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Espanha inova e polemiza com Supercopa inchada na Arábia Saudita

Disputada historicamente, até 2017, com jogos de ida e volta entre os participantes, a Supercopa da Espanha sofreu uma mudança drástica nesta temporada.

Em troca de uma bela injeção de dinheiro, a RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol) fechou contrato com a Arábia Saudita por três anos para que a competição seja realizada no país do Oriente Médio.

A saída de solo espanhol – que não é uma novidade, pois já tinha ocorrido em 2018, com a decisão em jogo único em Marrocos – veio acompanhada de um inchaço: quatro clubes na disputa do troféu, e não mais dois, que eram os vencedores do Campeonato Espanhol e da Copa do Rei.

E acompanhada igualmente de polêmica, já que a Arábia Saudita é censurada por entidades de direitos humanos devido à política do país em relação ao tema.

O regime saudita, liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, é acusado de repressão ferrenha a ativistas pacíficos (com condenações a longas penas de prisão), de alimentar a guerra no Iêmen (com bombardeios que têm matado civis), de discriminar sistematicamente as mulheres e de ser um dos líderes mundiais na prática da pena de morte, entre outras crueldades.

Em outubro de 2018, o jornalista Jamal Khashoggi, de 59 anos, foi morto dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul (Turquia), em caso que causou grande repercussão no planeta. Ele seria opositor ao governo de Bin Salman.

O jornalista Jamal Khashoggi, morto no consulado da Arábia Saudita na Turquia em 2018 (Mohammed Al-Shaikh – 15.dez.2014/AFP)

A Anistia Internacional liderou as críticas à decisão da RFEF de dar cartaz ao governo saudita – que tentaria amenizar, por meio de destacados eventos esportivos (no futebol, no boxe, no golfe e no turfe), a imagem de violadora de direitos humanos – e cobrou de astros como Messi uma atitude.

“Se um jogador como Messi disser, por exemplo, algo sobre a ultrajante prisão de Loujain al-Hathloul, mulher saudita ativista dos direitos humanos, seria um lembrete importante às autoridades do país de que a terrível repressão não está passando despercebida”, afirmou Felix Jakens, representante britânico da Anistia.

Contudo a chance de o craque argentino, ou qualquer outro jogador do Barcelona, do Real Madrid, do Atlético de Madrid ou do Valencia se pronunciarem é irrisória. Certamente eles estão instruídos a falar o mínimo possível, e apenas sobre futebol.

A questão financeira prevalece, conforme frisou o técnico do Barça, Ernesto Valverde, que fugiu do script e deu uma cutucada na opção da RFEF por realizar a competição fora da Espanha.

“Temos que manter na cabeça que o futebol é hoje uma indústria que está sempre buscando novos meios de arrecadação. É assim que é”, afirmou em entrevista na véspera de Barcelona x Atlético, que será nesta quinta (9) em Jiddah, a cidade-sede da Supercopa.

“É estranho para mim ter quatro times [na disputa]”, prosseguiu o treinador. “Se eu pudesse escolher, preferiria o formato anterior.”

O treinador do Barcelona, Ernesto Valverde, durante treino em Jiddah com a presença de Messi (segundo da dir. para a esq.) e outros jogadores do time (Sergio Perez – 8.jan.2020/Reuters)

Quem também se posicionou do lado dos opositores foi o presidente da Liga de Futebol Profissional, que organiza a primeira e a segunda divisão na Espanha.

Javier Tebas afirmou que há muito tempo uma TV pirata saudita transmite sem autorização a programação de futebol de uma emissora que tem contrato com a Liga. “Não é o melhor momento para jogar na Arábia Saudita. É um país que pirateia o futebol europeu.”

A RFEF dá de ombros para as críticas e tem certeza de ter tomado a decisão certa.

Luis Rubiales, que preside a federação, argumenta que o dinheiro recebido dará um impulso adequado a quem precisa na Espanha.

“É lógico que dinheiro é importante, quem pode negar? É muito importante e irá para onde ele é necessário: para o futebol feminino e para os clubes da segunda e da terceira divisão.”

A RFEF destacou também o acordo com o governo saudita para que as mulheres tivessem livre acesso às partidas da Supercopa.

“As mulheres poderão entrar nesses eventos”, disse Mansour bin Khalid, embaixador da Arábia Saudita na Espanha, ao jornal Marca. “Há uma falsa ideia sobre nós. Não há limitação para as mulheres no nosso país.”

Mulheres em cadeiras numeradas no estádio em Jiddah antes de Real Madrid x Valencia (Giuseppe Cacace – 8.jan.2020/AFP)

Para levar a Supercopa espanhola neste e nos dois próximos anos à Arábia Saudita, a RFEF receberá € 120 milhões (R$ 542 milhões).

Barcelona e Real Madrid asseguraram pela participação € 6 milhões (R$ 27 milhões) cada um, e Atlético e Valencia, a metade.

Os dois times que chegarem à final de domingo (12) receberão um extra de € 1 milhão cada um. O Real já assegurou o montante, pois na primeira semifinal, nesta quarta (8), diante de um público de mais de 40 mil pessoas no estádio King Abdullah, derrotou o Valencia por 3 a 1.

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