Coronavírus é psicose, diz presidente de Belarus, e futebol não para
Na contramão de quase todos os países do mundo, que desde a eclosão da pandemia de coronavírus interromperam suas atividades esportivas, Belarus decidiu que a bola deve continuar rolando.
E continua. Com público nos estádios, inclusive.
Para Alexander Lukashenko, 65, presidente da ex-república soviética desde 20 de julho de 1994 –ou seja, há mais de 25 anos–, o vírus, que já matou mais de 23 mil pessoas em todo o planeta (77 no Brasil) e infectou mais de 510 mil, não é perigoso.
“É apenas mais uma psicose, que beneficiará algumas pessoas e prejudicará outras. O mundo civilizado está pirando. É uma completa estupidez fechar as fronteiras. O pânico pode nos machucar mais do que o vírus em si”, declarou.
Ele sugeriu à população deixar os temores de lado, beber uma boa dose de vodca diariamente, ir à sauna de duas a três vezes por semana e continuar as atividades nas fazendas, pois “trabalho duro e um trator curam qualquer coisa”.

Ao saber disso, foi impossível não lembrar do que disse nesta semana, em rede nacional, o presidente Jair Bolsonaro, que se referiu ao coronavírus como “um resfriadinho” –ressalte-se que o capitão reformado se nega a mostrar exame que comprove que ele não esteja infectado.
Assim, alheio às preocupações e às prevenções ao seu redor, o campeonato de Belarus, que tem 16 times, deu a largada normalmente na quinta-feira da semana passada. A segunda rodada começa nesta sexta (27), com duas partidas.
Seu time mais conhecido é o BATE Borisov, campeão nacional de 2006 a 2018. A sequência foi rompida em 2019 pelo Dinamo Brest.
O cenário é tão inusitado que seu mais famoso futebolista (ao menos neste século), o meia Alexander Hleb, 38, brincou com a situação, citando os dois melhores jogadores da atualidade.
“Todos deveriam ir para a frente da televisão e nos ver. Talvez Messi [Barcelona] e Cristiano Ronaldo [Juventus] possam vir para cá para continuar a jogar. Quem sabe?”, disse ele ao tabloide inglês “The Sun”.
Hleb, que atuou pelo Arsenal de 2005 a 2008 e também teve uma passagem pelo Barcelona, defende atualmente o Isloch, de seu país.
“É o único lugar na Europa em que você pode jogar futebol. Pelo menos as pessoas em Belarus estarão felizes.”
Pode até ser que, por algum milagre da natureza, os torcedores que forem aos estádios saiam ilesos ao contagioso vírus.
Mas fica registrada a irresponsabilidade do presidente, por ignorar uma patologia que pode tirar vidas de seu povo, e do jogador, por brincar com um caso sanitário seriíssimo.

Em tempo: Não é só em Belarus que o futebol não parou. Na Nicarágua (América Central), no Burundi (África), no Turcomenistão e em Mianmar (Ásia) os jogadores –muitos deles, angustiados, só jogam porque sofreram ameaça de perder o emprego– continuam correndo atrás da bola, sem que as autoridades deem bola para a corrida perturbadora do coronavírus.