre nenhum risco de perder a titularidade quando estiver apto a atuar nas eliminatórias.

Então, por que Neymar entrou?

1) Dunga quis agradar aos torcedores? Afinal, quem não quer ver um dos melhores do mundo desfilar seu futebol? Tostão, em recente coluna, disse que as convocações de Neymar e Kaká fazem parte de um pacote comercial.

Não acredito nessa hipótese (a de agradar aos torcedores, independentemente do fator comercial resultante da convocação). Dunga não é de jogar para a torcida. É pragmático ao extremo.

2) Dunga quis que Neymar lhe desse alívio? Pois, com o atacante, lógico que a chance de o Brasil ganhar aumenta.

Acredito nessa hipótese. Dunga tem repetido que no futebol se depende de resultados. Vencer, e vencer bem, assegura continuidade. Afasta dúvidas e questionamentos.

O Brasil venceu bem os EUA, e Dunga certamente ficou satisfeito. É evidente que com Neymar o Brasil vira um outro time, a melhora é nítida. O 1 a 0 se transforma em goleada como num passe de mágica.

Só que… Dunga poderia até perder de virada para os EUA que não seria dispensado da seleção. Ele sabia disso, não dá para conceber que pudesse ver seu cargo em risco.

Depois dos 4 a 1, Dunga disse sobre Neymar: “O bom é contar com ele juntamente com os demais, mas, quando não estiver, temos que estar preparados”. Isso mesmo! O Brasil tem que estar pronto para jogar SEM Neymar. Essa é a conclusão correta. Os amistosos eram para isso!

Se Dunga queria alívio, teve. Um alívio desnecessário. Foram 45 minutos (mais acréscimos) jogados fora na busca por formar um ataque decente, um ataque SEM Neymar.

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