Morto aos 64 anos, Paolo Rossi está no pódio dos algozes do Brasil em Copas

Paolo Rossi, morto nesta quarta (9) aos 64 anos, de câncer no pulmão, ocupa lugar de destaque entre os maiores carrascos do Brasil em Copas do Mundo.

O italiano está no pódio, na companhia do uruguaio Alcides Ghiggia (1926-2015) e do francês Zinédine Zidane. Se em primeiro, segundo ou terceiro lugar, depende do analista.

Ghiggia marcou o gol que deu a seu país a surpreendente vitória por 2 a 1 no jogo decisivo da Copa de 1950, em um Maracanã lotado. A derrota brasileira ficou conhecida como Maracanazo.

Zidane fez dois gols, ambos de cabeça, após cobranças de escanteio, que abriram caminho para os franceses ganharem dos brasileiros, por 3 a 0, a final da Copa de 1998, no Stade de France, na Grande Paris.

Paolo Rossi, então com 25 anos, destruiu o futebol arte da seleção de Telê Santana, com Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e companhia, ao marcar três vezes no triunfo por 3 a 2 da Itália no estádio Sarriá, em Barcelona, em duelo que valia vaga nas semifinais da Copa de 1982, na Espanha.

Por não ter sido uma decisão de Copa, pode-se intuir que Paolo Rossi fique com “a medalha de bronze” da disputa, deixando o topo do pódio para Ghiggia ou Zidane.

Mas, para toda uma geração (formada pelos nascidos de 1965 a 1975, aproximadamente) que chorou copiosamente no dia 5 de julho de 1982, na derrota conhecida como “Tragédia do Sarriá”, não há dúvida de quem é “o” carrasco.

Naquele dia, uma nação alegre, vestida de verde e amarelo, subitamente se abateu, tornou-se soturna, cinza. E por culpa de um único homem.

Paolo Rossi anotou de cabeça (1 a 0), depois em chute da meia-lua (2 a 1), no primeiro tempo. E sacramentou a eliminação do Brasil, que jogava pelo empate, ao finalizar da pequena área (3 a 2) no segundo tempo.

Todos os gols se originaram em falhas/distrações da defesa (Luisinho no primeiro e no terceiro; Cerezo no segundo; Júnior no terceiro), o que de forma alguma reduz o mérito de Paolo Rossi.

Que por muito pouco não esteve na Copa espanhola, o que o impediria de escrever esse capítulo triste na história da seleção brasileira.

Ele só pôde ser convocado porque sua suspensão do futebol foi reduzida em um ano –de três para dois– a menos de dois meses do Mundial. O atacante havia sido punido por participação no escândalo de manipulação de resultados conhecido como Totonero.

A atitude do treinador Enzo Bearzot foi considerada arriscada, devido à longa inatividade do jogador.

Nas palavras de Paolo Rossi, em entrevista ao programa Seleção SporTV, em 2018, a atuação contra o Brasil foi a primeira das três que mudaram sua vida no intervalo de apenas uma semana, e ele considera o primeiro gol, logo aos 5 minutos, o mais importante de sua carreira.

“Eu me sentia um peso para a equipe até então. Porque todos me pediam gol, o técnico, os torcedores, e eu não conseguia.”

Depois de eliminar o Brasil, o camisa 20 fez o mesmo com a Polônia, na semifinal, marcando os dois gols do confronto. Na decisão, contra a Alemanha Ocidental, de novo balançou as redes, abrindo o caminho para a vitória por 3 a 1 que rendeu à Azzurra o tricampeonato.

De um “fantasma”, como afirmou que era visto, tornou-se de repente “um grande jogador, campeão do mundo e artilheiro”. “Minha vida mudou completamente.”

Uma vida que começou a mudar diante de uma seleção que era por ele considerada mítica.

Paolo Rossi cresceu admirando o futebol brasileiro, sendo que, quando tinha 10 anos, viajou com seu pai a Florença para ver um jogo do Santos de Pelé contra a Fiorentina.

Encantou-se mais ainda com o Brasil que conquistou a Copa de 1970, no México, superando na final a sua Itália (4 a 1). “Eu lembro tudo [dessa partida] e cresci com esse mito.”

Mito que ele desconstruiu 12 anos depois, com a melhor atuação de sua vida. “Podemos dizer que o orgulho daquela Copa do Mundo foi ter vencido o Brasil. Quanto maior o adversário, maior a glória.”

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Em tempo: Diferentemente do que alguns pensam, Paolo Rossi não foi o jogador que mais gols fez no Brasil em um jogo de Copa do Mundo. No Mundial de 1938, na França, o Brasil ganhou da Polônia num épico 6 a 5, nas oitavas de final, após prorrogação, em Estrasburgo. Quatro dos gols poloneses foram do atacante Ernest Wilimowski.