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Diabético, croata diz que na Colômbia o trataram como leproso

Nascido na Croácia e criado na Colômbia, tendo depois regressado ao país europeu, o meia Nicholas Llanos tinha um sonho: jogar em seu time de coração, o América de Cali.

Para concretizá-lo, decidiu em 2017 desligar-se do clube que defendia, o Hadjuk Split, um dos principais da Croácia (seis títulos nacionais, atrás apenas do Dínamo de Zagreb), para vestir a camisa do gigante colombiano (13 vezes campeão nacional, o terceiro maior vencedor no país).

Houve acordo com o América, que se interessou por seu futebol, e, conforme Llanos, hoje com 23 anos, reportou ao jornal espanhol Marca, ele acertou um contrato por três temporadas.

Contudo não levou muito tempo para o sonho passar a ter tons de pesadelo.

O ambidestro Llanos jamais entrou em campo pelo América em sua curta passagem, de três meses, pela América do Sul. Seu contrato foi rescindido.

O motivo: tem diabetes.

O que é o diabetes, ou a diabetes? (Tanto faz ser “o” ou “a”, pois é um substantivo de dois gêneros.)

Em síntese, uma doença que resulta na elevação da concentração de glicose no sangue, podendo ser do tipo 1 (o pâncreas não produz insulina, ou a produz em nível muito baixo) ou do tipo 2 (as células do corpo resistem à ação da insulina). A insulina é o hormônio responsável pela absorção celular de glicose sanguínea.

O diabetes atinge, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 422 milhões de pessoas, ou aproximadamente 5,5% da população da Terra.

O tratamento é feito com a administração de insulina ou o uso de outros medicamentos, a depender do caso.

Apesar de ser uma doença muito conhecida e que não oferece risco de contágio, Llanos relata que, quando se soube no clube que ele convivia com ela (do tipo 1), passou a ser marginalizado, em especial pelo treinador Hernán Torres, que dirigiu o América em 2016 e 2017. Passou a treinar separadamente do restante do grupo.

“Há uma ignorância das pessoas que convivem com os jogadores a respeito do diabetes. A palavra é esta: ignorância.  Passei no América em todos os exames físicos, mas devido à ignorância sobre essa enfermidade me trataram como se tivesse lepra”, declarou ele, comparado ao chegar à Colômbia ao compatriota Modric, do Real Madrid, eleito o melhor do mundo em 2018.

A lepra (ou hanseníase) é uma doença infectocontagiosa. Um dos sintomas são as manchas esbranquiçadas na pele.

Lannos declarou que a ignorância sobre o diabetes extrapola as fronteiras colombianas e resulta em preconceito.

“Agora nem as equipes da primeira divisão da Croácia estão interessadas em mim. Não importa se sou o melhor nos testes, o mais rápido ou se tenho boa técnica. Todos pensam que, por ter diabetes, não posso ser um esportista de elite. Não estou doente!”

O jogador afirma que controla o diabetes desde os 13 anos, de modo que não afete seu desempenho como futebolista, e faz um apelo.

“Quero que as pessoas do futebol saibam que, ao contratar um jogador como eu, não estão contratando um doente, mas alguém com uma história de superação. Nada é impossível se há ética no trabalho, perseverança e determinação.”

Depois de atuar na temporada 2018/2019 pelo Zadar, da segunda divisão croata (com dois gols em 12 jogos, um deles acima), Llanos pode ter nos próximos meses a oportunidade de atuar na elite de seu país, pelo Osijek.

Caberá ao clube, que disputa tanto a primeira divisão da Croácia como a segunda (com seu time B, o Osijek II), decidir onde utilizá-lo.

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