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Casillas pendura oficialmente as luvas lembrando seu último voo

O voo é relacionado aos pássaros. Também aos aviões. Também a Michael Jordan, que a metros de distância flutuava até a cesta para dar enterradas espetaculares na NBA.

E também aos goleiros. Com saltos, os guarda-metas deixam o solo para realizar grandes defesas, agarrando a bola ou espalmando-a para longe da meta.

Logicamente, muitas vezes os saltos são em vão, e a redonda acaba no filó –e é bom que isso aconteça, afinal, apesar de as defesas dos arqueiros, em especial as plásticas, serem muito apreciadas, raramente gosta-se de jogo que acaba 0 a 0.

Iker Casillas publicou nesta quarta (1º) em uma rede social um post em que aparecia sozinho, de camisa e boné, em um estádio, arquibancadas vazias ao fundo.

Nada que lembrasse o goleiro que capitaneou a seleção espanhola às maiores conquistas de sua história: a Copa do Mundo de 2010 e as Eurocopas de 2008 e de 2012.

Um dos melhores goleiros deste século, juntamente com o alemão Neuer e o italiano Buffon, Casillas parecia conformado na foto, semblante calmo mas com um quê de melancolia.

Estava na arena onde, pouco mais de um ano atrás, jogou sua última partida de futebol. No título do post, somente três palavras: “O último voo”.

Em 26 de abril de 2019, no estádio dos Arcos, o campo do Rio Ave, na cidade de Vila do Conde, o Porto de Casillas empatou por 2 a 2 pelo Campeonato Português.

Para infelicidade do goleiro, e do time visitante, o gol de empate, o derradeiro sofrido por Casillas, saiu aos 45 minutos do segundo tempo. Foi de um obscuro brasileiro, Ronan, em chute desviado em outro brasileiro, Alex Telles (lateral que chegou à seleção brasileira), que encobriu o camisa 1.

Era uma sexta-feira, e cinco dias depois Casillas sofreu um infarto do miocárdio em treinamento do Porto. Recuperou-se do susto, mas não mais entrou em campo pela equipe que veste azul e branco.

Casillas, no hospital, depois de sofrer um infarto no ano passado (Reprodução/Instagram)

Nesta semana, o contrato do espanhol, que passou a fazer parte da comissão técnica da equipe no começo da temporada 2019/2020, com o clube, pelo qual conquistou o campeonato nacional em 2018, chegou ao fim.

E assim, oficialmente e sem alarde, terminou sua carreira como jogador de futebol. As luvas, que não mais foram usadas em uma partida, estão definitivamente penduradas.

Casillas é um dos maiores ídolos da história do Real Madrid, time que defendeu de 1990 a 2015, tendo estreado na equipe principal em 1999, aos 18 anos de idade.

Pelo Real, ganhou três Ligas dos Campeões da Europa, um Mundial de Clubes, uma Copa Intercontinental e cinco Campeonatos Espanhóis, entre outros títulos. Vestiu a camisa merengue 725 vezes, ficando atrás apenas do ex-atacante Raúl (741).

Na seleção espanhola, pela qual atuou em quatro Copas do Mundo, Casillas também só não atuou mais que um jogador. Vestiu a camisa da Fúria em 167 ocasiões; o zagueiro Sergio Ramos, em 170.

Foi eleito o melhor goleiro pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol) cinco vezes, de 2008 a 2012, um recorde, e integrou a Equipe do Ano da Uefa (entidade que rege o futebol europeu) seis vezes, de 2007 a 2012, igualmente um recorde.

Casillas e Buffon se cumprimentam em Porto 0 x 2 Juventus, no estádio do Dragão, em partida da Champions League (Miguel Vidal Livepic – 22.fev.2017/Reuters)

Os feitos de Casillas, hoje com 39 anos, ganham proporção maior devido à sua altura. Com 1,82 m, ele é considerado baixo para a posição de goleiro.

Todos ainda na ativa, Neuer tem 1,93 m, Buffon, 1,92 m, e o brasileiro Alisson, o atual melhor do mundo, 1,91 m.

Sem ser um gigante na compleição física, o discreto, sóbrio, seguro e vitorioso Casillas foi um gigante entre as traves. Um gigante “alado”, cujos voos jamais serão esquecidos.

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